29 novembro 2010

TOP 1974 - Golpe de Mestre

Parece que o modelo instituído pelo cinema moderno veio pra ficar nas produções americanas a partir do final da década de sessenta. No filme vencedor do Oscar de 1974, Golpe de Mestre, mais uma vez somos apresentados a protagonistas nada corretos (moralmente falando) e que, se postos a prova, provavelmente não seriam exemplos de conduta a ninguém. Eles são Johnny Hooker (Robert Redford) e Henry Gondorff (Paul Newman), dois trapaceiros que se juntam para se vingarem do criminoso Doyle Lonnegan (Robert Shaw), assassino de um antigo colega de Hooker, que o ajudou a roubar uma grande quantia em dinheiro de um dos capangas de Lonnegan.

Após a morte do amigo, Hooker vai atrás de Gondorff (por conhecer suas exímias habilidades como trapaceiro) para lhe pedir que o ajude a elaborar um plano para se vingar de Lonnegan. Depois de conseguirem certo êxito em pequenos golpes contra o bandido no Pôcker, é a vez da corrida de cavalos ser o mote para o plano que arquitetam. Será a maior e única chance dos dois conseguirem aplicar a tão sonhada vingança.

Redford e Newman estão espetaculares em seus papéis. Já acostumados a trabalharem juntos (dividiram o protagonismo do sucesso Butch Cassidy, em 1969), têm uma ótima sintonia, perceptível aos olhos dos espectadores. Os dois encarnam típicos pilantras, com o ar misterioso, o sarcasmo e a ironia suficientes para encantar todos que assistem essa obra-prima do cinema. A relação que os personagens traçam entre seus atos ilícitos e o carisma que possuem é algo misteriosamente magnífico.

A edição do longa é outro ponto a ser destacado: a montagem é toda feita em forma de paginação (capítulos contam a história. Cada capítulo contém uma página de título que aparece - acompanhada de um desenho - e desaparece por meio do efeito de página). Além disso, a transição entre cenas é feita das mais variadas maneiras, desde um simples fade-out até um afunilamento que destaca determinado objeto ou uma inversão de eixo, uma linha que corta toda a tela e se estende seqüencialmente para a esquerda ou direita etc. São muitos efeitos que, juntos, conferem um universo de fábula para a produção, tornando-a mais leve e gostosa de ser vista.

A trilha sonora é deslumbrante. Por meio de solos de piano, a história é contada sem que haja tensão, mesmo nos momentos mais sérios da trama. A intenção do diretor George Roy Hill, segundo a própria divulgação do filme, era produzir uma comédia, o que foi brilhantemente conseguido, graças a maestria da equipe de pré e pós produção, que fez com que nós, meros receptores do produto final, fiquemos abismados com o resultado conseguido mais de 40 anos depois.

Para finalizar, não poderia deixar de mencionar o final surpresa que O Golpe de Mestre reserva. Para quem ainda não assistiu o filme, o choque causado por um acontecimento inesperado parece destruir todos os planos enveredados até então, o que deixa personagens e espectadores totalmente confusos. Um dos finais mais bem elaborados que eu já vi. Adorei!

Naquele ano ainda concorreram a Melhor Filme: Gritos e Sussurros (Viskningar och rop - Ingmar Bergman), Um Toque de Classe (A Touch of Class), Loucuras de Verão (American Graffiti - George Lucas, antes de começar a produzir Star Wars) e O Exorcista (The Exorcist, único terror a concorrer ao prêmio-mor do Oscar até hoje).

GOLPE DE MESTRE (THE STING)
LANÇAMENTO: 1973 (EUA)
DIREÇÃO: GEORGE ROY HILL
GÊNERO: COMÉDIA/ DRAMA
NOTA: 9,3

26 novembro 2010

1/3 ESTREIA - Demônio

Hoje estreia a mais nova produção com o dedo do incompreensível M. Night Shyamalan, Demônio. Minha falta de admiração por ele (assim como a de todos os seus fãs espalhados pelo mundo) começou quando a qualidade de seus filmes passou a diminuir um pouco, até chegar ao cúmulo da mediocridade em O Fim dos Tempos (2008). Desde O Sexto Sentido (1999), primeiro longa do diretor, sua capacidade de contar histórias de suspense e terror por meio de roteiros aparentemente simples foi atestada e corroborada pelas produções seguintes (Corpo Fechado [2000], Sinais [2002], A Vila [2004]). Acontece que em 2006 chegou ao circuito comercial um tal de A Dama da Água, fracasso total de público e crítica, seguido pelo péssimo O Fim dos Tempos, em 2008, e pelo chatíssimo O Último Mestre do Ar, em 2010.

Mesmo estando com medo do que me espera na sessão de Demônio, ainda me resta uma ponta de esperança que me faz acreditar que talvez o talento de Shyamalan estivesse adormecido durante alguns anos e agora volte de vez. A história do filme? Cinco pessoas desconhecidas entre si ficam presas em um elevador num prédio comercial e passam a morrer misteriosamente. O motivo? Uma delas é o demônio em pessoa. Esta é a primeira parte da trilogia Night Chronicles, que já tem como projeto a segunda parte “Reincarnate”, longa que conta a história de um júri popular assombrado pelo fantasma da vítima do assassinato que julgam. Os roteiros, simplórios em sua origem, podem se salvar diante de uma direção firme e talentosa, como aquela mostrada no início da carreira de Shy. Vamos torcer...e ir correndo para o cinema!

