Mais uma vez vê-se a receita padrão dos roteiros biográficos: a trama se baseia na contação da história da vida do protagonista a partir de flashbacks posteriores a uma cena da velhice ou da morte do biografado. Após vermos o assassinato de Gandhi em meio a uma multidão de fiéis (na década de 50), somos transportados para o fim do século XIX, quando da viagem do então advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi pela África do Sul, e a percepção de que seu povo, colonizado pela coroa britânica na época, era reprimido e visto como inferior pelos colonizadores. Começa aí a extensa e vitalícia luta de Gandhi pelos direitos humanos e pela igualdade religiosa, racial e étnica dos indianos.
Mais de 50 anos de sua vida são retratados, sem que a história se torne episódica ou cansativa. O diretor Richard Attenborough consegue ser sutil nas passagens de tempo, trabalhando em total sintonia com as outras áreas da equipe de produção. O contexto histórico é constantemente alterado (devido ao tempo dramático que se passa no roteiro) e temos a real impressão de que tudo mudou, mesmo sabendo que o fenômeno nada mais é do que fruto de um belo trabalho de equipe, composta por experts na maquiagem, figurino, fotografia, direção de elenco etc.
O segundo ato do filme mostra a volta de Gandhi à Índia e a decisão de lutar junto com seu povo pela emancipação da nação. Suas palavras de acalento, esperança e paz durante os inúmeros discursos persuadiram os indianos a lutar sem armas, a não reagir, a impressionar os tiranos ingleses com gestos de paciência e paz diante das agressões. A principal arma de luta contra a opressão defendida por Gandhi era a serenidade e a persistência.

A força interna de Gandhi e sua persistência pela liberdade do país condicionadas a manutenção da premissa da paz levaram a Índia a independência, mas, em contrapartida, causaram uma segregação interna, dividindo o país entre hindus e muçulmanos, que posteriormente criaram o Paquistão. O terceiro e último ato do longa mostra o esforço de Gandhi, já idoso, para acabar com a desigualdade religiosa dentro do território indiano (através de greves de fome) e seu assassinato (que já declaro ser por motivos fúteis).
O grande destaque do filme fica por conta da atuação mais que fenomenal de Ben Kingsley, que inclusive levou a estatueta de Melhor Ator para casa naquele ano. Quem não conhecia a história de Gandhi (como eu) passa a confiar que o verdadeiro Mahatma foi em vida exatamente como a atuação de Kingsley aponta. Ele consegue medir a sabedoria e a ironia necessárias ao personagem de maneira equilibrada e assustadoramente convincente. Além do elenco, dou destaque para a trilha sonora, obviamente típica da Índia, que permeia a vida de Gandhi e consegue ilustrar cada fase perfeitamente, através de acordes e ritmos que dizem muito do momento do personagem. Para finalizar, gostaria de chamar a atenção para a cena do fuzilamento dos indianos, episódio verídico que matou milhares de habitantes, numa ofensiva inglesa inesperada e estúpida. Trecho de arrepiar.
Naquele mesmo ano, ainda concorreram ao posto de Melhor Filme mais 4 produções. São elas: O Veredito (The Veredict), Tootsie, Desaparecido – Um Grande Mistério (Missing) e E.T. – O Extraterrestre (E.T. The Extra-Terrestrial), este último grande aposta do Oscar, mas derrotado (justamente) por Gandhi.
GANDHI
LANÇAMENTO: 1982 (ÍNDIA/ REINO UNIDO)
DIREÇÃO: RICHARD ATTENBOROUGH
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,6
LANÇAMENTO: 1982 (ÍNDIA/ REINO UNIDO)
DIREÇÃO: RICHARD ATTENBOROUGH
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,6
2 comentários:
Fala Gui blz?!
Bons filmes não essa de tempo né? Existem filmes que tem cerca de uma hora e a gnt não vê a hora de acabar logo.
Ow, li aí que este filme derrotou ET. Deve ser muito bom mesmo, pois até hoje eu acreditava que ET havia levado a estatueta de melhor filme.
No TL tem um Mais Mais, td vez que faco essas postagens lembro de ti... passe lá depois.
Abracos
Olá GUI!
Este filme do Sir. Attenborough é realmente um clássico. Um filme definitivo sobre a vida de Ghandhi.
Kingsley está perfeito e o filme tbm é algo que o diretor planejava há anos!
Abs.
Rodrigo
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