23 julho 2010

TOP 1948 - A Luz é Para Todos

Antes de dirigir obras consagradas pelo público e pela crítica, como Sindicato de Ladrões, Uma Rua Chamada Pecado e Vidas Amargas, Elia Kazan se aproveitou dos efeitos arrasadores da Segunda Guerra para lançar um de seus filmes mais polêmicos: A Luz é Para Todos, uma das primeiras experiências cinematográficas que tratou (sem hipocrisia) da questão do preconceito contra os judeus num estado que tinha como premissa a liberdade individual e a garantia de um futuro igualitário para todos os cidadãos (em suposto cumprimento a Declaração de Independência dos Estados Unidos).

Gregory Peck interpreta Philip Schuyler Green, um jornalista viúvo que conquista a oportunidade de escrever sua primeira história para a revista The New Yorker, e por isso se muda com sua mãe (Anne Ravere) e seu filho (interpretado por Dean Stockwell) da Califórnia para Nova York a fim do novo emprego. Quem sugere o tema do artigo é Kathy Lacey (Dorothy McGuire), sobrinha de John Minify, diretor editorial da revista e futura namorada de Green. Seguindo o conselho da amada, o jornalista aceita escrever sobre o anti-semitismo, fanatismo pregado por Hitler anos antes e, de uma certa forma, encarado como erro após o fim da Segunda Guerra, principalmente pelo estado liberal norte americano.


Para dar mais credibilidade ao seu texto e tentar se distanciar de inúmeros artigos anteriores que apenas abordavam superficialmente o problema, Green resolve se passar por judeu e viver na pele o que os excluídos sociais viviam. Ele sente como é não poder se hospedar em certo hotel, ter o filho espancado sob acusações de judeu porco, ou ainda sofrer pré julgamentos que colocam em cheque sua capacidade profissional ou a confiança que ele passa aos outros.


Para contrapor a relação de amor entre ele e Kathy, ela se mostra mais um espécime daqueles que se dizem contra o anti-semitismo, mas que não fazem nada além de ficarem indignadas com declarações pejorativas e discriminatórias. Ela é o retrato da porção de americanos que espalham o falso moralismo, mas que, camufladamente, velam o ódio que sentem pelo diferente. O filme tem seu prestígio por conseguir ser atual, já que a realidade do preconceito continua atualmente em todo mundo, sendo ele racial, étnico ou sexual.

Peck consegue trazer para a telona a determinação do jornalista, a precaução do pai e o amor do namorado de uma forma exemplar. Pode se dizer que ele é o alter ego de Kazan, que sofreu julgamentos após o lançamento de Gentleman's Agreement, nome original da obra, mais um elemento para completar o potencial irônico de seu longa. Preste atenção ao discurso de Kathy, que tenta explicar para Green que não é anti-semita, mas acaba se enrolando mais e demonstrando como o “acordo entre os cavalheiros” funciona.


Além de A Luz é Para Todos, concorreram à estatueta de Melhor Filme em 1948: Grandes Esperanças (Great Expectation), Rancor (Crossfire), Um Anjo Caiu do Céu (The Bishop's Wife) e De Ilusão Também se Vive (Miracle on 34th Street)

A LUZ É PARA TODOS (GENTLEMAN'S AGREEMENT)
LANÇAMENTO: 1947 (EUA)
DIREÇÃO: ELIA KAZAN
GÊNERO: DRAMA/ ROMANCE
NOTA:
8,6

Um comentário:

Brentegani disse...

Legal hein! E pensar que 62 anos depois ainda estamos nesse mesmo dilema, o preconceito esta aí (está certo que em proporção bem inferior, mas...).
Adorei o texto Gui!
Bjs