DEMÔNIO (DEVIL)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: DREW DOWDLE E JOHN ERICK DOWDLE
GÊNERO: TERROR
VONTADE: 10,0


Outras quatro produções são lançadas hoje no circuito cinematográfico nacional. São elas:

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS (You Will Meet a Tall Dark Stranger) EUA, 2010. Direção: Woody Allen. Gênero: Comédia/ Romance. Elenco: Gemma Jones, Naomi Watts, Josh Brolin, Anthony Hopkins, Antonio Banderas, Lucy Punch, Freida Pinto, Pauline Collins, Anna Friel, Roger Ashton-Griffiths.
VONTADE: 10,0

CENTURIÃO (Centurion) Reino Unido, 2010. Direção: Neil Marshall. Gênero: Épico. Elenco: Michael Fassbender, Dominic West, Olga Kurylenko.
VONTADE: 5,0

OS OUTROS CARAS (The Other Guys) EUA, 2010. Direção: Adam McKay. Gênero: Comédia/ Ação. Elenco: Mark Wahlberg, Will Ferrell, Eva Mendes, Samuel L. Jackson, The Rock.
VONTADE: 7,0

UM QUARTO EM ROMA (Habitación en Roma) Espanha, 2010. Direção: Julio Medem. Gênero: Drama. Elenco: Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso.
VONTADE: 6,0

Sexta-feira que vem o 1/3 ESTREIA está de volta. Enquanto isso, continuem acompanhando o TOP 1/3 (que está a todo vapor) e não percam o novo RANKING que será publicado na semana que vem. Bom final de semana a todos.

25 novembro 2010

TOP 1973 - O Poderoso Chefão

Do início ao fim, O Poderoso Chefão surpreende pela capacidade de prender o espectador num assunto que, aparentemente, não diz respeito a nossa realidade brasileira: a máfia italiana. Mesmo tendo um grande contingente de descendentes do país da bota, o máximo que nos aproximamos desta realidade é por meio da violência urbana que assola nossas metrópoles mobilizando articulados grupos fortemente armados. Quando terminei de assistir o filme (anteontem à noite) já me veio à cabeça a série de ataques de traficantes a carros e ônibus que ocorre no Rio de Janeiro desde o último domingo. O longa mostra a série de percalços enfrentados pela família Corleone após a recusa em entrar para o mercado de tráfico de drogas em Nova Iorque. Nossa violência atual seria, portanto, uma evolução da mostrada no filme?

Sem ser simplista na afirmação, acredito que a diferença está no fato da sutileza com a qual as famílias influentes nos assuntos ilícitos atuavam, mantendo a hegemonia inclusive sobre o poder público (polícia, vereadores, juristas) e o apelo bélico que os bandidos atuais têm de recorrer para manter um status de poder na sociedade. Além disso, a quantia de dinheiro envolvido é bem maior quando se estabelece outras fontes de renda que não somente o mercado do tráfico. A máfia siciliana em Nova Iorque na década de 40 controlava, através do poder de cinco grupos familiares, vários tipos de assuntos ilícitos, lucrando por meio de trocas de favores. A família mais poderosa, no que diz respeito ao raio de influência, era a Corleone, comandada pelo patriarca Vito Corleone (Marlon Brando), chamado por muitos de padrinho, pela disposição em ajudar qualquer um que quisesse ser seu amigo (por outro lado, cobrava favores em troca, além de ser totalmente insensível com aqueles que não quisessem ajudá-lo a manter seu poder).

Após a decisão das demais famílias de entrar para o mercado do tráfico de drogas, acreditando ser uma fonte de lucro bem mais rentável do que as outras, e a recusa de Vito, alegando ser um caminho perigoso, inclusive para a manutenção do apoio da polícia e de alguns políticos, os Corleone passam a ser perseguidos (principalmente pelos Tattaglia e os Barzini) e Dom Vito é baleado numa armadilha. Com o pai hospitalizado, os filhos da família (Santino “Sonny” Corleone [James Caan], Frederico “Fredo” Corleone [John Cazale], Constanzia “Connie” Corleone [Tália Shire], Tom Hagen [Robert Duvall] e Michael Corleone [Al Pacino]) têm de prosseguir com os negócios, além de quererem se vingar da violência contra o pai.

A história é aparentemente simples, mas a maneira com que Francis Ford Coppola, o diretor, consegue conduzir a trama é inteiramente deliciosa, beirando a perfeição em algumas cenas. A relação familiar é ponto de refúgio para a violência durante toda a produção (cenas de casamento, batizado e relações familiares são entremeadas de tiroteios, assassinatos, emboscadas etc). A dualidade entre frieza e amor é ponto alto na história, fazendo com que nos compadeçamos e odiemos ao mesmo tempo os protagonistas.

Todo o poder de O Poderoso Chefão é conquistado, também, graças às interpretações maravilhosas de Marlon Brando (que conquistou seu segundo Oscar de Melhor Ator [o primeiro tinha sido em Sindicato de Ladrões]) e de Al Pacino (que praticamente inicia sua carreira com esse papel). A trilha sonora é inesquecível, sendo lembrada por todos os adoradores do cinema até hoje. Além disso, os diálogos são inteligentíssimos, com algumas falas memoráveis, e o filme é repleto de seqüências cênicas antológicas.

Sem me estender muito, já que se não me policiasse ficaria elogiando a produção durante horas, finalizo com uma curiosidade: O Poderoso Chefão foi o único vencedor do prêmio de Melhor Filme, na história do Oscar, que obteve menos estatuetas que qualquer outro candidato ao mesmo posto. Em 1973, Cabaret conquistou 8 estatuetas, enquanto que o Poderoso Chefão conseguiu apenas 3. Além dele e de Cabaret, concorreram a Best Picture os longas Lágrimas de Esperança (Sounder), Os Emigrantes (Utvandrarna) e Amargo Pesadelo (Deliverance).

O PODEROSO CHEFÃO (THE GODFATHER)
LANÇAMENTO: 1972 (EUA)
DIREÇÃO: FRANCIS FORD COPPOLA
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 9,5

24 novembro 2010

TOP 1972 - Operação França

Dois policiais nova-iorquinos nada convencionais dividem a cena em Operação França, filme vencedor da estatueta-mor do Oscar no ano de 1972. A trama de ação acompanha a busca desenfreada dos detetives Jimmy ‘Popeye’ Doyle (Gene Hackman) e Buddy ‘Cloudy’ Russo (Roy Scheider) por uma suposta gangue de contrabandistas de drogas que pretende fazer negócio com clientes franceses. A suspeita dos policiais, no entanto, se dá apenas por meio de indícios nada concretos, o que revolta outros membros da polícia, inclusive o comandante da base de operações. A certeza de que há algo de errado, aliado a teimosia de Popeye, faz com que a dupla subverta algumas ordens e persista na investigação.

