29 dezembro 2010

TOP 1986 - Entre Dois Amores

Seguindo a mesma linha dos dramalhões amanteigados que levaram a melhor nas premiações do Oscar na década de 80 (Gente Como a Gente, Carruagens de Fogo, Laços de Ternura), Entre Dois Amores, vencedor da estatueta de Melhor Filme em 1986, teve a infeliz pretensão de se tornar um clássico épico, posto que perdeu logo que a poeira do tapete vermelho daquele ano abaixou. Foram 11 indicações e sete premiações, entre elas Filme, Diretor, Roteiro, Fotografia e Som (injustamente, diga-se de passagem). Entre os indicados daquele ano estavam A Honra do Poderoso Prizzi (Prizzi’s Honor), Testemunha (Withness), o metade brasileiro metade americano O Beijo da Mulher Aranha (Kiss of The Spider Woman) e o melhor do ano (para mim) A Cor Púrpura (The Purple Color), de Steven Spielberg.

A história é baseada no romance autobiográfico da dinamarquesa Karen Blixen (ou Isak Dinesen, pseudônimo utilizado por ela), lançado em 1936, que conta a trajetória da escritora no Quênia no início do século XX, quando ela foi para o continente africano a fim de se casar com o primo Barão Bror Blixen-Finecke (Klaus Maria Brandauer), apenas para conquistar a posição de baronesa. O sentimento desnecessário de amor entre eles, aliado ao carinho especial que Karen passa a sentir pelo aventureiro Denys Finch Hatton (Robert Redford), é a receita perfeita para que a corajosa Karen deixe de viver um casamento de fachada e se jogue de corpo e alma nos braços de Denys.

Dois problemas surgem no caminho, entretanto: a protagonista pega sífilis do marido adúltero, tendo de voltar para a Dinamarca para se tratar e, logo após sua volta para a África, descobre que Denys não quer compromisso, abrindo mão de qualquer coisa para ter sua liberdade garantida. A situação piora ainda mais quando um terrível incêndio destrói a plantação de café de Karen (seu sustento) e uma parte da casa onde vive. Apesar de trágica, a vida da mulher que um dia foi delicada se transforma a partir do momento que ela conhece a África (com suas belezas naturais) e o amor de sua vida, mesmo que não seja correspondida.

Desde o início, o filme me lembrou muito o Austrália, com a Nicole Kidman e o Hugh Jackman, só que bem mais chato. Tirando seus méritos (fotografia, trilha sonora e interpretação), Entre Dois Amores peca ao ser longo (e lento) demais e ter no roteiro uma história que parece se orgulhar de ser muito complexa (muitas reviravoltas nas vidas do personagem sem uma liga eficiente), o que na verdade prejudica o ritmo do longa. Como já disse, as atuações de Robert Redford e Meryl Streep (mais uma vez) estão deslumbrantes. Eles conseguem transparecer a paixão que aos poucos surge no casal de amor proibido, convencendo que o amor pode existir, mesmo que para isso duas pessoas completamente diferentes tenham que enfrentar os limites do sentimento.

A fotografia (toda ambientada nas paisagens africanas do Quênia) é deslumbrante, mostrando a aridez e a magia do continente africano, principalmente nas cenas aéreas e nos ataques dos leões (que inclusive dão um pique a maçante história). Por sua vez, a trilha sonora se alia a fotografia para preencher o sentido que o longa se propõe a oferecer ao espectador, gerando uma história bonita, comovente, mas difícil de engolir nos dias atuais. Obs: A tradução do título original é uma das piores que eu já vi.


OBS: Nessa sexta-feira não haverá 1/3 ESTREIA devido ao Reveillon. Volto com o projeto na segunda, dia 3 de janeiro. Agradeço a todos os meus seguidores e amigos que me acompanharam em 2010, peço desculpas por às vezes ser ingrato e não visitar os blogs parceiros por um longo tempo e desejo que o ano que se aproxima seja especial para todos nós. Feliz 2011!

ENTRE DOIS AMORES (OUT OF AFRICA)
LANÇAMENTO: 1985 (EUA)
DIREÇÃO: SYDNEY POLLACK
GÊNERO: DRAMA/ BIOGRAFIA
NOTA: 7,5

28 dezembro 2010

TOP 1985 - Amadeus

Vida e obra de um dos maiores compositores clássicos ocidentais de todos os tempos são retratadas no filme vencedor do Oscar de 1985. O talento complexo de Wolfgang Amadeus Mozart é contado (ficcionalmente) por meio de um dos maiores fãs e inimigos que o músico teve em sua breve vida (ele morreu misteriosamente aos 35 anos de idade em 1791).

O filme começa com o regente da corte real do império austríaco Antônio Salieri (F. Murray Abraham) que, após ser internado num hospício por tentativa de suicídio, decide revelar para um padre que o vai visitar que foi o responsável pelo assassinato de Mozart. A partir daí, começa a narrar, em estilo flashback, a relação que teve com Amadeus, desde o momento em que o conheceu, o processo de evolução de sua inveja, a fase de ódio que nutriu pelo músico, até o momento em que finalmente se viu livre da competição injusta que travavam, uma vez que Salieri admitia que não havia sido agraciado por Deus pelo talento que Ele reservou para Mozart.

É a primeira vez que assisto uma cinebiografia (mesmo que infiel) que, primeiro, fosse baseada nas memórias de um inimigo do biografado e, segundo, que invertesse a importância dos personagens, dando maior ênfase a um suposto coadjuvante do que no verdadeiro protagonista. Parece que Mozart só é importante no longa para dar sentido ao estudo psicológico de Salieri que o espectador é convidado a fazer. Para tanto, o tempo dramático é constantemente intercalado entre presente (depoimento de Salieri idoso) e passado, sem, entretanto, comprometer o ritmo da obra, que em nenhum momento é cansativa, apesar de possuir mais de três horas de duração.

A principal crítica de Salieri a Mozart (interpretado muito bem por Tom Hulce) é a de que o músico era irresponsável demais para merecer de Deus tamanho talento. Realmente, como já apontado por alguns historiadores, o comportamento de Wolfgang não era dos mais exemplares, uma vez que ele não sabia como administrar seu dinheiro, passando vários perrengues durante a vida (mesmo tendo ganhado muita grana) e bebia muito. Apesar de odiar seu rival por conta dessas características, ficava completamente fascinado quando ouvia suas composições, tendo profunda admiração pelas notas perfeitas do compositor.

A ascensão de Mozart se dá por meio dos planos frustrados de Salieri para tentar derrubá-lo. A partir do momento em que o músico se muda de Salzburgo para Viena (a fim de tentar decolar sua carreira ficando mais perto do centro cultural da Áustria), seu nome passa a ser conhecido em toda a Europa, tornando-se símbolo de qualidade e despertando a atenção de talentos ofuscados pela genialidade de Mozart, como o de Salieri, que passa a investigar a vida do músico prodígio e a querer desbancá-lo. O imperador Joseph II (Jeffrey Jones), no entanto, gosta do estilo inovador de Wolfgang, alterando antigos preceitos e tradições do império para dar liberdade criativa para seu queridinho, o que deixa descontentes os membros da liga contra-Mozart.

Por meio de uma narrativa não-convencional, Amadeus é uma obra-prima da boa cinematografia americana, contando com uma das mais belas e bem utilizadas trilhas sonoras que eu já ouvi. Além da qualidade indiscutível das composições de Mozart (que preenchem todo o filme), as canções acompanham as emoções dos personagens, encaixando-se perfeitamente na montagem das cenas.

Além da trilha sonora, a fotografia está deslumbrante, mostrando uma Viena do século XVIII fiel a realidade. Para completar, as atuações são perfeitas (com destaque para F. Murray Abraham, que inclusive ganhou o prêmio de Melhor Ator naquele ano) e concisas, garantindo que um filme que tem três horas de duração e como base a música clássica se torne um dos mais cativantes de todos os tempos. Imperdível!

O trabalho do diretor Milos Forman foi o responsável pelas oito estatuetas conquistadas por Amadeus em 1985 (quase conseguindo a proeza de levar os cinco principais prêmios do Oscar – Filme, Diretor, Roteiro, Ator e Atriz – assim como o fez em Um Estranho no Ninho, em 1976). Naquele ano, ainda concorreram à estatueta de Melhor Filme mais quatro produções: A História de um Soldado (A Soldier’s Story), Os Gritos do Silêncio (The Killing Fields), Passagem para a Índia (A Passage to Índia, último filme de David Lean) e Um Lugar no Coração (Places in The Heart, segundo filme de Robert Benton, depois do sucesso Kramer vs. Kramer).

