15 dezembro 2010

TOP 1980 - Kramer vs. Kramer

O Supercine (Rede Globo, sábados, 23h) adora exibir filmes que contenham dramas familiares pesados, muita choradeira, brigas de tribunal, luta pela guarda dos filhos etc. O que torna esses longas desinteressantes, no entanto, é a forma estereotipada e antiquada como são tratados os personagens. Mesmo já estando banalizados, esses assuntos continuam sendo cerne de muitos roteiros, que acabam se tornando repetitivos e clichês. O filme vencedor do Oscar de 1980 consegue ultrapassar esses estereótipos, sendo um dos melhores que ganharam na categoria nos 52 anos de premiação.

Kramer vs. Kramer tem dois méritos: ser o pioneiro ao retratar a desestruturação da família tradicional, que já dava sinais de enfraquecimento no final da década de setenta e contar com um elenco de tirar o fôlego. Meryl Streep e Dustin Hoffmann dão vida a Ted e Joanna Kramer, um casal que aparentemente não tinha problemas na relação, até o momento inesperado em que Joanna anuncia sua saída de casa. Ted agora tem a missão de cuidar sozinho do filho do casal, Billy Kramer (em interpretação estrondosa de Justin Henry, então com sete anos – ele foi, até hoje, o concorrente mais novo a um prêmio no Oscar – concorreu a Ator Coadjuvante) e entender o porquê do abandono da esposa.

Aos poucos, ele compreende os motivos de Joanna, ao se dar conta que durante todos os anos do casamento não deu atenção à família, preocupando-se apenas com o crescimento da carreira como designer. O diretor Robert Benton critica a ausência do pai nas relações familiares sem, no entanto, afirmar que isso foi justificativa suficiente para a mãe deixar marido e filho. O fato é que Ted tem uma nova chance de se redimir com Billy, o que faz com maestria. Durante os dois anos que passam sozinhos, pai e filho aprendem a se amar, construindo uma relação afetuosa e respeitosa. Acontece que após esse tempo Joanna decide que está pronta para cuidar do filho novamente, volta para Nova Iorque e se inicia uma briga judicial pela tutela de Billy, que sofre com a pendenga dos pais.

Se o filme fosse produzido nos dias atuais, sobreviveria apenas pela interpretação dos protagonistas, que dão o máximo de talento, merecendo por isso as premiações de Melhor Ator (Hoffmann) e Melhor Atriz Coadjuvante (Streep). O roteiro, infelizmente, é datado, uma vez que hoje em dia não é surpresa para ninguém que um pai cuide de um filho sozinho, enquanto a mãe vive sua própria vida. Uma situação dessas naquela época, além de interferir na vida profissional do patriarca (que vivia numa sociedade de crescente capitalismo e um Estados Unidos que prometia sucesso e dinheiro fácil no futuro), poderia instigar qualquer tipo de dúvida quanto sua masculinidade, sendo que trinta anos atrás o machismo ainda era predominante, inclusive na mídia (afinal, cuidar de casa e filhos era coisa de mulher né?)

É muito difícil encontrar algum ponto negativo no filme. O roteiro é muito bem amarrado, os diálogos dão conteúdo à trama e à interpretação soberba dos personagens, a trilha sonora é deslumbrante (dedilhados country de violão preenchem toda a história), a fotografia mostra o centro moderno de Nova Iorque com seus inúmeros arranha-céus, luzes e concreto, além das cenas de tribunal, que eu sempre adorei (quando bem feitas, como nesse caso).

Duas curiosidades me fazem gostar mais ainda de Kramer vs. Kramer: Meryl Streep foi a terceira cotada para fazer o papel de Joanna Kramer. Antes dela, Kate Jackson e Jane Fonda recusaram o trabalho por estarem ocupadas com outras obras (ainda bem!). Além disso, Dustin Hoffmann havia acabado de se separar, contribuindo com vários dos diálogos que vemos entre ele e a esposa e o filho. Eu li que o diretor insistiu para que o nome dele entrasse como co-roteirista nos créditos, mas ele não quis.

Naquele mesmo ano, mais quatro longas concorreram ao prêmio de Melhor Filme. São eles: O Show Deve Continuar (All That Jazz), Norma Rae, O Vencedor (Breaking Away) e o maravilhoso Apocalipse Now (o maior dos injustiçados pela Academia, segundo a opinião de alguns críticos. Para mim (que prefiro dramas comportamentais a filmes de guerra, achei justa a premiação, mesmo admitindo que o filme de Coppola é um dos melhores dentro da sua proposta).

KRAMER VS. KRAMER
LANÇAMENTO: 1979 (EUA)
DIREÇÃO: ROBERT BENTON
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,5

6 comentários:

Unknown disse...

Meryl Streep já é um bom motivo para ver o filme!

Outro dia assisti "Simplesmente Complicado". Já viu?

Comédia bacana.

Elton Telles disse...

Olá, Gui!

"Kramer VS Kramer" é um filme muito bom mesmo. Sem dúvidas de sua qualidade. Mas não é pra tanto e bater "Apocalypse Now" e "All That Jazz" foi muia sacanagem. Esses dois últimos, 2 obras-primas fabulosas e inesquecíveis. "Kramer..." se empalidece totalmente diante deles, na minha opinião.

However, Streep e Hoffman em grandes atuações.

abs!

pseudo-autor disse...

Kramer vc Kramer era um dos filmes clássicos da minha adolescência, vendo Domingo Maior. Sinto falta do Dustin Hoffman mais presente nas telas. É um artista único!

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Anônimo disse...

esse filme é incrível! e o jeito que ele acaba é mto foda! um dos melhores filmes que ja vi

http://filme-do-dia.blogspot.com/

Tô Ligado disse...

Meryl Streep é o que há. Mas acredito que Jane Fonda tambem arrebentaria.

mari celma disse...

Vi Kramer vs Kramer um pouco depois de acompanhar a série brasileira Malu Mulher. Foi um contraponto para mim, pois, ali se revelava uma Joana que ia embora enquanto Malu era deixada...ambas foram pioneiras porque não se falava em divorcio, não se pensava em filhos criados por um dos pais. Não dá para prever o que a academia vislumbra quando resolve premiar um filme, mas naquele ano especificamente o mundo vivia uma série de redemocratizações, independencias e o bipolarismo já dava sinais de metastase talvez por isso o tema família tenha sido preferido...enfim, muito legal esse blog cinema é sempre bom!