Para garantir ao espectador uma veracidade inédita na história do cinema, o diretor William Friedkin lançou mão de alguns artifícios, como um laboratório intensivo na periferia de Nova Iorque entre os dois atores e os verdadeiros Popeye e Cloudy que, em 1962, apreenderam o maior carregamento de heroína contrabandeada dos Estados Unidos; o uso do improviso nas cenas de perseguição, sem que houvesse aviso prévio à população (o que gerou alguns imprevistos na cena em que o carro do detetive segue um trem suspenso à 140 quilômetros por hora durante 22 quarteirões, resultando em vários acidentes reais que não estavam no roteiro); e a preferência pela manipulação manual das câmeras, conferindo às cenas um tom tremido e documental.

As atuações são excelentes, principalmente a de Hackman, que ganhou espaço em Hollywood graças a essa produção e inclusive levou a premiação de Melhor Ator para casa naquele ano. Seu comportamento bonachão e imprudente diante do vídeo construiu um protagonista controverso, uma vez que dividiu opiniões sobre a empatia ou repulsa que causava entre os espectadores. É fato que responde por inúmeras seqüências memoráveis que inspiram os sucessores do gênero até hoje, como a perseguição longa e muda que se dá nas ruas de NY entre três policiais e três suspeitos de serem contrabandistas, a cena do tiro na escada do trem (surpreendente!!) e a perseguição entre o carro e trem suspenso (uma das melhores que eu vi até hoje).

A trilha sonora contribui para criar a tensão necessária ao suspense que o diretor quis expressar no longa, auxiliando, inclusive, a amenizar a falta de diálogos do filme, que suspende explicações verbais, apoiando-se nas ações meticulosamente insinuantes para contextualizar os mais desatentos. Outro trunfo do diretor é o final da história, ambíguo e sugestivo, completado pelo desfecho das histórias reais daqueles que influenciaram os personagens. Genial! É a primeira vez, pelo menos entre os vencedores do Oscar até aquele ano, que o final de um longa fica em aberto, vulnerável a interpretação de cada espectador.

OBS: Reparem nos primeiros minutos do filme. Há um paralelismo entre cenas na América e na França, chegando ao ponto de confundir o espectador sobre qual será a principal locação do filme. Mais um ponto positivo para a proposta cinematográfica de Friedkin.

Além de Operação França, foram candidatos a Best Picture em 1972 os seguintes filmes: A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show), Nicholas e Alexandra (Nicholas and Alexandra), Um Violinista no Telhado (Fiddler on the Roof) e Laranja Mecânica (Clockwork Orange), considerada por alguns críticos a maior injustiça da história do Oscar. Os dois filmes são realmente muito bons, mas os gêneros são completamente diferentes e o problema de Laranja Mecânica é que envelheceu bem, mas na época de seu lançamento não conseguiu expressar sua verdadeira importância para a história do cinema mundial.

OPERAÇÃO FRANÇA (THE FRENCH CONNECTION)
LANÇAMENTO: 1971 (EUA)
DIREÇÃO: WILLIAM FRIEDKIN
GÊNERO: POLICIAL/ AÇÃO
NOTA: 8,8

23 novembro 2010

TOP 1971 - Patoon - Rebelde ou Herói?

Não é novidade para quem acompanha o 1/3 que eu não gosto de filmes de guerra, principalmente aqueles que se destinam a retratar a operacionalização do conflito, como estratégias de ataques, embate entre linhas de poder, corrupção de influências etc. Para mim, o melhor filme de guerra é aquele que dedica tempo a tentar transferir para o espectador os conflitos internos de quem vive a realidade de um campo de batalha, por meio da análise psicológica dos personagens. Que me perdoem os admiradores, mas Patoon – Rebelde ou Herói é muito chato.

O desenrolar dos fatos se dá num ritmo lento e monótono (preenchendo 2 horas e 56 minutos de gravação!!) e as locações não são as mais charmosas. Não posso negar que a fotografia seja deslumbrante, mostrando parte do norte da África e da Itália, mas a mania de alguns diretores de estenderem as cenas de ação bélica só para deixar o filme mais real não cola e só impede o bom aproveitamento de quem assiste.

Quem dá nome a cinebiografia é o general norte-americano George Patoon (George C. Scott), um dos aliados mais temidos entre os nazistas na Segunda Guerra Mundial (por causa de suas campanhas heróicas) e um dos comandantes mais desajeitados no que dizia respeito à comunicação interpessoal entre a sua tropa. Era totalmente insensível quando buscava a vitória e tinha declarada obsessão pela guerra e amor ao campo de batalha. Seus subordinados eram constantemente desrespeitados por ele, principalmente quando faziam corpo mole ou alegavam estar sofrendo dos nervos devido a pressão da guerra.

A severa personalidade de Patoon faz com que ele esbofeteie um soldado publicamente por ele ter alegado não estar agüentando mais a guerra, atitude esta que promove sua exoneração do cargo de comandante do Terceiro Exército Americano e o afastamento da região. Da brilhante ascendência à decadência, o protagonista, em soberba atuação de George C. Scott, mantém sua obstinação pela glória e a personalidade conturbada, provando que se relaciona bem melhor com a solidão do front de batalha do que com as outras pessoas (premissa explicitada pelo roteiro no momento em que, fracassado, Patoon passeia solitário com seu cachorro de estimação, talvez a única campainha que não discuta suas ordens nem desagrade seu egocentrismo).

Esqueci de comentar antes, mas quem assina o roteiro de Patoon é ninguém mais ninguém menos que Francis Ford Coppola!! O aclamado diretor já mostrava seu talento nesta produção, que levou no total 8 prêmios da Academia. Além dele, disputaram a estatueta de Melhor Filme em 1971 os longas: Love Story: Uma História de Amor (Love Story), Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces), Aeroporto (Airport) e M.A.S.H.