AMADEUS
LANÇAMENTO: 1984 (EUA)
DIREÇÃO: MILOS FORMAN
GÊNERO: DRAMA/ MUSICAL
NOTA: 9,5

24 dezembro 2010

1/3 ESTREIA - 72 Horas

Depois do remake insosso de Robin Hood lançado no início desse ano, Russell Crowe volta às telonas na pele do professor John Brennan. Na trama, ele corre perigo em nome do amor que sente por sua esposa Lara (Elisabeth Banks) ao arquitetar uma fuga da cadeia onde ela está presa aparentemente injustamente. O título do filme se refere às 72 horas que tem John tem disponíveis para sair dos limites da cidade sem que seja capturado pela polícia dos Estados Unidos.

Até agora vi apenas o trailer, que me pareceu bem típico dos filmes de ação que a Globo não cansa de exibir em suas sessões. Apesar dessa impressão, a divulgação do longa é de que é uma produção de suspense. Parece que o filme não teve uma boa repercussão nas salas de cinema americanas e, além disso, está sendo lançado no fim de semana do Natal aqui no Brasil (mais um sinal de que não está sendo olhado com bons olhos pelas distribuidoras).

72 HORAS (THE NEXT THREE DAYS)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: PAUL HAGGIS
GÊNERO: SUSPENSE
VONTADE: 8,5


Além do destaque, os seguintes filmes dividem a atenção com a chegada do Papai Noel:

O MUNDO ENCANTADO DE GIGI (Yona Yona Penguin) Japão, 2009. Direção: Rintaro. Gênero: Animação. Elenco:Ei MOrisako (voz), Satoshi Kanada (voz), Rica Matsumoto (voz).
VONTADE: 2,0

AMOR POR CONTRATO (The Joneses) EUA, 2009. Direção: Derrick Borte. Gênero: Romance. Elenco: David Duchovny, Demi Moore, Ben Hollingsworth, Amber Heard, Gary Cole e Lauren Hutton.
VONTADE: 5,0

O BOM CORAÇÃO (The Good Heart) EUA, 2009. Direção: Dagur Kari. Gênero: Drama. Elenco: Paul Dano, Brian Cox, Isild Le Besco.
VONTADE: 4,0

O CONCERTO (The Concert) Romênia, 2009. Direção: Radu Mihaileanu. Drama. Elenco: Aleksei Guskov, Dmitri Nazarov, Mélanie Laurent.
VONTADE: 0


Até a próxima sexta com o último 1/3 ESTREIA do ano. À todos meus seguidores e amigos um Feliz Natal e que 2011 venha com muitas sessões de cinema.

23 dezembro 2010

TOP 1984 - Laços de Ternura

Dentre os indicados a Melhor Filme na premiação do Oscar de 1984, não há grandes sucessos de público ou crítica. Parece-me que foi um ano que não rendeu muitas produções de qualidade para a cinematografia americana. O vencedor, Laços de Ternura, ganhou a disputa concorrendo com A Força do Carinho (Tender Mercies), Os Eleitos (The Right Stuff), O Fiel Camareiro (The Dresser) e O Reencontro (The Big Chill).

Para conseguir tal feito, o diretor e roteirista James L. Brooks lançou mão de um dramalhão novelístico de muita qualidade, que explora diversas vertentes da relação tempestuosa entre uma mãe superprotetora e sua filha rebelde. Shirley MacLaine interpreta a durona Aurora Greenway, viúva que teve de cuidar sozinha da filha após a morte do marido, abstendo-se de outras prioridades que não fossem o bem estar de Emma (Debra Winger).

Quando conhece o astronauta aposentado Garrett Breedlove (Jack Nicholson), que é seu vizinho, Aurora percebe que um novo relacionamento pode dar certo, mesmo que o comportamento displicente e promíscuo de Breedlove conflite com a resignação careta de Aurora. Ao mesmo tempo em que a mãe vive a dúvida amorosa, Emma também vive um dilema em Des Moines, no Iowa (cidade para a qual se muda com a marido [inimigo de Aurora] a fim de fugir das neuras da mãe).

Após descobrir as traições do marido (Flap Horton, interpretado por Jeff Daniels), Emma passa a traí-lo também com o gerente do banco da cidade. O casal está em frangalhos, ainda mais com os filhos não-planejados, que não param de nascer (já são três no total). Para deixar ainda mais complexa a trama, Emma descobre ter câncer (talvez um dos primeiros filmes a retratar o assunto). A doença funciona como uma espécie de fator reconciliador na relação entre mãe e filha, uma vez que faz com que Aurora volte a ver Emma como aquela bebezinha que há anos atrás cuidava como se fosse uma jóia rara.

As interpretações são extremamente excelentes, o que garantiu a Shirley MacLaine o prêmio de Melhor Atriz, a Jack Nicholson o de Melhor Ator Coadjuvante, a John Lithgow uma indicação a Melhor Ator Coadjuvante e a Debra Winger a indicação à Melhor Atriz. Para quem gosta de chorar em filmes, Laços de Ternura é a pedida perfeita, pois estão todos super emocionantes em seus papéis (não apelando, felizmente, para um estilo à la novelas mexicanas).

Com um roteiro e uma direção impecáveis, Laços de Ternura consegue cativar pela proximidade com temas polêmicos, como o adultério, o aborto, o amor na terceira idade, o cancêr, mas se perde no entrelaçamento desses assuntos, tornando-se confuso e diversificado demais às vezes. É uma prova absoluta de que as novelas podem ser produtos de qualidade indiscutível. O problema é que quiseram fazer caber uma novela inteira em duas horas de exibição.

LAÇOS DE TERNURA (TERMS OF ENDEARMENT)
LANÇAMENTO: 1983 (EUA)
DIREÇÃO: JAMES L. BROOKS
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 8,5

22 dezembro 2010

TOP 1983 - Gandhi

Nas mais de três horas em que assisti o filme vencedor do Oscar de 1983 não vi o tempo passar. Esse é um dos critérios para que eu balize a qualidade de uma produção. No caso de Gandhi, cinebiografia do líder político e espiritual do povo indiano, o preciosismo da obra, em praticamente todos os seus aspectos, garantiu com que eu despendesse os 188 minutos em frente à TV sem que me desse conta de que todo aquele tempo havia passado (capacidade exclusiva do cinema de qualidade).

Mais uma vez vê-se a receita padrão dos roteiros biográficos: a trama se baseia na contação da história da vida do protagonista a partir de flashbacks posteriores a uma cena da velhice ou da morte do biografado. Após vermos o assassinato de Gandhi em meio a uma multidão de fiéis (na década de 50), somos transportados para o fim do século XIX, quando da viagem do então advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi pela África do Sul, e a percepção de que seu povo, colonizado pela coroa britânica na época, era reprimido e visto como inferior pelos colonizadores. Começa aí a extensa e vitalícia luta de Gandhi pelos direitos humanos e pela igualdade religiosa, racial e étnica dos indianos.

Mais de 50 anos de sua vida são retratados, sem que a história se torne episódica ou cansativa. O diretor Richard Attenborough consegue ser sutil nas passagens de tempo, trabalhando em total sintonia com as outras áreas da equipe de produção. O contexto histórico é constantemente alterado (devido ao tempo dramático que se passa no roteiro) e temos a real impressão de que tudo mudou, mesmo sabendo que o fenômeno nada mais é do que fruto de um belo trabalho de equipe, composta por experts na maquiagem, figurino, fotografia, direção de elenco etc.

O segundo ato do filme mostra a volta de Gandhi à Índia e a decisão de lutar junto com seu povo pela emancipação da nação. Suas palavras de acalento, esperança e paz durante os inúmeros discursos persuadiram os indianos a lutar sem armas, a não reagir, a impressionar os tiranos ingleses com gestos de paciência e paz diante das agressões. A principal arma de luta contra a opressão defendida por Gandhi era a serenidade e a persistência.

Todo o país foi conquistado pelo carisma de Mahatma (nome pelo qual passou a ser chamado, significando “A Grande Alma”, em sânscrito). Seus ideais de uma revolução pacífica conquistaram não apenas a população da Índia, mas uma legião de seguidores pelo mundo todo, tornando o homem franzino e de pequena estatura numa das figuras mais importantes que já passaram pelo Planeta Terra no último século.

A força interna de Gandhi e sua persistência pela liberdade do país condicionadas a manutenção da premissa da paz levaram a Índia a independência, mas, em contrapartida, causaram uma segregação interna, dividindo o país entre hindus e muçulmanos, que posteriormente criaram o Paquistão. O terceiro e último ato do longa mostra o esforço de Gandhi, já idoso, para acabar com a desigualdade religiosa dentro do território indiano (através de greves de fome) e seu assassinato (que já declaro ser por motivos fúteis).

