02 agosto 2010

TOP 1952 - Sinfonia de Paris

Quem ouve Gene Kelly, associa rapidamente o nome ao filme Cantando na Chuva, obra prima do ator, dançarino, diretor e produtor. Porém, ele teve uma vasta carreira, que incluiu um marco na história dos musicais: Sinfonia de Paris, longa vencedor de seis estatuetas no Oscar 1952, entre elas a de Melhor Filme, Direção de Arte, Fotografia, Figurino, Trilha Sonora e Roteiro Original.

Ao questionar conhecidos sobre a credibilidade dos musicais, recebi algumas respostas negativas, nas quais estava incluso o argumento de que o fato de, no meio dos diálogos, músicas serem interpretadas, deixa a produção inverossímel, falseia a trama, tornando-a superficial e descontínua. Concordo que, se não houver uma relação próxima entre o número musical e a história, a obra parece não fazer sentido, sendo que seria possível desvencilhar as duas coisas, sem que houvesse interferência.

Em Sinfonia de Paris, excetuando a parte final do longa, todas as músicas se encaixam perfeitamente na trama e ganham brilho ao relacionar de maneira exemplar (e contagiante) os diálogos entre os personagens e a cantoria. Apesar de receber muitos elogios, considero o trecho final de dança (de 17 minutos) cansativo e desnecessário. Sem desmerecer o talento de Gene e de Leslie Caron, protagonistas do número, e ciente de que, após “Sinfonia...”, todos os musicais posteriores seguiram o exemplo de incluir um grande número musicado como forma de exploração do potencial artístico da obra, não vi motivos suficientes (e importantes) para tamanha dedicação neste filme.

Durante a gigantesca dança final, Jerry Mulligan (Gene Kelly), pintor americano que resolve tentar ganhar a vida na cidade luz vendendo seus quadros, imagina como seriam possíveis obras em variados pontos da cidade, todos protagonizados por Lise Bouvier (Leslie Caron), vendedora numa loja de cosméticos. É que a garota acabou de deixá-lo para se casar com Henri Hank Baurel (Georges Guetary), amigo de Mulligan, com quem já era noiva antes de conhecer o pintor. Realidades absurdas são criadas pela imaginação saltitante do protagonista, que trancende na tela os seus sonhos amorosos.

Antes de chegar a tal ponto, o protagonista tem que se dividir entre a idolatria de sua assessora, a ricaça Milo Roberts (Nina Foch) e a paixão nutrida pela comprometida Lise. Como a pobreza em que vivia impedia que excluísse de vez a ajuda de Milo, teve que conciliar até onde pode o triângulo amoroso, sem saber que o maior risco vinha de um quarto elemento: o noivo da amada. O roteiro é simples (e não é tão oririnal a ponto de ter ganhado um Oscar), mas é alavancado pelo carisma de Gene, que parece deslizar sobre qualquer superfície, cantando e dançando como se sua arte fosse a coisa mais fácil do mundo (obs: adoro sapateado, e ao assistir o filme, além de querer aprender a sapatear, fiquei com vontade de tocar piano). O ator consegue transmitir através do personagem uma honestidade ingênua e charmosa e uma conduta politicamente correta como ninguém. Quanto a Lise, apesar de ser exímia na pista, é desengonçada e sem graça demais. A equipe de casting poderia ter escolhido uma atriz com um sex appeal um pouco mais aflorado.

Depois de 12 anos, é o segundo filme do rol dos vencedores e ser filmado com a tecnologia Tecnicolor, usada apenas em E o Vento Levou até então (e com menos eficácia que em Sinfonia..). Outro destaque é a forma com que os personagens se apresentam no início do filme: em uma espécie de diálogo entre o narrador e o espectador, offs de todos os destaques vão se revezando, ou seja, cada um se apresenta diretamente, e todas as descrições são amarradas num texto claro e eficiente (aliás, é importante reparar que já há alguns anos [e também nos seguintes] o off dos narradores/personagens é utilizado com muita frequência no início das produções norte americanas.

Uma ótima pedida para quem quer se divertir. Apenas isso! Não há aprofundamento nas questões levantadas pelo texto e alguns pontos do roteiro ficam sem explicação quando o filme acaba. Compensações: Ótima fotografia (colorida) de Paris, números musicais carismáticos e contagiantes e inovações na forma como se fazem musicais a partir desta produção.

Na contenda da Academia daquele ano, ainda concorreram os filmes: Quo Vadis, Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire), de Elia Kazan, e Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun). Os dois últimos são clássicos antológicos do cinema (inclusive eram mais preferidos pelo público do que o vencedor).

OBS: Gene Kelly não recebeu o prêmio de Melhor Ator naquele ano (quem levou foi Humphrey Bogart, por Uma Aventura na África), mas em compensação foi contemplado com um Oscar honorário (super merecido).

SINFONIA DE PARIS (AN AMERICAN IN PARIS)
LANÇAMENTO: 1951 (EUA)
DIREÇÃO: VINCENTE MINELLI
GÊNERO: MUSICAL
NOTA: 8,0

Um comentário:

Rodrigo Mendes disse...

Oi cara blz? Como vc é clássico heim e com um inteligente gosto.

Gene Kelly sempre dançou magistralmente e os musicais dirigidos por Minelli são primorosos, como os de Busby Berkley.

Abs,
Rodrigo