OBS: Não deixe de prestar atenção na primeira cena do filme, que antecede os créditos e mostra Patoon discursando para uma suposta tropa (que não aparece. Ele dirige as palavras para o espectador). No fundo, uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos ilustra seu imponente e ufanista discurso, que glorifica os americanos, subestima outros povos, ao mesmo tempo em que revela sua eficiência bélica e seu comprometimento com a causa da guerra, declarando, desde os primeiros minutos, sua bipolaridade.

PATOON – REBELDE OU HERÓI? (PATOON)
LANÇAMENTO: 1970 (EUA)
DIREÇÃO: FRANKLIN J. SCHAFFNER
GÊNERO: DRAMA/ BIOGRAFIA
NOTA: 7,5

TOP 1970 - Perdidos na Noite

Perdidos na Noite, filme vencedor do Oscar em 1970, conta a trágica história da amizade entre Joe Buck (Jon Voight) e Enrico Salvatore Rizzo “Ratso” (Dustin Hoffman), duas figuras solitárias que tentam ganhar a vida de várias maneiras possíveis em Nova Iorque. Joe, um falso cowboy vindo do interior do Mississipi em busca de dinheiro fácil na cidade grande, encontra o coxo charlatão “Ratso”, carimbado falsário capaz de enganar até a própria mãe para levar vantagem. Juntos, descobrem que a sobrevivência em NY é mais custosa do que imaginavam.

Após sair de casa para trabalhar como michê em Nova Iorque, Buck, caracterizado como o típico cowboy galanteador, descobre que nem todas as mulheres caem aos seus pés, como imaginava que seria. O fracasso profissional faz com que encontre em Rizzo, suposto cafetão profissional, uma luz para juntar a grana esperada. Inesperadamente, Rizzo blefa, roubando o pouco dinheiro que o cowboy racionava para possíveis emergências. Depois de experimentarem o quão desgostosa é a realidade de um miserável, decidem juntar as forças para tentarem sobreviver juntos, até o dia em que conseguirão dinheiro necessário para se mudarem para a Califórnia: a terra das oportunidades. Nasce daí a amizade que conduz a pessimista trama até seu emocionante desfecho.

Marco na história de Hollywood e do cinema mundial, o filme é pioneiro ao retratar alguns temas tabus até os dias atuais, como a prostituição masculina e a homossexualidade. Além disso, para completar sua inserção na categoria “cinema moderno”, Perdidos na Noite trabalha com inversão de papéis, construindo dois protagonistas que poderiam, perfeitamente, ser vilões, uma vez que se mostram vulneráveis a qualquer tipo de comportamento (mesmo que amoral) a fim de realizarem seus objetivos. A nudez feminina (e um pouco da masculina) é outra novidade explicitada na produção, única imprópria para menores de idade (na época) a levar a estatueta de Melhor Filme até hoje.

Ponto alto da trama, a interpretação de Voight e Hoffman é de aplaudir em pé. Em cada cena mais convincentes, os dois mantêm uma sintonia e uma perfeição na construção de seus complexos personagens que passamos a nos compadecer da história dos dois e a torcer para um final menos trágico. A trilha sonora é outro destaque da produção: ambientada no centro de Nova Iorque, a fotografia é abrilhantada pela música country que compõe, de maneira eficiente, a caracterização da paradoxa solidão dos protagonistas em meio a milhões de pessoas. Por falar em fotografia, os efeitos visuais experimentais usados no longa, além de condizerem com o momento histórico-social do movimento hippie e liberação sexual nos Estados Unidos (a turma do artista Andy Warhol é homenageada no filme), são novidade entre os indicados da Academia que, como sempre, teve predileção pelo inédito e mais polêmico.

Midnight Cowboys, título original da produção, é uma expressão utilizada a partir dos anos 50 no centro e periferia de NY, referindo-se aos garotos de programa que atendiam na cidade. Além do vencedor, concorreram ao posto de Melhor Filme: Ana dos Mil Dias (Anne of the Thousand Days), Z, Butch Cassidy (Butch Cassidy and the Sundance Kid) e Alô, Dolly! (Hello, Dolly!).

Obs: Para quem não sabe, Joe Voight é pai da nossa conhecida Angelina Jolie. Dizem às más línguas, porém, que os dois brigaram feio há alguns anos atrás e não se falam desde então.

PERDIDOS NA NOITE (MIDNIGHT COWBOYS)
LANÇAMENTO: 1969 (EUA)
DIREÇÃO: JOHN SCHLESINGER
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,0

19 novembro 2010

1/3 ESTREIA - Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

A saga do bruxinho que encanta leitores e cinéfilos de todo o mundo desde 2000 chega ao (quase) fim. É que nessa sexta-feira estreia a primeira parte do último capítulo da história de Harry Potter e seus amigos aprendizes de feiticeiros na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. O livro, que tem como título As Relíquias da Morte, foi lançado em 2007, batendo o recorde de vendas nas primeiras vinte e quatro horas: foram mais de 11 milhões de exemplares no primeiro dia de lançamento.

A trama do filme conta o início da busca de Harry pelas horcruxes (sete partes nas quais Lord Valdemort, grande inimigo de Potter, dividiu seu corpo, fazendo com que seu poder se diluísse e se tornasse maior). Valdemort, entretanto, está cada vez mais forte e mais próximo de conseguir matar o menino-bruxo, que tem que correr contra o tempo. A alegria e a descontração dos primeiros filmes deixam de existir, dando lugar para a angústia e a lugubridade da morte que se aproxima.

