16 março 2011

TOP 2007 - Os Infiltrados

Antes de criticar uma produção do mestre Martin Scorsese, resolvi ler algumas resenhas de Os Infiltrados, filme vencedor do prêmio máximo no Oscar 2007, que encontrei na internet (a melhor maneira de evitar escrever besteiras). Encontrei uma expressão inusual que me deixou, no mínimo, instigado: orgasmo visual. Achei super adequada para representar toda a tensão pela qual o roteiro faz passar os espectadores durante as duas horas e meia de duração do longa que faz o cineasta voltar a retratar em suas obras a máfia urbana, o caos violento que se instaura por entre os becos da cidade – sua especialidade absoluta, por meio da qual desbanca qualquer outro que ouse competir com sua direção. Foi por causa de Os Infiltrados que Scorsese finalmente (na verdade, tardiamente) ganhou seu primeiro reconhecimento da Academia, tenho sido simplesmente omitido em anos de lançamento de obras-primas como Táxi Driver, Touro Indomável e Os Bons Companheiros.

Voltando a falar do melhor filme de 2007, somos apresentados a uma intrincada teia de mentiras, traições e corrupções envolvendo o Departamento de Polícia Estadual de Boston e a máfia irlandesa que lidera as negociações comerciais da periferia da cidade. O chefe da máfia, Frank Costello (interpretado magistralmente por um pervertido, violento e engraçado Jack Nicholson), treina um garoto desde sua mais tenra idade para se tornar um grande policial que tenha predileção pela máfia e possa se tornar infiltrado de Costello para facilitar a vida dos mafiosos.

O escolhido é Collin Sullivan (um dissimulado e resignado Matt Damon), que encontra como sua maior pedra no sapato o policial aparentemente rebaixado Billy Costigan (Leonardo Di Caprio, numa das melhores atuações de sua carreira). A verdade é que, a mando de Queenan, o chefe do departamento de infiltrados da polícia, Costigan se passa por mafioso e passa a trabalhar para Costello como um de seus homens de confiança.

Sem nunca terem se visto, Costigan e Sullivan mutuamente atrapalham o trabalho do outro, num jogo de gato-e-rato impressionante. Com a intenção de anteciparem os passos do outro, máfia e polícia garantem para o espectador momentos de tensão absoluta, de êxtase, fazendo com que não consigamos tirar os olhos da tela. Scorsese foi muito feliz ao entrar de cabeça nesse projeto, que é uma adaptação livre de Conflitos Internos, produção chinesa de 2003, que não possui no entanto o vigor e a tensão criados pela versão americana.

A interpretação do elenco (que é de peso) está deslumbrante, mas acho que o grande destaque da produção fica por conta da montagem (que inclusive ganhou uma estatueta naquele ano). O ritmo frenético das conspirações do roteiro é transpassado para a estética do filme, que possui cenas duplicadas, cortes secos, rápidos e inesperados, transposição de ambientes, passagens intercaladas, enfim, uma série de atributos que garantem uma verdadeira aula de cinema durante a sessão.

A violência obviamente está presente (assim como em todos os filmes de Scorsese), mas de uma maneira que se torna necessária para compor a grandeza narrativa da produção, que não abusa do sangue para conseguir público. É um filme mais voltado para o universo masculino, mas não pode de jeito algum ser comparado com as medíocres ações à la Van Damme que, lançadas aos montes, servem apenas como canalizador de violência reprimida do espectador. Aqui, a complexidade e o aprofundamento cinematográfico falam mais alto.

Em 2007, a disputa ao prêmio de Melhor Filme do ano estava acirradíssima. É que mais quatro excelentes produções disputavam o posto juntamente com Os Infiltrados. São elas: Babel (uma das melhores obras do espanhol Alejandro Iñárritu), o épico A Rainha (The Queen), que inclusive deu a Helen Mirren o título de melhor atriz do ano, desbancando o trabalho perfeito de Meryl Streep como Miranda Priestly em O Diabo Veste Prada; o divertido Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine) e Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima), obra da fase contemporânea do astuto Clint Eastwood, que consegue chegar a excelência como ninguém.

OS INFILTRADOS (THE DEPARTED)
LANÇAMENTO: 2006 (EUA)
DIREÇÃO: MARTIN SCORSESE
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 9
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2 comentários:

Tô Ligado disse...

Cara, quando acabou esse filme eu estava escondido com medo de morrer tbm. Nào sobou ninguém! rrrrrs

To indo pra Sampa neste fds... qlq coisa c tem meu fone neh?

Abraços

pseudo-autor disse...

Esse filme é o maior exemplo de mea culpa da história do Oscar. Se a academia fosse premiar o Scorsese todas as vezes que ele mereceu, o diretor seria o mais premiado da história da competição. o que não significa que Os Infiltrados não seja ótimo.

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