02 dezembro 2010

TOP 1976 - Um Estranho no Ninho

Imagine um grupo de pacientes de um hospital psiquiátrico sendo constantemente instigado a descumprir as ordens da equipe médica e a buscar sua liberdade por meio das idéias libertárias de um presidiário federal aparentemente saudável, que se aproveita displicentemente da loucura mentirosa para se livrar do trabalho na cadeia. Essa é a premissa de Um Estranho no Ninho, segundo filme da história do Oscar a levar para casa as cinco principais estatuetas da Academia (Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro), em 1976 (o primeiro foi o Capriano Aconteceu Naquela Noite, no Oscar de 1935).

A peça principal para o sucesso da trama é o personagem trapaceiro Randle Patrick McMurphy, encarnado brilhantemente por Jack Nicholson (depois de ser recusado por Marlon Brando e Gene Hackman). O ator em início de carreira na época fez com que um simples mentiroso se tornasse um dos personagens mais complexos e cativantes da história do cinema mundial. A compreensão do roteiro se dá através da leitura das entrelinhas das cenas, uma vez que a história não é simplesmente o que se mostra na tela, mas cheia de símbolos metafóricos e alusões subjetivas, o que não faz, no entanto, que Um Estranho no Ninho se torne “cabeça” demais ou distante da empatia popular (graças a soberba direção do tcheco Milos Forman, que mais tarde viria a dirigir o musical Hair e o vencedor do Oscar Amadeus).

Todas as cenas se passam no interior do manicômio, acompanhando a rotina dos internos, as sessões de terapia, as tentativas de Mac (McMurphy) de tornar mais prazerosa a estadia dos colegas (e consequentemente a dele) e a repressão da enfermeira-chefe Mildred Ratched (Louise Fletcher, ganhadora do prêmio de Melhor Atriz naquele ano), que a todo custo impedia qualquer atitude que contradissesse as normas do local. Fletcher conferiu a personagem uma maldade travestida de doçura, mudando gradualmente seu humor ao longo da produção. Bárbara!

Sem que percebam, os internados vão sendo influenciados pela conduta de Mac e passam a querer imitá-lo, serem iguais a ele, o que desagrada mais ainda os profissionais da instituição, que ao mesmo tempo em que não agüentam mais as confusões geradas pelo novo paciente, não têm certeza de sua saúde mental, sendo obrigados a mantê-lo sob custódia até que tudo seja esclarecido. Nesse ínterim, um novo mundo de liberdade está sendo apresentado aos pacientes, fazendo com que os métodos de tratamento do hospício sejam repensados.

Este clássico do cinema que não pode deixar de ser visto por quem se considera um cinéfilo de verdade traz ainda as presenças de alguns nomes que futuramente seriam conhecidos no mundo todo por papéis memoráveis, como Danny DeVito (que interpreta o louco Martini) e Christopher Lloyd (Taber). Além deles, Will Sampson se destaca no papel do índio surdo-mudo Chefe Brondem, pupilo de Mac, que finalmente encontra uma motivação para fugir daquela prisão após conhecer o amigo rebelde.

Por meio da contradição entre liberdade (mundo) e prisão (hospital), Um Estranho no Ninho tece importantes discussões (implícitas no roteiro) acerca da natureza humana e os limites de nossas loucuras. É essencial não apenas para os apreciadores da sétima arte, mas para todos que buscam se achar em meio a confusão que é nossa sociedade. Mais três filmes concorreram ao posto de Best Picture em 1976. São eles: Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, que traz Al Pacino após o sucesso em O Poderoso Chefão I e II), Nashville, segundo longa de Robert Altman, Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, e o badalado Tubarão (Jaws), de Steven Spielberg.

UM ESTRANHO NO NINHO (ONE FLEW OVER THE CUCKOO'S NEST)
LANÇAMENTO: 1975 (EUA)
DIREÇÃO: MILOS FORMAN
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,0


Um comentário:

Tô Ligado disse...

Opa... fala Gui.Incrível como ps filmes do JN sao sempre bem aceitos pela crítica e pelo publico.