12 março 2011

TOP 2006 - Crash - No Limite

Depois de Paul Thomas Anderson analisar a sociedade americana com seu belo Magnólia e Sam Mendes destrinchar os problemas de típicas famílias contemporâneas em Beleza Americana, Paul Haggis, com o mesmo brilhantismo com o qual escreveu o roteiro de Menina de Ouro, criou Crash – No Limite, longa de 2005 que levou a estatueta de Melhor Filme do Oscar 2006 para casa. A produção é genial e supera os antecessores supracitados por não apontar soluções, mas apenas traçar uma teia intrincada de situações que leve o espectador e tirar suas próprias conclusões e, diante de uma identificação com algum dos personagens (o que acho inevitável), não ser influenciado por nenhum desfecho arbitrário que o roteiro imponha.

Diferentemente de Magnólia, as histórias que se cruzam em Crash são mais bem amarradas, são mais verossímeis e, por serem constituídas por personagens de todos os nichos sociais, agregam valor a todos os tipos de público. Assim como o título sugere, as situações vividas no longa são fruto das colisões da vida, dos encontros que nos fazem refletir sobre nossas existências e avaliar quem somos e o que estamos fazendo para melhorar a convivência com nossos contemporâneos num mundo cada vez mais individualista.

Como mote central da trama, o preconceito é o sentimento mais presente nas cenas, recheadas das mais diversas situações, que não se resumem a apenas expor as fragilidades dos personagens, mas também aflorar suas fraquezas, sugar suas culpas e gerar a expurgação do remorso de viver alienado a uma realidade imposta. Para dar vida a esses problemas do século XXI, Los Angeles, uma das cidades mais capitalistas do mundo, é o cenário ideal para expor o labirinto de frustrações de um casal negro rico, um policial autoritário e seu parceiro passivo a seus desmandos, uma família latina que sofre com a desconfiança de um empresário islâmico, brancos com preconceito dos negros, negros com preconceito dos brancos e dos próprios negros, enfim, com um realismo impressionante, somos apresentados a nosso próprio mundo, que muitas vezes nos passa despercebido, enquanto estamos presos em nossas redomas de vidro, sendo necessários “acidentes”, como os demonstrados no filme, para nos darmos conta de que estamos errados.

As atuações estão inebriantes, e até mesmo Sandra Bullock e Brendan Fraser (insossos na maioria das vezes) conseguem mostrar um talento adormecido. Além da expertise do roteiro, que também é assinado por Haggis, a edição e a fotografia estão brilhantes. Prefiro nem comentar sobre a trilha sonora por medo de ser simplista demais diante de tamanha qualidade. De modo geral, Crash é um daqueles filmes obrigatórios a todos, independentemente de sexo, cor, raça, idade ou etnia.

No Oscar 2006, além de melhor filme, Crash levou mais 2 prêmios para casa: Roteiro Original e Montagem. Uma das maiores polêmicas da noite foi a obra de Haggis ter desbancado O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain), grande favorito da noite, com oito indicações. Os dois realmente eram adversários competentes (e seria muito interessante que o romance gay entre cowboys levasse a melhor) mas evidentemente Crash ainda é superior em alguns aspectos, tendo sido uma vitória apertada, mas justa. Além destes dois, concorreram ao prêmio-mor do Oscar mais três longas. São eles: Capote, Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, And Good Lucky) e Munique (Munich), de Steven Spielberg.

CRASH – NO LIMITE (CRASH)
LANÇAMENTO: 2005 (EUA/ ALEMANHA)
DIREÇÃO: PAUL HAGGIS
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,7

5 comentários:

Edson Cacimiro disse...

Perfeito realmente.

Tô Ligado disse...

Ai Guii... esse filme é muito chato.
Não consegui assisti-lo sem dormir!

Anônimo disse...

essa é uma das piores vitórias do oscar... apesar de gostar do filme, acho ele o menos menos merecedor do prêmio

http://filme-do-dia.blogspot.com/

Dilberto L. Rosa disse...

Pretensiosa e fraquíssima colcha de retalhos de uma pseudo-"denúncia social"... Muita abobrinha reunida e uma das mais injustas estatuetas de melhor filme! Você vai me desculpar, mas acho que não vimos o mesmo filme, ré, ré (9,7?!)! Abração!

Gustavo Fiorini disse...

Levei dois dias para ver esse filme. Só faço isso com filmes chatos, mas que quero acompanhar pra não ficar por fora. Não gostei da narrativa, apesar de ter adorado a temática. Abraço!