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1 (HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS – PART 1)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: DAVID YATES
GÊNERO: AVENTURA
VONTADE: 10,0

Qualquer lançamento da semana que não o Harry Potter será ofuscado pela história do bruxinho. Entretanto, ainda estreiam nesta sexta-feira:

UM HOMEM MISTERIOSO (The American) EUA, 2010. Direção: Anton Corbijn. Gênero: Suspense. Elenco: George Clooney, Thekla Reuten, Bruce Altman.
VONTADE: 5,0

A VIDA DURANTE A GUERRA (Life During Wartime), EUA, 2010. Direção: Todd Solondz. Gênero: Drama. Elenco: Shirlei Henderson, Michael K Williams.
VONTADE: 7,0

UM HOMEM QUE GRITA (Un Homme qui Crie) França/Bélgica/Chade, 2010. Direção: Mahamat-Saleh Haroun. Gênero: Drama. Elenco: Youssouf Djaoro, Dioucounda Koma, Emile Abossolo M'bo.
VONTADE: 7,5

MOSCOU, BÉLGICA (Aanrijding In Moscou) Bélgica, 2008. Direção: Christophe Van Rompaey. Gênero: Drama. Elenco: Barbara Sarafian, Jurgen Delnaet, Johan Heldenbergh.
VONTADE: 5,0

3 HOMENS E UMA NOITE FRIA(Kolme viisasta miestä) Finlândia, 2008. Direção: Mika Kaurismäki. Gênero: Drama. Elenco: Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso.
VONTADE: 4,0

O 1/3 ESTREIA volta na semana que vem. Até lá!

18 novembro 2010

Doc. Desde o Tempo do Trem

Pessoal, o TOP 1/3 volta na semana que vem. Minha vida está bem corrida. Por enquanto, vejam abaixo meu primeiro documentário, realizado para a disciplina de Telejornalismo B, da faculdade, no final do ano passado. Aos poucos vou mostrando meus trabalhos em vídeo aqui no 1/3...

Até!


A produção mostra a trajetória da FEPASA, antiga estação ferroviária daqui de Campinas (homônima da linha férrea FEPASA, uma das maiores e mais importantes do Estado de São Paulo no século XX, que cruzava a cidade), que virou centro cultural após a desativação da linha de trem, em 2003.


12 novembro 2010

1/3 ESTREIA - Muita Calma Nessa Hora

Para quem acompanha o novo humorístico da Rede Globo, Junto e Misturado (sextas, 23h), estreia hoje a mais nova comédia nacional comandada pela trupe de Bruno Mazzeo, Muita Calma Nessa Hora, que promete arrancar gargalhadas de todos. Com a participação em peso da nova safra de comediantes da TV, como Marcelo Adnet (MTV), Marcos Mion (Os Legendários), Maria Clara Gueiros, Nelson Freitas (Zorra Total) e uma ponta mais que exótica de Sérgio Mallandro, a trama conta a viagem atrapalhada de três amigas que decidem ir à praia a fim de relaxarem, mas que não aguardam encontrar muita confusão.

O diferencial do humor apresentado por esta turma é a inteligência, a criatividade e a falta de preconceitos. Numa sociedade que exige que o politicamente correto seja praticado a todo o momento, é saudável que alguns subversores façam rir sem receio de que essa ou aquela piada afete algum grupo social. Como conseguem isso? Com a sacada de incluírem tudo e todos em seus textos afiados por meio de piadas apropriadas e engraçadíssimas. Assistindo ao trailer no cinema ri muito. Espero que a dose se repita em dimensão bem maior ao longo da exibição.

MUITA CALMA NESSA HORA
LANÇAMENTO: 2010 (BRASIL)
DIREÇÃO: FELIPE JOFFILY
GÊNERO: COMÉDIA
VONTADE: 10,0

Mas hoje ainda temos, além do destaque, mais quatro lançamentos. São eles:

REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR. Brasil, 2010. Direção: André Klotzel. Gênero: Drama.
Elenco: Germano Haiut, Aramis Trindade, Fabiula Nascimento, Selton Mello, Ana Lúcia Torre, Marcos Cesana.
VONTADE: 9,5

JACKASS 3D. EUA, 2010. Direção: Jeff Tremaine. Gênero: Comédia. Elenco: Steve-O, Johnny Knoxville, Jason ´Wee Man` Acuña, Ryan Dunn, Bam Margera.
VONTADE: 9,0

MINHAS MÃES E MEU PAI (The Kids Are All Right) EUA, 2010. Direção: Lisa Cholodenko. Gênero: Drama. Elenco: Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson, Julianne Moore, Annette Bening.
VONTADE: 9,0

RED, APOSENTADOS E PERIGOSOS (Red) EUA, 2010. Direção: Robert Schwentke. Gênero: Suspense. Elenco: Mary-Louise Parker, Richard Dreyfuss, Ernest Borgnine, John Malkovich, Morgan Freeman, Helen Mirren, Brian Cox, Julian McMahon, Bruce Willis, John C. Reilly.
VONTADE: 8,0

Semana que vem tem mais 1/3 ESTREIA. Bom fim de semana e muitas sessões a todos. Ah, não pude indicar aqui (pois só posto longas), mas hoje estreia o documentário SENNA, que conta a ascensão e queda do maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. Não percam!

OBS: Essa é minha centésima postagem!! Pá pá pá pá pá pá (palmas pra mim)..rsrsrsrs

11 novembro 2010

RANKING - Melhores Cantores

E não é que outubro passou e eu esqueci de postar o RANKING no dia 10? Para compensar, esse mês postarei em dobro: hoje e depois do dia 20. Para fugir um pouco do cinema, listo os melhores cantores da MPB que já passaram pelos nossos palcos. Lembrando que a ordem é pura e simplesmente fruto do meu gosto musical.


10º LUGAR: LUIZ MELODIA/ SEU JORGE

Confundidos por muitos como irmãos (pela semelhança física), dividem a décima posição da lista por imprimirem uma brasilidade declarada em suas interpretações e pelo suingue contagiante que cada um carrega nas canções. TOP Seu Jorge: “Mina do Condomínio”/ TOP Luiz Melodia: “Negro Gato”.