O grande destaque do filme fica por conta da atuação mais que fenomenal de Ben Kingsley, que inclusive levou a estatueta de Melhor Ator para casa naquele ano. Quem não conhecia a história de Gandhi (como eu) passa a confiar que o verdadeiro Mahatma foi em vida exatamente como a atuação de Kingsley aponta. Ele consegue medir a sabedoria e a ironia necessárias ao personagem de maneira equilibrada e assustadoramente convincente. Além do elenco, dou destaque para a trilha sonora, obviamente típica da Índia, que permeia a vida de Gandhi e consegue ilustrar cada fase perfeitamente, através de acordes e ritmos que dizem muito do momento do personagem. Para finalizar, gostaria de chamar a atenção para a cena do fuzilamento dos indianos, episódio verídico que matou milhares de habitantes, numa ofensiva inglesa inesperada e estúpida. Trecho de arrepiar.

Naquele mesmo ano, ainda concorreram ao posto de Melhor Filme mais 4 produções. São elas: O Veredito (The Veredict), Tootsie, Desaparecido – Um Grande Mistério (Missing) e E.T. – O Extraterrestre (E.T. The Extra-Terrestrial), este último grande aposta do Oscar, mas derrotado (justamente) por Gandhi.


GANDHI
LANÇAMENTO: 1982 (ÍNDIA/ REINO UNIDO)
DIREÇÃO: RICHARD ATTENBOROUGH
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,6

20 dezembro 2010

TOP 1982 - Carruagens de Fogo

O nacionalismo (por vezes exacerbado) dos britânicos é quase sempre vangloriado pelas produções cinematográficas realizadas por lá, num esquema de auto-afirmação extremamente ufanista. Em 1982 parece que até a Academia de Cinema de Hollywood aprovou o patriotismo dos companheiros de idioma, premiando Carruagens de Fogo com a estatueta de Melhor Filme do ano. Além de símbolo do amor à pátria, o longa funciona como incentivador dos esportes, uma vez que retrata a história real de Harold Abrahams (Ben Cross) e Eric Liddell (Ian Charleson), dois corredores que representaram a Inglaterra nas Olimpíadas de 1924.

Assim como a maioria das cinebiografias, a trama é contada em flashback, a partir da cena do funeral do último dos atletas que competiram na fatídica década de 20. A partir daí, acompanhamos paralelamente a vida e a carreira de Harold e Eric. Harold é universitário de Cambridge, judeu (numa sociedade pós-Guerra de maioria cristã) e amante da velocidade pela notoriedade que ela pode trazer e para fugir do preconceito que sofre no meio acadêmico. Já Eric vem da Escócia e é um missionário evangélico devoto que acredita que é designado por Deus para correr e tem essa aptidão graças à obra divina.

Os dois não se conhecem pessoalmente, mas treinam para que possam competir entre si nos Jogos Olímpicos de Paris, devido ao grande talento que eles têm (cada um na sua especialidade) e que a imprensa ajuda a disseminar por toda a Grã-Bretanha. O filme, no entanto, não se resume a apenas mostrar treinos para as competições, mas também retrata sentimentos como a insegurança, o medo, a confiança, a determinação, a superação, enfim, é mais profundo do que simplesmente um filme que hoje possa ser usado para aulas de educação física do Ensino Fundamental.

A trilha sonora é bem utilizada, principalmente em se tratando da música principal, criação de Vangelis, que é lembrada sem muito esforço por todos até os dias atuais. As interpretações não são nada excepcionais, talvez pelo fato de que praticamente todo o elenco é estreante, o que torna difícil qualquer exigência qualitativa. A fotografia é linda, passando por três locações deslumbrantes (Londres, campos da Escócia e Paris), ainda mais na década de oitenta, quando a tecnologia de captação de imagens para o cinema já estava bem evoluída.

A produção é super agradável de se ver, deve ser conferida por todos os cinéfilos, mas não é indispensável. É o típico de longa que não envelheceu bem por ser muito datada e com o tempo se tornar clichê. Sendo assim, seria justo que perdesse o maior prêmio do Oscar para um dos outros candidatos, que por sinal, eram bem melhores que o vencedor. São eles: Num Lago Dourado (On Golden Pond), Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders os The Lost Ark), Atlantic City e Reds.

CARRUAGENS DE FOGO (CHARIOTS OF FIRE)
LANÇAMENTO: 1981 (REINO UNIDO)
DIREÇÃO: HUGH HUDSON
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 6,5

19 dezembro 2010

TOP 1981 - Gente Como a Gente

Gente Como a Gente, vencedor do Oscar na premiação de 1981, já diz a que veio desde o título: trata do drama de uma família de classe média americana que tem de superar a morte por afogamento do primogênito ocorrida há um ano, além de enfrentar as conseqüências da tentativa de suicídio de Jarrett (Timothy Hutton), o filho mais novo, que se sente culpado pela morte do irmão e renegado pela mãe, que aparentemente não consegue amá-lo. Os pais são interpretados por Donald Sutherland (Calvin Jarrett) e Mary Tyler Moore (Beth Jarrett), em atuações concisas e convincentes.

A grande crítica (negativa) à produção é que, naquele ano, ela conseguiu bater (sem merecer) dois clássicos absolutos da cinematografia mundial: Touro Indomável (Raging Bull), considerada por alguns a obra-prima de Martin Scorsese, e O Homem Elefante (The Elephant Man), um dos melhores filmes de David Linch. Além destes dois concorrentes, disputavam a categoria de Melhor Filme os longas Tess - Uma Lição de Vida (Tess) e O Destino Mudou Sua Vida (Coal Miner's Daughter).

O drama familiar que o diretor estreante Robert Redford apresenta em Gente Como a Gente é mais complexo do que parece no início da película e vem para comprovar a premissa central do longa: a de que qualquer um de nós pode passar por problemas como os enfrentados pela família dos protagonistas. A relação mais evidenciada pelo desenrolar dos fatos do roteiro é a da mãe e do filho, prejudicada após a morte de Bucky, e intermediada pela neutralidade do pai, que tenta se isentar de qualquer posicionemento em favor de um dos lados.

Como forma de sistematizar os conflitos vividos pelos protagonistas entra em ação o Dr. Tyrone C. Berger (Judd Hirsch), psiquiatra que já havia acompanhado Jarrett nos quatro meses em que ficou no hospital (após a tentativa de suicídio) e agora funciona como uma espécie de norte para o comportamento de toda a família. É por meio das cenas da terapia do protagonista que conseguimos entender todos os trâmites que envolvem os problemas existenciais internos de Jarrett e os conflitos familiares.

A trilha sonora é tímida, mas evidencia a tensão criada ao longo da história entre os membros da família. O destaque, no entanto, fica por conta da interpretação do elenco, que dá um show de comoção e veracidade, principalmente em se tratando de Timothy Hutton, então com 20 anos, que levou a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante naquele ano. Apesar de todas as qualidades, Gente Como a Gente é apenas mais um dentre todos os centenas de dramas familiares existentes. Foi realmente injusto ter ultrapassado a qualidade (na opinião da Academia) de O Touro Indomável e do Homem Elefante.

GENTE COMO A GENTE (ORDINARY PEOPLE)
LANÇAMENTO: 1980 (EUA)
DIREÇÃO: ROBERT REDFORD
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 7,0

17 dezembro 2010

1/3 ESTREIA - Tron - O Legado

Na antepenúltima sexta do ano, os lançamentos já começam a esfriar e as apostas de grandes estréias são quase que descartadas. Hoje, algumas produções bem meia-bocas dividem espaço com “Tron – O Legado”, continuação da ficção científica oitentista esquecida pela maioria das pessoas. Em 1982, quando do lançamento deste que seria o primeiro longa no qual a tecnologia de efeitos especiais foi amplamente utilizada (inclusive em cenas totalmente virtuais), a crítica apontou como negativa a fragilidade do roteiro, em contraposição a exuberância da técnica (talvez o único motivo para que a história existisse e fosse rodada).

28 anos se passaram e parece que a qualidade continua sendo relegada apenas ao núcleo técnico na nova produção da Disney, uma vez que o roteiro, segundo os críticos que já viram “Tron – O Legado” no cinema, é fraco. A história acompanha a saga de Sam Flynn (Garrett Hedlund) em busca do pai Kevin Flynn (Jeff Bridges), protagonista do longa original dos anos oitenta, que está perdido em “Grid”, o mundo digital luminoso que o progenitor havia descoberto há mais de vinte anos. Tomara que a imaginativa história cause, pelo menos, a mesma sensação de deslumbramento pelos efeitos especiais que Avatar causou em mim no final do ano passado.

