01 abril 2011

TOP 2010 - Guerra ao Terror

A Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood, desde seus primórdios, é confusa em suas preferências, quando se diz respeito a escolha do melhor filme de cada ano. Agora que cheguei no fim do projeto TOP 1/3 posso dizer que não consigo definir a diretriz usada pelos eleitores para elegerem o bam-bam-bam da temporada. É claro que tudo depende da gama de produções existentes, mas é inegável que todo ano há aquela comédia de costumes, aquele longa cult que poucos entendem, uma superprodução que usa das mais avançadas tecnologias para se destacar, um (ou mais) filme(s) independente(s), quiçá um musical, que promete ressuscitar o gênero esquecido e, quase que obrigatoriamente, um longa psicologizante de guerra, com uma visão mais que ultrapassada sobre conflitos bélicos e suas influências no comportamento humano.

Em 2009, surgiu timidamente no mercado o longa Guerra ao Terror, dirigido pela experiente no gênero Katherine Bigelow (Caçadores de Emoção, K-19). A cineasta retrata as delícias e desprazeres da vida dos desarmadores de bomba americanos em missão no Iraque (contemporaneamente, ou seja, já numa época de iminente conflito entre as duas nações). A dualidade entre a necessidade de defesa patriótica como condição de honra e o medo instaurado naqueles soldados que estão há milhares de quilômetros de casa é o mote do fraco roteiro que estrutura a produção.

Com câmera na mão e trilha sonora crua, a fim da criação de um suposto suspense (que não chegou até mim), os personagens se dividem entre o fio vermelho ou verde, como a última decisão da vida. A guerra não é ritual de transição da adolescência para a idade adulta, nem tampouco orgulho para o país que aguarda o retorno de seus soldados, mas sim uma espécie de purgatório, um limbo para os que, regados pelo amor e ódio, dedicam anos a fio (talvez os últimos de sua vida) a guerrear. E nem esperam orgulho dos que os amam, ou redenção pelos pecados passados; querem apenas viver o que é a guerra, absorver suas nefastas ou maravilhosas consequências.

Quando o sargento James (Jeremy Renner, indicado ao Oscar de Melhor Ator) volta para os Estados Unidos (após ter servido durante 38 dias na base de desarmamento de bombas em áreas civis no Iraque), vê que sua realidade (ou o que pensava ser) já foi substituída por um mundo que não mais lhe pertence. As bombas, os tiros, o sangue e a crueldade de uma cultura que, aos olhos de seu país, é inferior, parecem ter se tornado mais familiares que sua própria esposa e filho. Assim como em Soldado Anônimo, de Sam Mendes (só que de maneira menos eficiente), Bigelow afirma que um soldado, após passar por um guerra, não somente absorve para sempre as impressões que teve durante as missões, como também nunca deixa de ser militar. É como dizer que a guerra nunca sai dele, mesmo que sua intenção, ao participar de uma guerra, seja só esquecê-la.

Voltando a falar sobre as preferências da Academia, confundo-me um pouco com a alternância no poder de produções extremamente clássicas e quadradas, como é o caso de Guerra ao Terror, e de longas mais ousados e irreverentes, como foi com Quem Quer Ser um Milionário?, um ano antes. Por mais que a crítica especializada tenha defendido ferrenhamente Guerra ao Terror, chegando até a afirmar que este seria o novo Platoon ("Guerra..." foge do patamar Spielbergiano de endeusar as guerras, mas o longa não chega a posição de merecer prêmios, como o de Melhor Filme do ano), ainda prefiro O Resgate do Soldado Ryan, Soldado Anônimo, Os Melhores Anos de Nossas Vidas, Cartas de Iwo Jima, e tantos outros filmes que conseguem ter uma visão psicanalítica da guerra de uma maneira bem mais eficaz que o vencedor do Oscar de 2010. Outra característica que pode ter influenciado a decisão dos jurados foi o fato de nenhuma outra vez, na história do Oscar, uma mulher ter levado o prêmio de Melhor Direção, ainda mais quando a única cotada é ex-esposa do diretor do filme favorito a levar a estatueta-mor (refiro-me a Avatar, a maior bilheteria da história do cinema e megaprodução que lançou a tecnologia 3D de vez para o mundo).

Uma nova regra alterou a escolha dos vencedores do Oscar 2010. Agora não são mais 5 indicados para a categoria Melhor Filme, mas 10, a fim de acirrar a disputa entre os concorrentes (a norma foi retomada, após mais de 50 anos com apenas 5 indicações). Quem concorreu como Melhor Filme foram os longas: Distrito 9 (District 9), produção mais acanhada de Peter Jackson, após KIng Kong e O Senhor dos Anéis; Educação (An Education); Preciosa (Precious); Um Homem Sério (A Serious Man); Um Sonho Possível (The Blind Side), que deu a Sandra Bullock o título injusto de Melhor Atriz do ano; Up - Altas Aventuras (Up); Amor Sem Escalas (Up in The Air); Avatar, de James Cameron, que é infinitamente melhor que o vencedor; e Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards), o melhor entre os indicados para ser intitulado como "the best". É uma pena que até hoje as produções de Quentin Tarantino não tenham sido prestigiadas pelo Oscar.

GUERRA AO TERROR (THE HURT LOCKER)
LANÇAMENTO: 2009 (EUA)
DIREÇÃO: KATHERINE BIGELOW
GÊNERO: GUERRA/ DRAMA
NOTA: 7,5