9º LUGAR: ARNALDO ANTUNES/ NANDO REIS

Ambos ex-integrantes do Titãs, primam pelo experimentalismo e pela verve alternativa em suas composições e interpretações. Rock, samba e pop se misturam e dão o tom mágico que, juntamente com as letras preciosamente bem escritas, garantem a altíssima qualidade do som dos dois artistas. TOP Arnaldo Antunes: “Não Vou me Adaptar”/ TOP Nando Reis: “Resposta” e “Sou Dela”.

8º LUGAR: RAUL SEIXAS

O Maluco Beleza vive na memória de todos seus fãs até hoje. Nas décadas de 70 e 80 revolucionou o rock brasileiro com suas letras de protesto ou apenas as canções de desbunde. Sarcástico, irônico e divertido, Raulzito é sempre atual nos fins das festas ou nas baladas alternativas. TOP Raul Seixas: “Gitá”.


7º LUGAR: DIOGO NOGUEIRA/ ARLINDO CRUZ

Respectivamente discípulo e mestre do samba, ambos preservam em suas canções a tradicionalidade do gênero genuinamente brasileiro. Diogo é filho do grande João Nogueira, baluarte do samba carioca, enquanto Arlindo tem origem no grupo Fundo de Quintal, seguindo carreira solo a partir da década de 90. TOP Diogo Nogueira: “Vai Saber”/ TOP Arlindo Cruz: “Madureira”.


6º LUGAR: DIEGO MORAES
Criado em Campinas, Diego ficou em segundo lugar no Ídolos 2009, mas já alçou uma posição privilegiada em sua carreira. A influência do jazz confere a suas canções (e a seu traquejo no palco) uma espontaneidade única que, juntamente com sua voz potente e inacreditavelmente flexível, forma um dos maiores cantores que o futuro reserva. TOP Diego Moraes: “Muderno”.

5º LUGAR: DJAVAN

Quase unanimidade na música brasileira, consegue compor sucessos de massa, que são ao mesmo tempo populares e “cult”. Dono de uma capacidade absurda de brincar com a voz, Djavan mantém desde a década de 80 uma sonoridade particular e carismática. TOP Djavan: “Sina”.

4º LUGAR: ROBERTO CARLOS

Há 50 anos, o rei atrai multidões ávidas por ouvirem as centenas de sucessos, sejam da época da Jovem Guarda ou as canções mais românticas. Compôs freneticamente ao longo do tempo, o que lhe rendeu um dos maiores repertórios da música brasileira. Sempre com um apelo popular, é sinônimo de excelência para os fãs de todas as idades. TOP Roberto Carlos: “Detalhes”.


3º LUGAR: GILBERTO GIL

Mestre no violão, Gilberto Gil é um fenômeno musical que até já se arriscou pela política (como Ministro da Cultura). Brinca livremente com os tons, melodias experimentais e as letras geniais que louvam o nordeste e o Brasil. Pertencente ao que de melhor existe hoje na música, é história viva! TOP Gilberto Gil: Expresso 2222.


2º LUGAR: CHICO BUARQUE

O maior dos dribladores da censura militar por meio da palavra, Chico compôs centenas (ou até milhares) de canções que influenciam, motivam e incentivam qualquer aspirante a carreira musical que se preze até os dias atuais. De uns tempos pra cá, tem se dedicado exclusivamente a literatura, atividade que já o premiou várias vezes. TOP Chico Buarque: “Cotidiano”.

1º LUGAR: CAETANO VELOSO

É impressionante como não existe uma música do Caetano que eu não goste. O cara é foda! Não apenas suas composições inteligentes, insinuativas, mas sua interpretação única. Ele consegue ser eclético, não perdendo o bom gosto nem a qualidade musical em seus trabalhos. Na ativa desde a década de sessenta, é um dinossauro da música brasileira (que eu espero que não seja extinto tão cedo). TOP Caetano Veloso: “Eu Sou Neguinha?”.

BÔNUS

ZECA BALEIRO

A voz grave assusta, mas o cara é manso que só. Suas composições primam pela ousadia, subversão e crítica social. A criatividade com que produz e interpreta suas produções é o diferencial de Zeca, uma das maiores apostas da nova MPB. TOP Zeca Baleiro: “Telegrama”.



MILTON NASCIMENTO

Exaltando Minas Gerais há décadas, Milton consolidou sua carreira por meio de composições interpretadas pelas maiores vozes do Brasil. O talento nato é comprovado ainda pela voz suave, mas de uma força de expressão gigantesca. TOP Milton Nascimento: “Encontros e Despedidas”.


NEY MATOGROSSO

Não tão valorizado como merece, o talento de Ney infelizmente ainda é prejudicado pelo preconceito do povo brasileiro, que vê em sua orientação sexual um empecilho para que sua carreira deslanche. A interpretação vocal e principalmente a corporal fazem dele um ícone fundamental da música. TOP Ney Matogrosso: “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”.


10 novembro 2010

TOP 1969 - Oliver!

Vinte anos antes, em 1948, saía da mente habilidosa de David Lean (Doutor Jivago, Lawrence da Arábia, A Ponte do Rio Kwai) a mais memorável das versões cinematográficas para o protagonista do mais famoso romance de Charles Dickens: Oliver Twist. O órfão aprendiz de delinqüente ávido pelo amor de uma família real, entretanto, perdeu um pouco de seu brilho, carisma e até detalhes importantes de sua história quando, em 1968, o diretor Carol Reed resolveu transformar sua trágica trajetória em número musical (e como a Academia tem uma predileção escancarada por musicais, você já viu o que aconteceu né?).

A impressão ao assistir Oliver! vencedor do Oscar de Melhor Filme no Oscar de 1969, é que tudo é muito jogado e só existe para dar suporte aos números musicais e coreografias megalomaníacas. As cenas musicadas representam grande parte do filme, mas existem sem realmente terem um porquê (como acontece com as trocentas músicas inseridas em Cantando na Chuva [todas acertadamente bem posicionadas]). Ainda se o roteiro fosse original, dava um desconto, mas a embromação era evidente numa história que todos já conheciam.