TRON – O LEGADO (TRON LEGACY)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: JOSEPH KOSINSKI
GÊNERO: FICÇÃO CIENTÍFICA
VONTADE: 8,0

Para completar os lançamentos da desastrosa semana, ainda entram em cartaz:

APARECIDA, O MILAGRE. Brasil, 2010. Direção: Tizuka Yamazaki. Gênero: Drama. Elenco: Murilo Rosa, Maria Fernanda Candido, Jonatas Faro.
VONTADE: 0

UM HOMEM QUE GRITA (Un Homme qui Crie) França/ Bélgica/ Chade, 2010. Direção: Mahamat-Saleh Haroun. Gênero: Drama. Elenco: Youssouf Djaoro, Dioucounda Koma, Emile Abossolo M'bo.
VONTADE: 6,0

MEU MUNDO EM PERIGO. Brasil, 2007. Direção: José Eduardo Belmonte. Gênero: Drama. Elenco: Patti Smith, Alain Badiou, Catherine Tanvier, Nadege Beausson-Diagne.
VONTADE: 5,0

UM QUARTO EM ROMA (Habitación en Roma) Espanha, 2010. Direção: Julio Medem. Gênero: Drama. Elenco: Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso.
VONTADE: 7,0

Até semana que vem com mais novidades!

15 dezembro 2010

TOP 1980 - Kramer vs. Kramer

O Supercine (Rede Globo, sábados, 23h) adora exibir filmes que contenham dramas familiares pesados, muita choradeira, brigas de tribunal, luta pela guarda dos filhos etc. O que torna esses longas desinteressantes, no entanto, é a forma estereotipada e antiquada como são tratados os personagens. Mesmo já estando banalizados, esses assuntos continuam sendo cerne de muitos roteiros, que acabam se tornando repetitivos e clichês. O filme vencedor do Oscar de 1980 consegue ultrapassar esses estereótipos, sendo um dos melhores que ganharam na categoria nos 52 anos de premiação.

Kramer vs. Kramer tem dois méritos: ser o pioneiro ao retratar a desestruturação da família tradicional, que já dava sinais de enfraquecimento no final da década de setenta e contar com um elenco de tirar o fôlego. Meryl Streep e Dustin Hoffmann dão vida a Ted e Joanna Kramer, um casal que aparentemente não tinha problemas na relação, até o momento inesperado em que Joanna anuncia sua saída de casa. Ted agora tem a missão de cuidar sozinho do filho do casal, Billy Kramer (em interpretação estrondosa de Justin Henry, então com sete anos – ele foi, até hoje, o concorrente mais novo a um prêmio no Oscar – concorreu a Ator Coadjuvante) e entender o porquê do abandono da esposa.

Aos poucos, ele compreende os motivos de Joanna, ao se dar conta que durante todos os anos do casamento não deu atenção à família, preocupando-se apenas com o crescimento da carreira como designer. O diretor Robert Benton critica a ausência do pai nas relações familiares sem, no entanto, afirmar que isso foi justificativa suficiente para a mãe deixar marido e filho. O fato é que Ted tem uma nova chance de se redimir com Billy, o que faz com maestria. Durante os dois anos que passam sozinhos, pai e filho aprendem a se amar, construindo uma relação afetuosa e respeitosa. Acontece que após esse tempo Joanna decide que está pronta para cuidar do filho novamente, volta para Nova Iorque e se inicia uma briga judicial pela tutela de Billy, que sofre com a pendenga dos pais.

Se o filme fosse produzido nos dias atuais, sobreviveria apenas pela interpretação dos protagonistas, que dão o máximo de talento, merecendo por isso as premiações de Melhor Ator (Hoffmann) e Melhor Atriz Coadjuvante (Streep). O roteiro, infelizmente, é datado, uma vez que hoje em dia não é surpresa para ninguém que um pai cuide de um filho sozinho, enquanto a mãe vive sua própria vida. Uma situação dessas naquela época, além de interferir na vida profissional do patriarca (que vivia numa sociedade de crescente capitalismo e um Estados Unidos que prometia sucesso e dinheiro fácil no futuro), poderia instigar qualquer tipo de dúvida quanto sua masculinidade, sendo que trinta anos atrás o machismo ainda era predominante, inclusive na mídia (afinal, cuidar de casa e filhos era coisa de mulher né?)

É muito difícil encontrar algum ponto negativo no filme. O roteiro é muito bem amarrado, os diálogos dão conteúdo à trama e à interpretação soberba dos personagens, a trilha sonora é deslumbrante (dedilhados country de violão preenchem toda a história), a fotografia mostra o centro moderno de Nova Iorque com seus inúmeros arranha-céus, luzes e concreto, além das cenas de tribunal, que eu sempre adorei (quando bem feitas, como nesse caso).

Duas curiosidades me fazem gostar mais ainda de Kramer vs. Kramer: Meryl Streep foi a terceira cotada para fazer o papel de Joanna Kramer. Antes dela, Kate Jackson e Jane Fonda recusaram o trabalho por estarem ocupadas com outras obras (ainda bem!). Além disso, Dustin Hoffmann havia acabado de se separar, contribuindo com vários dos diálogos que vemos entre ele e a esposa e o filho. Eu li que o diretor insistiu para que o nome dele entrasse como co-roteirista nos créditos, mas ele não quis.

Naquele mesmo ano, mais quatro longas concorreram ao prêmio de Melhor Filme. São eles: O Show Deve Continuar (All That Jazz), Norma Rae, O Vencedor (Breaking Away) e o maravilhoso Apocalipse Now (o maior dos injustiçados pela Academia, segundo a opinião de alguns críticos. Para mim (que prefiro dramas comportamentais a filmes de guerra, achei justa a premiação, mesmo admitindo que o filme de Coppola é um dos melhores dentro da sua proposta).

KRAMER VS. KRAMER
LANÇAMENTO: 1979 (EUA)
DIREÇÃO: ROBERT BENTON
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,5

14 dezembro 2010

TOP 1979 - O Franco Atirador

Desde a década de vinte, quando do início das premiações do Oscar, a Academia sempre teve um apreço pelos filmes de guerra, principalmente por aqueles que repudiam as conseqüências não apenas físicas, mas também emocionais que os conflitos bélicos causam nos combatentes. Sempre que entre os candidatos a Melhor Filme de determinado ano está presente um longa pacifista, este já começa a disputa com alguma vantagem apenas por ser o que é. Em 1979 não foi diferente, uma vez que O Franco Atirador veio para confortar os ânimos de quem sofreu (e olha que foi muita gente) com a Guerra do Vietnã, há pouco finalizada.

A história se baseia na amizade entre Michael Vronsky (Robert De Niro), Nick Chevotarevich (Christopher Walken) e Steven (John Savage), imigrantes russos que vão para o Vietnã representar os Estados Unidos na guerra. Em trabalho de mestre do diretor Michael Cimino, a trama se passa em três atos: antes da guerra (casamento de Steven, caçadas entre amigos, flertes entre Michael e a namorada de Nick, Linda (Meryl Streep), durante a Guerra (prisão dos três personagens, tortura no cativeiro) e depois da guerra (volta pra casa e busca pela adaptação social diante das mudanças). A principal sacada do roteiro é relacionar as caçadas aos cervos (que deu nome ao filme [no original The Deer Hunter]) com a tortura psicológica gerada pela roleta russa nos campos vietnamitas. Michael tinha o costume de matar suas presas nos EUA com apenas um tiro (era uma espécie de convicção). Agora no país desconhecido tinha igualmente apenas um tiro para sobreviver ou morrer.

Por falar nisso, o ponto alto da interpretação dos personagens está nos momentos em que eles têm de enfrentar as armas e puxar o gatilho contra a cabeça, sem ao menos ter certeza se elas dispararão ou não. A pressão é tamanha que transpassa a tela e chega aos espectadores, que se vêem ali, no lugar dos acossados personagens. O tabalho é tão bem feito que Christopher Walken levou para casa a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante e Robert De Niro concorreu a Melhor Ator. Não podia deixar de mencionar o trabalho sempre consistente de Meryl Streep, que interpreta com perfeição a angustiada Linda, dividida entre o amor de Nick, seu atual namorado, e Michael, com quem vive um romance platônico (ela também concorreu ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante naquele ano).