Oliver Twist é o nome dado pelos educadores de um orfanato da Inglaterra a um menino encontrado na rua. Seu comportamento, no entanto, se mostra inadequado diante das normas internas do lugar (ele é muito comilão) o que faz com que o garoto seja vendido a uma família, que também o maltrata e julga sua mãe morta. Oliver foge e vai parar em Londres, onde conhece Dodger e outros garotos que, assim como ele, estão sozinhos na cidade grande. Para se sustentarem, são protegidos pelo Sr. Fagin, que em troca de comida e teto exige que trabalhem como batedores de carteira para ele. Após ser pego pela polícia e encaminhado para a casa do Sr. Brownlow, Oliver descobre o verdadeiro amor de uma família, mas é impedido de continuar morando lá pela gangue de Fagin, que tem medo que Oliver dedure sua atividade ilícita, e o seqüestra.

As canções são adequadas, inovadoras e até divertidas, porém são extremamente longas e desnecessárias em diversos trechos. O primeiro diálogo demora muito a aparecer, uma vez que toda a introdução da história é dada através de música. Pode ser que na época o ritmo da trama tenha agradado, mas com o tempo, o filme tornou-se muito cansativo. Ele não envelheceu bem, mesmo se tratando da história do cativante Oliver Twist.

Em contrapartida, no mesmo ano de 1969, poderia participar da disputa para Melhor Filme uma das obras primas de Ridley Scott: 2001 – Uma Odisséia no Espaço que, convenhamos, é bem melhor que Oliver! Porém, 2001 não chegou nem a ser candidato. Mais uma da Academia....Naquele ano, concorreram juntamente com o vencedor: Rachel, Rachel, Romeu e Julieta (Romeo e Juliet), O Leão no Inverno (The Lion in Winter) e Funny Girl – A Garota Genial (Funny Girl).

OLIVER!
LANÇAMENTO: 1968 (REINO UNIDO)
DIREÇÃO: CAROL REED
GÊNERO: DRAMA/ MUSICAL
NOTA: 7,0

09 novembro 2010

TOP 1968 - No Calor da Noite

Um filme policial, que dedica quase duas horas a desvendar o assassinato de um grande empresário morto em Sparta, no interior do Mississipi, é o tema central que carrega a divulgação de No Calor da Noite. Mais do que isso, porém, me foi apresentado durante a sessão desse clássico imperdível do diretor Norman Jewison: uma análise real e aterrorizante do preconceito racial nos Estados Unidos da década de sessenta e uma crítica inegável à clara segregação social existente entre o sul e o norte estadunidenses. As três camadas dramáticas aliadas garantem a excelência cinematográfica, auxiliada ainda mais pela bela fotografia, a trilha sonora (deslumbrante) e as soberbas interpretações dos protagonistas.

Sidney Poitier dá vida a Virgil Tibbs, um perito em homicídios da Filadélfia que está visitando a mãe no Mississipi quando é autuado pela polícia local apenas por ser negro e estar perto do local de um crime (o assassinato do Sr. Colbert, empresário responsável pela construção de uma grande fábrica na cidade). A humilhação pela qual passa vai aumentando a partir da descoberta por parte da população de seu verdadeiro ofício. Todos desacreditam que um negro possa se vestir bem, ganhar mais do que os brancos e ainda ser mais inteligente. Torna-se prioridade para Tibbs continuar na cidade até descobrir o verdadeiro assassino e provar para aquele povo que a cor não determina inferioridade.

Juntamente com essa discussão subliminarmente prescrita na trama, somos levados a conhecer as diferenças brutais entre a realidade da polícia do norte (capacitada, imparcial, criteriosa, minimalista nas apurações) e do sul dos EUA (medíocre do mais subalterno oficial até a alta cúpula do poder), relação que funciona como referência para uma reflexão mais profunda sobre a sociedade americana. O preconceito e a precariedade dos estados sulistas são representados pelo delegado Gillespie (Rod Steiger – ganhou como Melhor Ator), que desacredita na capacidade de Tibbs desde o início e ainda dispensa seus métodos investigativos (agindo pela indução e intuição).

A trilha sonora é composta por uma canção principal (In The Heat of the Night), composta exclusivamente para o filme por Ray Charles, e uma seleção perfeita de sons que garantem o suspense e a ação frenética (à la Agatha Christie) que o filme proporciona (a estatueta de Melhor Som foi levada por No Calor da Noite). As atuações são dignas das premiações recebidas, principalmente as da dupla de protagonistas, que arrebenta à frente do elenco, principalmente mais pro final da história, quando a pressão popular e a violência sobre Tibbs começam a se tornar sinal de perigo para o personagem.

Diante da empatia que tenho com o filme, acredito, entretanto, que ele não devia ter levado a estatueta principal no Oscar daquele ano. Em 1968, concorriam ao posto de Melhor Filme, além de O Fantástico Dr. Dolittle (Doctor Dolittle), outros três filmes soberbamente bem feitos. São eles: Adivinhe Quem Vem Para Jantar (Guess Who's Coming to Dinner), Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas (Bonnie & Clyde) e A Primeira Noite de um Homem (The Graduate), este último, para mim, o verdadeiro merecedor da premiação de Best Picture. A Academia, entretanto, adora filmes-mensagens, ou seja, aqueles que têm algo pra dizer além do que já dizem. Bláááááááá....

NO CALOR DA NOITE (IN THE HEAT OS THE NIGHT)
LANÇAMENTO: 1967 (EUA)
DIREÇÃO: NORMAN JEWISON
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 8,5


08 novembro 2010

TOP 1967 - O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

Parece que a Academia de Cinema de Hollywood gosta de premiar produções biográficas, mesmo que não apresentem a mesma qualidade técnica que seus adversários. No ano de 1967, mesmo que a minha teoria esteja certa, o principal vencedor do Oscar também contou com um mestre na direção: Fred Zinnemann. As duas características aliadas fizeram com que O Homem que Não Vendeu Sua Alma faturasse os prêmios de Melhor Filme, Direção, Roteiro, Ator e Fotografia.

Zinnemann, o aclamado diretor de Matar ou Morrer e A Um Passo da Eternidade (que conquistou o Oscar no final da década de 40) conseguiu resumir nas telonas a importância da existência de Thomas More, estadista inglês do século XVI que revolucionou a forma de se pensar o Estado ao desobedecer o rei Henrique VIII e dar sua vida pela Igreja Católica e por suas convicções enquanto exemplo de moralidade cristã.

Mesmo não sendo muito atraído por filmes épicos, confesso que me impressionei com a ambientação típica que o filme promove e com a adaptação da linguagem, que pediu mais erudicidade pela época em que o filme ocorre. Todas as cenas são indispensáveis e contribuem para que consigamos compreender toda a história (principalmente para quem não conhecia muito bem a vida do biografado, como eu).

O ponto negativo é que, mais do que uma biografia, a produção parece se tratar apenas de um perfil, uma vez que não se dedica a apresentar toda a trajetória de vida de More (que fez com que ele se tornasse importante para o mundo), mas sim apenas o fim de sua carreira e o episódio que envolve o divórcio do rei Henrique VIII. Os inúmeros textos publicado por ele, por exemplo, não são nem mencionados no longa.

O roteiro narra a nomeação de More como Chanceler do reino, as tentativas de Henrique VIII de convencer More a ficar do lado dele e apoiar seu divórcio com Catarina de Aragão (uma vez que ela é estéril e ele precisa de herdeiros para manter a família no poder), além de sua conivência na busca por um novo casamento com Ana Bolena, verdadeira rainha, segundo Henrique VIII. Diante da negação de More, o rei rompe relações com o Vaticano e instaura na Inglaterra a Igreja Anglicana, da qual se auto nomeia chefe absoluto.

Como católico fervoroso, More nega fazer um juramento que admite poder absoluto ao rei (inclusive mais do que Deus) por meio de seu silêncio. A própria divulgação do filme diz: “Seu silêncio era mais poderoso que palavras”. Sua convicção é tão grande que, mesmo condenado a morte por alta traição (por não ter se manifestado) mantem sua dignidade e é degolado (isso não é spoiler, uma vez que o filme é uma cinebiografia).

Paul Scofield, ator que interpreta More e que por sua deslumbrante atuação levou para casa a estatueta de Melhor Ator, é um dos responsáveis por esta obra prima. As cenas em que o protagonista sofre com a injustiça da Monarquia Absolutista do Rei Sol são de arrepiar (destaque para as cenas finais de julgamento, condenação e execução de Thomas).

Naquele ano, ainda concorreram ao posto de Best Picture: O Canhoneiro de Yang-Tsé (The Sand Pebbles), Como Conquistar as Mulheres (Alfie), Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who's Afraid of Virginia Woolf?) e Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando! (The Russians Are Coming! the Russians Are Coming!).

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA (A MAN FOR ALL SEASONS)
LANÇAMENTO: REINO UNIDO (1966)
DIREÇÃO: FRED ZINNEMANN
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 8,0

05 novembro 2010

1/3 ESTREIA - Jogos Mortais - O Final

Desde 2004, venho acompanhando estreia a estreia todos os capítulos da série de terror Jogos Mortais. A partir da quarta parte da saga de Jigsaw, pude ver seus testes macabros nos telões dos cinemas (o que configurou um charme a mais [e um tom agonizante] a minha empatia funesta pelas armadilhas montadas pelo assassino). É evidente que várias das seqüências foram criadas a partir de conveniências financeiras, premissa que levou a qualidade cinematográfica dos primeiros dois filmes para o brejo. A história foi se tornando inacreditável, chegando a beirar o improvável nos longas mais recentes, uma vez que o protagonista morre no quarto filme e, após isso, vários pupilos vão aparecendo na história apenas para comprovar para o espectador que o cara era fodão (e que você que está assistindo é um idiota).

Hoje estreia nos cinemas brasileiros o que foi divulgada como sendo a última parte da série. Acreditando ou não que este seja o fim, estou muito a fim de ver a carnificina (que desta vez é em 3D). O uso da tecnologia digital veio para tentar reanimar o público, fã da novidade criada há alguns anos quando do aparecimento deste tipo de terror macabro, angustiante e moralista (por incrível que pareça). Vamos ver se funciona...

JOGOS MORTAIS – O FINAL (SAW 3D – THE TRAPS COME ALIVE)
LANÇAMENTO: EUA (2010)
DIREÇÃO: KEVIN GREUTERT
GÊNERO: TERROR
VONTADE: 10,0

Também estreiam nos cinemas nacionais hoje:

UM PARTO DE VIAGEM (Due Date) EUA, 2010. Direção: Todd Phillips. Gênero: Terror. Elenco: Robert Downey Jr., Zach Galifianakis, Michelle Monaghan, Danny McBride, Jamie Foxx e Juliette Lewis.
VONTADE: 8,0

SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (Scott Pilgrim Vs. the World) EUA, 2010. Direção: Edgar Wright. Gênero: Comédia/ Ação. Elenco: Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Kieran Culkin, Jason Schwartzman.
VONTADE: 6,0

ONDINE. Irlanda, 2010. Direção: Neil Jordan. Gênero: Drama. Elenco: Colin Farrell, Dervla Kirwan, Alicja Bachleda-Curus, Stephen Rea.
VONTADE: 4,0

CYRUS. EUA, 2010. Direção: Mark e Jay Duplass. Gênero: Comédia/ Drama. Elenco: John C. Reilly, Jonah Hill, Marisa Tomei, Catherine Keener, Matt Walsh.
VONTADE: 6,0

MINHA TERRA, ÁFRICA. (White Material) França, 2009. Direção: Claire Denis. Gênero: Drama. Elenco: Isabelle Huppert, Christopher Lambert, Isaach de Bankolé.
VONTADE: 2,0

É isso aí. Semana que vem (como sempre) tem mais. Bom fim de semana a todos!