As vidas de todos os protagonistas, e de quem convivia com eles na pequena cidade americana que serve de locação para o primeiro e terceiro atos, é alterada profundamente após conviverem com os horrores da guerra, tanto no que diz respeito às conseqüências físicas quando morais e emocionais. Mesmo que o assunto seja super recorrente, o povo americano precisa desse reforço ficcional para manter sua confiança nacionalista e fazer com que as novas gerações continuem acreditando na força do país e na necessidade de defendê-lo sem, no entanto, recorrer a guerras para isso.

Naquele mesmo ano, ainda concorreram ao posto de Melhor Filme os longas: Uma Mulher Descasada (Unmarried Woman), Amargo Regresso (Coming Home), O Céu Pode Esperar (Heaven Can Wait) e O Expresso da Meia Noite (Midnight Express).

O FRANCO ATIRADOR (THE DEER HUNTER)
LANÇAMENTO: 1978 (EUA)
DIREÇÃO: MICHAEL CIMINO
GÊNERO: DRAMA/ GUERRA
NOTA: 8,0

10 dezembro 2010

1/3 ESTREIA - Enterrado Vivo

Esta sexta-feira está repleta de bons lançamentos. É o típico fim de semana que nos deixa na dúvida sobre por qual sessão gastar tempo (e dinheiro). Além da nova produção de Francis Ford Coppola, do mais novo terror de Wes Craven e da terceira parte da aventura As Crônicas de Nárnia, dedico o 1/3 ESTREIA de hoje para comentar Enterrado Vivo, primeira obra do espanhol Rodrigo Cortés, que promete muita aflição e angústia aos claustrofóbicos de plantão, indo na mesma trilha do excelente Por um Fio.

A história toda se passa dentro de um caixão com Ryan Reynolds como o único personagem da trama. Ele interpreta Paul Conroy, um motorista americano que presta serviços no Iraque e, repentinamente, acorda enterrado vivo a sete palmos do chão. Munido apenas de um celular e um isqueiro, tem noventa minutos para lutar contra a morte iminente. Segundo especulações, Reynolds consegue mostrar no longa que não é apenas um abdômen definido, mantendo uma interpretação firme e convincente durante toda a produção.

ENTERRADO VIVO (BURIED)
LANÇAMENTO: 2010 (ESPANHA/ EUA/ FRANÇA)
DIREÇÃO: RODRIGO CORTÉS
GÊNERO: SUSPENSE
VONTADE: 10,0

E não para por aí. Confira abaixo as outras sete estreias que chegam hoje aos cinemas brasileiros:

TETRO (Tetro) Espanha/ Itália/ Argentina, 2009. Direção: Francis Ford Coppola. Gênero: Drama. Elenco: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú, Klaus Maria Brandauer, Carmen Maura.
VONTADE: 10,0

MACHETE (Machete) EUA, 2010. Direção: Robert Rodriguez/ Ethan Maniquis. Gênero: Ação. Elenco: Danny Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Steven Seagal, Robert De Niro, Jeff Fahey, Lindsay Lohan, Don Johnson, Cheech Marin, Nimród Antal, Daryl Sabara.
VONTADE: 10,0

A SÉTIMA ALMA (My Soul To Take) EUA, 2010. Direção: Wes Craven. Gênero: Terror. Elenco: Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker, Nick Lashaway, Zena Grey, Nick Lashaway, Paulina Olszynski, Jeremy Chu, Emily Meade, Raúl Esparza, Jessica Hecht.
VONTADE: 10,0

AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: A VIAGEM DO PEREGRINO DA ALVORADA (The Chronicles of Narnia: The Voyage of The Dawn Treader) Reino Unido, 2010. Direção: Michael Apted. Gênero: Fantasia/ Aventura. Elenco: Georgie Henley, Skandar Keynes, Ben Barnes, Will Poulter, Gary Sweet, Terry Norris, Bille Brown.
VONTADE: 8,0

MEU MUNDO EM PERIGO. Brasil, 2007. Direção: José Eduardo Belmonte. Gênero: Drama. Elenco: Patti Smith, Alain Badiou, Catherine Tanvier, Nadege Beausson-Diagne.
VONTADE: 0

AMOR POR ACASO (Bed & Breakfast) Brasil/ EUA, 2010. Direção: Márcio Garcia. Gênero: Comédia/ Romance. Elenco: Juliana Paes, Dean Cain, Rodrigo Lombardi, Julian Stone, Eric Roberts, John Savage.
VONTADE: 7,0

O CIÚME MORA AO LADO (Haarautuvan Rakkauden Talo) Finlândia, 2009. Direção: Mika Kaurismaki. Gênero: Comédia. Elenco: Hannu-Pekka Björkman, Elina Knihtilä, Antti Reini.
VONTADE: 3,0

E na próxima semana volto com mais novidades. Curtindo uma bad por Enterrado Vivo não estar em cartaz na minha cidade....frustrado!
Até!

09 dezembro 2010

TOP 1978 - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

As comédias, geralmente ignoradas pela Academia, ganharam uma injeção de ânimo quando, em 1978, Woody Allen mostrou que o gênero tinha capacidade de ser valorizado com a produção Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, vencedor do prêmio de Melhor Filme no Oscar daquele ano. O renomado diretor, que continua na ativa até os dias atuais (e inclusive está lançando seu mais recente trabalho: Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos), estava no início da carreira, mas já imprimia em suas obras a verve intelectualmente bem humorada, autobiográfica, psicanalítica-comportamental, dialógica e extremamente verborrágica.

Além de todas essas características quase que incompreensíveis diante do desconhecimento de sua obra, Allen alia o preciosismo fílmico com a qualidade técnica, lançando mão de inúmeros recursos que inovam o cinema americano e permitem ao espectador novas visões sobre uma receita já desgastada pelo classicismo da maioria dos cineastas até então. A utilização da inserção do personagem na dimensão do receptor (o protagonista fala por vários momentos dirigindo seu olhar para a câmera, como se conversasse com o espectador) é um artifício assumidamente Alleniano, funcionando como uma espécie de auter-ego do próprio diretor, uma vez que ele quase sempre é roteirista de seus filmes, o que faz com que suas aspirações pessoais transcendam o papel (ainda mais nesse caso, em que Woody é também o ator principal da história).

Outros recursos técnicos inovadores no filme são: o uso da técnica de split-screen (a tela é dividida no meio e duas cenas, em tempos dramáticos distintos, ocorrem simultaneamente e “dialogam” entre si, diálogo este baseado em alguma referência de comparação); a utilização de efeitos especiais para caricaturizar os próprios personagens, numa tentativa de explicar melhor certo comportamento; flash-backs em que há a presença dos protagonistas na forma de lembrança onisciente (ou onipresente); e diversas interrupções de sequências lógicas (diálogos, geralmente), a fim de aumentar no espectador a sensação de fragmentação pela qual o relacionamento dos protagonistas passa.

Por falar neles, Alvy Singer (Woody Allen) é um comediante fracassado e pessimista com a vida que encontra em Annie Hall (Diane Keaton, Melhor Atriz – Oscar 1978) um motivo para se inspirar. A obssessão, no entanto, vai gradativamente tornando difícil a convivência entre os dois. Mais do que apenas pretexto para a risada, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é uma profunda e complexa análise do comportamento de um casal, servindo de referência, inclusive, para projetarmos para nossos conflitos os problemas e soluções encontrados por Alvin e Annie durante o processo de separação e volta dos dois.

Começando pelo início, o filme já é inovador na introdução e continua sendo até o momento dos créditos finais. Praticamente não há trilha sonora, uma vez que o longa se atém ao diálogo, num ritmo vigoroso, constante e interminável, assim como são as discussões de casais, que quase sempre terminam em pizza (ainda mais com o humor auto-depreciativo do casal de protagonistas, no qual tanto Annie quanto Alvy duelam o título de pessoa mais estranha). É a partir de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa que Allen emplaca no mundo cinematográfico seu portfólio pessoal: intelectual acído, inseguro e hipocondríaco que ama Nova Iorque, mulheres e Jazz.

Em 1978, ainda concorreram ao prêmio de Melhor Filme no Oscar as seguintes produções: Star Wars IV – Uma Nova Esperança (Star Wars Episode IV - A New Hop, primeira parte da saga milionária de George Lucas), A Garota do Adeus (The Goodbye Girls), Momento de Decisão (The Turning Point) e Júlia. Lembrando que ainda neste ano concorria em outras categorias (não entrou como candidato a Melhor Filme) um dos grandes sucessos de Steven Spielberg: Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind).

NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (ANNIE HALL)
LANÇAMENTO: 1977 (EUA)
DIREÇÃO: WOODY ALLEN
GÊNERO: COMÉDIA/ DRAMA
NOTA: 9,0

07 dezembro 2010

TOP 1977 - Rocky, Um Lutador

Após o fim de mais uma sessão caseira, meu desgosto foi tamanho que tive de ler algumas críticas para me embasar antes de começar a escrever qualquer baboseira sobre Rocky, Um Lutador, vencedor do Oscar de Melhor Filme na premiação de 1977. Minha surpresa, no entanto, se deu quando percebi que não era só eu que achava injusto filmes tão bons quanto os candidatos daquele ano perderem para o mero sucesso mercadológico que foi Rocky (que inclusive ganhou mais 5 seqüências posteriores). Os injustiçados de 1977 são: Todos os Homens do Presidente (All the President's Men), Rede de Intrigas (Network), Esta Terra é Minha Terra (Bound for Glory) e o clássico scorsesiano Táxi Driver.

O longa é uma espécie de auto-cinebiografia travestida de pura ficção. Foi o próprio Stallone quem escreveu o roteiro (paupérrimo nos diálogos) e interpretou Rocky Balboa, o protagonista (numa atuação sofrível e medíocre). Só faltou mesmo dirigir o filme (ainda bem que não o fez, senão tudo estaria perdido de vez). Foi o incrível trabalho do diretor John G. Avildsen que amenizou as precariedades de uma produção que nasceu fadada a ser mediana em todos os aspectos, mas que atendeu as necessidades do mercado, através do qual se tornou o estrondoso sucesso de bilheteria e a alavanca para que Sylvester entrasse de vez para o estrelato (ele era desconhecido do grande público até então).

A direção foi genial ao retratar com a maior veracidade possível as cenas de luta, ao ir repassando para o público a gradativa tensão de Rocky diante dos treinamentos pesados para enfrentar o adversário no campeonato mundial, ao aproveitar a fotografia de locações sujas e feias como o subúrbio da Filadélfia para ambientar a beleza do resultado final, entre outras sacadas. A trilha sonora é outro ponto a ser destacado, uma vez que foi capaz de imortalizar a canção principal, que passou a ser usada em todas as lutas de boxe a partir de então.

Para quem não conhece a história, ela trata da fracassada vida de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um medíocre boxeador amador que luta dia-a-dia para sair da pobreza e sonha com uma carreira de sucesso nos ringues. Após conhecer Adrian (Talia Shire), o truculento e chucro lutador passa a ver a vida de outra maneira, deixando que alguma sensibilidade passe a fazer parte de seu comportamento. Sua sorte tem a chance de virar quando Apollo Creed (Carl Weathers), atual campeão mundial dos pesos pesados, o convida para lutar na final do campeonato mundial (apenas como uma estratégia de marketing para vender seu status de invicto). É a chance de Rocky de dar uma guinada na carreira e conquistar a notoriedade que tanto desejou. Como não tem dinheiro para bancar um tratamento digno, são as ruas da periferia que servem de pista de corrida e as peças de carne crua do frigorífico do bairro que funcionam como saco de pancadas (trecho mais tosco e improvável do filme).

O ponto positivo da produção é que ela não se restringe a apenas um filme de boxe, mas sim uma análise psicológica sobre o fracasso humano e a determinação, que funciona como uma espécie de mérito para o sucesso conseqüente. O problema é que tudo é muito raso, superficial, fraco desde o roteiro até a interpretação. Mesmo que o momento que os Estados Unidos passavam (Pós-guerra do Vietnã e pós-Caso Warergate) era delicado e precisava de histórias de motivação e superação para dar ânimo a população descrente, Rocky está longe de ser um símbolo do orgulho americano e muito menos exemplo de exportação do “American Way of Life”.

ROCKY, UM LUTADOR (ROCKY)
LANÇAMENTO: 1976
DIREÇÃO: JOHN G. AVILDSEN
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 7,0

03 dezembro 2010

1/3 ESTREIA - A Rede Social

Em todas as áreas do conhecimento há pessoas brilhantes, gênios, prodígios, que conseguem com seus resultados aquilo que todos querem, a maioria inveja e a menor parte chega perto. É o caso de David Fincher no cinema. Depois de dirigir clássicos como Alien 3, Seven, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco e O Curioso Caso de Benjamin Button, chega às telonas seu mais recente trabalho, A Rede Social, que conta a trajetória de sucesso de Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário do mundo após criar a rede social Facebook.

Falando em gênios, Zuckerberg, interpretado pelo jovem ator Jesse Eisenberg, pode ser considerado um prodígio em sua área, o que o levou, no entanto, a cultivar diversos inimigos e a plantar a solidão, conseqüências da fragilidade das relações virtuais. O longa é uma provável aposta para o Oscar 2011, tendo sido contemplado pelos críticos americanos com o posto de melhor do ano até agora. Vou correndo pro cinema!

A REDE SOCIAL (THE SOCIAL NETWORK)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: DAVID FINCHER
GÊNERO: DRAMA
VONTADE: 10,0

Mais 5 produções entram no circuito nacional hoje. São elas:

MEGAMENTE (Megamind) EUA, 2010. Direção: Tom McGrat. Gênero: Animação/ Comédia. Elenco: Tina Fey (Roxanne Ritchi - voz), Jonah Hill (Titan - voz), David Cross (Minion - voz), Ben Stiller (Bernard - voz), Brad Pitt (Metro Man - voz), Will Ferrell (Megamind - voz), J.K. Simmons (Warden - voz), Justin Theroux (Pai do Megamente - voz).
VONTADE: 10,0

SKYLINE – A INVASÃO (Skyline) EUA, 2010. Direção: Colin Strause e Greg Strause. Gênero: Ficção Científica. Elenco: Eric Balfour, Donald Faison, Scottie Thompson.
VONTADE: 8,0

O GAROTO DE LIVERPOOL (Nowhere Boy) Reino Unido, 2009. Direção: Sam Taylor Wood. Gênero: Drama/ Biografia. Elenco: Aaron Johnson, Anne-Marie Duff, Kristin Scott Thomas, Thomas Sangster, David Threlfall, Josh Bolt, Sam Bell.
VONTADE: 6,0

FILM SOCIALISME. França, 2010. Direção: Jean-Luc Godard. Gênero: Drama. Elenco: Patti Smith, Alain Badiou, Catherine Tanvier, Nadege Beausson-Diagne.
VONTADE: 7,0

ABUTRES (Carancho) Argentina, 2010. Direção: Pablo Trapero. Gênero: Drama/ Policial. Elenco: Ricardo Darin, Martina Gusman, Carlos Weber, José Luis Arias, Loren Acuña, Gabriel Almirón, José Manuel Espeche.
VONTADE: 5,0

Até semana que vem pessoal!

02 dezembro 2010

TOP 1976 - Um Estranho no Ninho

Imagine um grupo de pacientes de um hospital psiquiátrico sendo constantemente instigado a descumprir as ordens da equipe médica e a buscar sua liberdade por meio das idéias libertárias de um presidiário federal aparentemente saudável, que se aproveita displicentemente da loucura mentirosa para se livrar do trabalho na cadeia. Essa é a premissa de Um Estranho no Ninho, segundo filme da história do Oscar a levar para casa as cinco principais estatuetas da Academia (Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro), em 1976 (o primeiro foi o Capriano Aconteceu Naquela Noite, no Oscar de 1935).

A peça principal para o sucesso da trama é o personagem trapaceiro Randle Patrick McMurphy, encarnado brilhantemente por Jack Nicholson (depois de ser recusado por Marlon Brando e Gene Hackman). O ator em início de carreira na época fez com que um simples mentiroso se tornasse um dos personagens mais complexos e cativantes da história do cinema mundial. A compreensão do roteiro se dá através da leitura das entrelinhas das cenas, uma vez que a história não é simplesmente o que se mostra na tela, mas cheia de símbolos metafóricos e alusões subjetivas, o que não faz, no entanto, que Um Estranho no Ninho se torne “cabeça” demais ou distante da empatia popular (graças a soberba direção do tcheco Milos Forman, que mais tarde viria a dirigir o musical Hair e o vencedor do Oscar Amadeus).

Todas as cenas se passam no interior do manicômio, acompanhando a rotina dos internos, as sessões de terapia, as tentativas de Mac (McMurphy) de tornar mais prazerosa a estadia dos colegas (e consequentemente a dele) e a repressão da enfermeira-chefe Mildred Ratched (Louise Fletcher, ganhadora do prêmio de Melhor Atriz naquele ano), que a todo custo impedia qualquer atitude que contradissesse as normas do local. Fletcher conferiu a personagem uma maldade travestida de doçura, mudando gradualmente seu humor ao longo da produção. Bárbara!

Sem que percebam, os internados vão sendo influenciados pela conduta de Mac e passam a querer imitá-lo, serem iguais a ele, o que desagrada mais ainda os profissionais da instituição, que ao mesmo tempo em que não agüentam mais as confusões geradas pelo novo paciente, não têm certeza de sua saúde mental, sendo obrigados a mantê-lo sob custódia até que tudo seja esclarecido. Nesse ínterim, um novo mundo de liberdade está sendo apresentado aos pacientes, fazendo com que os métodos de tratamento do hospício sejam repensados.

Este clássico do cinema que não pode deixar de ser visto por quem se considera um cinéfilo de verdade traz ainda as presenças de alguns nomes que futuramente seriam conhecidos no mundo todo por papéis memoráveis, como Danny DeVito (que interpreta o louco Martini) e Christopher Lloyd (Taber). Além deles, Will Sampson se destaca no papel do índio surdo-mudo Chefe Brondem, pupilo de Mac, que finalmente encontra uma motivação para fugir daquela prisão após conhecer o amigo rebelde.

Por meio da contradição entre liberdade (mundo) e prisão (hospital), Um Estranho no Ninho tece importantes discussões (implícitas no roteiro) acerca da natureza humana e os limites de nossas loucuras. É essencial não apenas para os apreciadores da sétima arte, mas para todos que buscam se achar em meio a confusão que é nossa sociedade. Mais três filmes concorreram ao posto de Best Picture em 1976. São eles: Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, que traz Al Pacino após o sucesso em O Poderoso Chefão I e II), Nashville, segundo longa de Robert Altman, Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, e o badalado Tubarão (Jaws), de Steven Spielberg.

UM ESTRANHO NO NINHO (ONE FLEW OVER THE CUCKOO'S NEST)
LANÇAMENTO: 1975 (EUA)
DIREÇÃO: MILOS FORMAN
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,0


01 dezembro 2010

TOP 1975 - O Poderoso Chefão: Parte II

Raramente uma seqüência cinematográfica consegue ser tão boa ou melhor que a primeira parte da história. Estamos cansados de nos iludir com filmes que acreditávamos manter a qualidade do antecessor, mas que não passavam de meros produtos mercadológicos, oriundos da necessidade de continuar lucrando com uma receita que fez sucesso um dia. Exceção à regra, O Poderoso Chefão: Parte II levou 6 estatuetas na premiação do Oscar em 1975, imortalizando-se como a primeira seqüência a levar o prêmio de Melhor Filme para casa.

Justamente premiado, o longa é impecavelmente bem feito, uma vez que mantém o ar sombrio e pessimista do primeiro e ainda presenteia os espectadores com duas histórias ao invés de uma: por meio de duas narrativas paralelas, Francis Ford Coppola (o diretor) mostra o nascimento da verve trapaceira que impulsionou Vito Corleone (desta vez interpretado por Robert De Niro) a construir o império de poder “alternativo” que dominou grande parte dos Estados Unidos e o início da decadência de Michael Corleone (o novo Dom) após resolver eliminar todo e qualquer inimigo que se opusesse a seus planos.

A esquematização dramática do roteiro é praticamente semelhante a da primeira parte da trilogia: a produção começa com uma festa familiar, na qual a confraternização entre os parentes divide o espaço com as negociações obscuras entre o Dom Corleone e seus comparsas e/ou apadrinhados. Após um ataque inesperado à família (no segundo filme Michael e sua esposa Kay (Diane Keaton) são surpreendidos por um tiroteio em seu quarto) várias camadas de interesse mafioso aparecem, fazendo com que conflitos entre as famílias e, no caso do filme analisado, também o governo, sejam deflagrados. A partir daí, os Corleone se juntam para manterem a posição de destaque que Vito construiu ao longo das décadas.

A principal diferença do primeiro é que agora a família já está desestruturada, alguns não concordam com a nomeação de Michael como o sucessor de Vito e conflitos internos começam a interferir no futuro dos Corleone. Al Pacino consegue brilhantemente exprimir por meio de sua interpretação a angústia vivida por Michael ao perceber que está sendo um fracasso em relação ao trabalho do pai. A saída para resolver a questão é ser mais enérgico, mais rígido com seus inimigos, com aqueles que querem o ver morto, mas essa atitude pode trazer conseqüências mais sérias, umas vez que terá de enfrentar traições dos próprios membros da família. Ele terá de lutar contra dois tipos de inimigos: os poderosos que querem ver o império dos Corleone destruído e sua própria solidão, gerada pela apatia que provoca em seus convíveres.

Para reforçar a decadência pessoal de Michael, a história de sucesso de Vito (desde a morte de toda a sua família na Sicília até o nascimento de Michael e sua ascensão na máfia novaiorquina) é intercalada com as cenas em que Michael perde forças e se torna cada vez menos influente. A direção é genial na montagem dessas seqüências, equilibrando de maneira adequada os dois momentos históricos. Por falar em história, são incluídas na produção seqüências de eventos reais, como a chegada dos imigrantes italianos nos Estados Unidos no início do século XX e a Revolução Cubana.

Mas antes de comemorar a vitória, O Poderoso Chefão: Parte II teve que travar uma disputa ferrenha com o brilhante Chinatown, de Roman Polanski, que também obteve 10 indicações no Oscar (mas levou apenas o Roteiro Original). Além dos dois, ainda concorreram Inferno na Torre (The Towering Inferno), Lenny e A Conversação (The Conversation), outra produção de Coppola naquele mesmo ano.

O PODEROSO CHEFÃO: PARTE II (THE GODFATHER: PART II)
LANÇAMENTO: 1974 (EUA)
DIREÇÃO: FRANCIS FORD COPPOLA
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 9

29 novembro 2010

TOP 1974 - Golpe de Mestre

Parece que o modelo instituído pelo cinema moderno veio pra ficar nas produções americanas a partir do final da década de sessenta. No filme vencedor do Oscar de 1974, Golpe de Mestre, mais uma vez somos apresentados a protagonistas nada corretos (moralmente falando) e que, se postos a prova, provavelmente não seriam exemplos de conduta a ninguém. Eles são Johnny Hooker (Robert Redford) e Henry Gondorff (Paul Newman), dois trapaceiros que se juntam para se vingarem do criminoso Doyle Lonnegan (Robert Shaw), assassino de um antigo colega de Hooker, que o ajudou a roubar uma grande quantia em dinheiro de um dos capangas de Lonnegan.

Após a morte do amigo, Hooker vai atrás de Gondorff (por conhecer suas exímias habilidades como trapaceiro) para lhe pedir que o ajude a elaborar um plano para se vingar de Lonnegan. Depois de conseguirem certo êxito em pequenos golpes contra o bandido no Pôcker, é a vez da corrida de cavalos ser o mote para o plano que arquitetam. Será a maior e única chance dos dois conseguirem aplicar a tão sonhada vingança.

Redford e Newman estão espetaculares em seus papéis. Já acostumados a trabalharem juntos (dividiram o protagonismo do sucesso Butch Cassidy, em 1969), têm uma ótima sintonia, perceptível aos olhos dos espectadores. Os dois encarnam típicos pilantras, com o ar misterioso, o sarcasmo e a ironia suficientes para encantar todos que assistem essa obra-prima do cinema. A relação que os personagens traçam entre seus atos ilícitos e o carisma que possuem é algo misteriosamente magnífico.

A edição do longa é outro ponto a ser destacado: a montagem é toda feita em forma de paginação (capítulos contam a história. Cada capítulo contém uma página de título que aparece - acompanhada de um desenho - e desaparece por meio do efeito de página). Além disso, a transição entre cenas é feita das mais variadas maneiras, desde um simples fade-out até um afunilamento que destaca determinado objeto ou uma inversão de eixo, uma linha que corta toda a tela e se estende seqüencialmente para a esquerda ou direita etc. São muitos efeitos que, juntos, conferem um universo de fábula para a produção, tornando-a mais leve e gostosa de ser vista.

A trilha sonora é deslumbrante. Por meio de solos de piano, a história é contada sem que haja tensão, mesmo nos momentos mais sérios da trama. A intenção do diretor George Roy Hill, segundo a própria divulgação do filme, era produzir uma comédia, o que foi brilhantemente conseguido, graças a maestria da equipe de pré e pós produção, que fez com que nós, meros receptores do produto final, fiquemos abismados com o resultado conseguido mais de 40 anos depois.

Para finalizar, não poderia deixar de mencionar o final surpresa que O Golpe de Mestre reserva. Para quem ainda não assistiu o filme, o choque causado por um acontecimento inesperado parece destruir todos os planos enveredados até então, o que deixa personagens e espectadores totalmente confusos. Um dos finais mais bem elaborados que eu já vi. Adorei!

Naquele ano ainda concorreram a Melhor Filme: Gritos e Sussurros (Viskningar och rop - Ingmar Bergman), Um Toque de Classe (A Touch of Class), Loucuras de Verão (American Graffiti - George Lucas, antes de começar a produzir Star Wars) e O Exorcista (The Exorcist, único terror a concorrer ao prêmio-mor do Oscar até hoje).

GOLPE DE MESTRE (THE STING)
LANÇAMENTO: 1973 (EUA)
DIREÇÃO: GEORGE ROY HILL
GÊNERO: COMÉDIA/ DRAMA
NOTA: 9,3

26 novembro 2010

1/3 ESTREIA - Demônio

Hoje estreia a mais nova produção com o dedo do incompreensível M. Night Shyamalan, Demônio. Minha falta de admiração por ele (assim como a de todos os seus fãs espalhados pelo mundo) começou quando a qualidade de seus filmes passou a diminuir um pouco, até chegar ao cúmulo da mediocridade em O Fim dos Tempos (2008). Desde O Sexto Sentido (1999), primeiro longa do diretor, sua capacidade de contar histórias de suspense e terror por meio de roteiros aparentemente simples foi atestada e corroborada pelas produções seguintes (Corpo Fechado [2000], Sinais [2002], A Vila [2004]). Acontece que em 2006 chegou ao circuito comercial um tal de A Dama da Água, fracasso total de público e crítica, seguido pelo péssimo O Fim dos Tempos, em 2008, e pelo chatíssimo O Último Mestre do Ar, em 2010.

Mesmo estando com medo do que me espera na sessão de Demônio, ainda me resta uma ponta de esperança que me faz acreditar que talvez o talento de Shyamalan estivesse adormecido durante alguns anos e agora volte de vez. A história do filme? Cinco pessoas desconhecidas entre si ficam presas em um elevador num prédio comercial e passam a morrer misteriosamente. O motivo? Uma delas é o demônio em pessoa. Esta é a primeira parte da trilogia Night Chronicles, que já tem como projeto a segunda parte “Reincarnate”, longa que conta a história de um júri popular assombrado pelo fantasma da vítima do assassinato que julgam. Os roteiros, simplórios em sua origem, podem se salvar diante de uma direção firme e talentosa, como aquela mostrada no início da carreira de Shy. Vamos torcer...e ir correndo para o cinema!

DEMÔNIO (DEVIL)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: DREW DOWDLE E JOHN ERICK DOWDLE
GÊNERO: TERROR
VONTADE: 10,0


Outras quatro produções são lançadas hoje no circuito cinematográfico nacional. São elas:

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS (You Will Meet a Tall Dark Stranger) EUA, 2010. Direção: Woody Allen. Gênero: Comédia/ Romance. Elenco: Gemma Jones, Naomi Watts, Josh Brolin, Anthony Hopkins, Antonio Banderas, Lucy Punch, Freida Pinto, Pauline Collins, Anna Friel, Roger Ashton-Griffiths.
VONTADE: 10,0

CENTURIÃO (Centurion) Reino Unido, 2010. Direção: Neil Marshall. Gênero: Épico. Elenco: Michael Fassbender, Dominic West, Olga Kurylenko.
VONTADE: 5,0

OS OUTROS CARAS (The Other Guys) EUA, 2010. Direção: Adam McKay. Gênero: Comédia/ Ação. Elenco: Mark Wahlberg, Will Ferrell, Eva Mendes, Samuel L. Jackson, The Rock.
VONTADE: 7,0

UM QUARTO EM ROMA (Habitación en Roma) Espanha, 2010. Direção: Julio Medem. Gênero: Drama. Elenco: Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso.
VONTADE: 6,0

Sexta-feira que vem o 1/3 ESTREIA está de volta. Enquanto isso, continuem acompanhando o TOP 1/3 (que está a todo vapor) e não percam o novo RANKING que será publicado na semana que vem. Bom final de semana a todos.

25 novembro 2010

TOP 1973 - O Poderoso Chefão

Do início ao fim, O Poderoso Chefão surpreende pela capacidade de prender o espectador num assunto que, aparentemente, não diz respeito a nossa realidade brasileira: a máfia italiana. Mesmo tendo um grande contingente de descendentes do país da bota, o máximo que nos aproximamos desta realidade é por meio da violência urbana que assola nossas metrópoles mobilizando articulados grupos fortemente armados. Quando terminei de assistir o filme (anteontem à noite) já me veio à cabeça a série de ataques de traficantes a carros e ônibus que ocorre no Rio de Janeiro desde o último domingo. O longa mostra a série de percalços enfrentados pela família Corleone após a recusa em entrar para o mercado de tráfico de drogas em Nova Iorque. Nossa violência atual seria, portanto, uma evolução da mostrada no filme?

Sem ser simplista na afirmação, acredito que a diferença está no fato da sutileza com a qual as famílias influentes nos assuntos ilícitos atuavam, mantendo a hegemonia inclusive sobre o poder público (polícia, vereadores, juristas) e o apelo bélico que os bandidos atuais têm de recorrer para manter um status de poder na sociedade. Além disso, a quantia de dinheiro envolvido é bem maior quando se estabelece outras fontes de renda que não somente o mercado do tráfico. A máfia siciliana em Nova Iorque na década de 40 controlava, através do poder de cinco grupos familiares, vários tipos de assuntos ilícitos, lucrando por meio de trocas de favores. A família mais poderosa, no que diz respeito ao raio de influência, era a Corleone, comandada pelo patriarca Vito Corleone (Marlon Brando), chamado por muitos de padrinho, pela disposição em ajudar qualquer um que quisesse ser seu amigo (por outro lado, cobrava favores em troca, além de ser totalmente insensível com aqueles que não quisessem ajudá-lo a manter seu poder).

Após a decisão das demais famílias de entrar para o mercado do tráfico de drogas, acreditando ser uma fonte de lucro bem mais rentável do que as outras, e a recusa de Vito, alegando ser um caminho perigoso, inclusive para a manutenção do apoio da polícia e de alguns políticos, os Corleone passam a ser perseguidos (principalmente pelos Tattaglia e os Barzini) e Dom Vito é baleado numa armadilha. Com o pai hospitalizado, os filhos da família (Santino “Sonny” Corleone [James Caan], Frederico “Fredo” Corleone [John Cazale], Constanzia “Connie” Corleone [Tália Shire], Tom Hagen [Robert Duvall] e Michael Corleone [Al Pacino]) têm de prosseguir com os negócios, além de quererem se vingar da violência contra o pai.

A história é aparentemente simples, mas a maneira com que Francis Ford Coppola, o diretor, consegue conduzir a trama é inteiramente deliciosa, beirando a perfeição em algumas cenas. A relação familiar é ponto de refúgio para a violência durante toda a produção (cenas de casamento, batizado e relações familiares são entremeadas de tiroteios, assassinatos, emboscadas etc). A dualidade entre frieza e amor é ponto alto na história, fazendo com que nos compadeçamos e odiemos ao mesmo tempo os protagonistas.

Todo o poder de O Poderoso Chefão é conquistado, também, graças às interpretações maravilhosas de Marlon Brando (que conquistou seu segundo Oscar de Melhor Ator [o primeiro tinha sido em Sindicato de Ladrões]) e de Al Pacino (que praticamente inicia sua carreira com esse papel). A trilha sonora é inesquecível, sendo lembrada por todos os adoradores do cinema até hoje. Além disso, os diálogos são inteligentíssimos, com algumas falas memoráveis, e o filme é repleto de seqüências cênicas antológicas.

Sem me estender muito, já que se não me policiasse ficaria elogiando a produção durante horas, finalizo com uma curiosidade: O Poderoso Chefão foi o único vencedor do prêmio de Melhor Filme, na história do Oscar, que obteve menos estatuetas que qualquer outro candidato ao mesmo posto. Em 1973, Cabaret conquistou 8 estatuetas, enquanto que o Poderoso Chefão conseguiu apenas 3. Além dele e de Cabaret, concorreram a Best Picture os longas Lágrimas de Esperança (Sounder), Os Emigrantes (Utvandrarna) e Amargo Pesadelo (Deliverance).

O PODEROSO CHEFÃO (THE GODFATHER)
LANÇAMENTO: 1972 (EUA)
DIREÇÃO: FRANCIS FORD COPPOLA
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 9,5