22 julho 2010

TOP 1947 - Os Melhores Anos de Nossas Vidas

Depois de três horas de exibição, após ter acabado de assistir Os Melhores Anos de Nossas Vidas, ainda fiquei um tempo sem fazer nada, apenas pensando, refletindo no que o filme se propõe a instigar no espectador. Ironicamente, a trama conta o sentimento de despertencimento vivido pelos três protagonistas ao voltarem do front da Segunda Guerra para sua cidade natal. Obviamente, aqueles anos (1940 a 1945) estão longe de ser os melhores da vida de qualquer um que se envolveu na contenda mundial.

Al Stephenson (Fredric March), Fred Derry (Dana Andrews) e Homer Parrish (Harold Russell), respectivamente militares do Exército, Aeronáutica e Marinha (propositalmente), têm de enfrentar a crueldade social que o confronto bélico desencadeou em quem acompanhou de longe a disputa e os conflitos internos que impedem que tudo que viveram seja apagado da memória e a antiga vida volte ao normal. Explico o motivo de ter sido proposital a escolha das patentes: enquanto Derry e Homer têm mais problemas para resolver antes de se adaptarem completamente a nova vida, Al volta a trabalhar e ganhar dinheiro rapidamente e conquista a confiança da família sem muita dificuldade (uma simbologia ao fato de ele ter lutado em terra firme, enquanto seus companheiros cruzavam os céus e os mares, ou seja, não possuíam muita estabilidade).

À la Willian Wyler, que mais tarde dirigiria o gigantesco Ben-Hur, as grandes tomadas em cenas aéreas e travellings dignos de aplausos configuram o excelente trabalho de fotografia que compõe a obra, que ganhou a disputa de melhor filme com um dos longas mais aclamados no mundo: A Felicidade não se Compra, de Frank Capra. Como ainda não o assisti, não posso opinar se houve injustiça, porém dá pra intuir que era mais conveniente para a Academia premiar um filme que retratava a volta para casa de militares combatentes na guerra logo após o fim da disputa do que dar a estatueta a um longa natalino.

O primeiro protagonista, Al Stephenson, deixou a esposa (interpretada como ninguém por Myrna Loy), com quem é casado há vinte anos, e dois filhos pré-adolescentes em Boone, cidade cenário da obra. Ao voltar, depara-se com um rapaz e uma moça quase que irreconhecíveis e que não sabem nada da vida do pai, a não ser que passou muito tempo longe deles. Além de ter que reconquistar a confiança e amor dos familiares, tem de enfrentar os bancários do grupo financeiro de empréstimos em que volta a trabalhar, que se recusam a aprovar linhas de crédito a ex-militares, temendo calotes por falta de garantias. A interpretação firme, coesa e convincente de March fez com que recebesse o título de Melhor Ator naquele ano.


Já Homer, interpretado pelo Melhor Ator Coadjuvante Harold Russell, tem um desafio ainda maior: fazer com que todos o tratem de maneira justa, sendo que ele tem ganchos no lugar das mãos, que perdeu em batalha. A estranheza causada pelas próteses adaptadas, que chega até o espectador, funciona como peso desmotivador ao personagem, que se isola, tem medo de pedir a noiva em casamento e afasta todos de perto. Detalhe: o ator (estreante) realmente não possuía as mãos.

Por último, é a vez do capitão Derry, que sofre com o crescimento do desemprego após o fim da guerra. Sua esposa, com quem não conviveu muito antes de viajar, é uma capitalista desvairada, que o larga assim que se dá conta que não terá futuro – financeiro, ao seu lado. É ai que se apaixona por Peggy Stephenson (Tereza Wright), filha de Al, romance que direciona o desfecho da história. O entrelaçamento das três histórias de vida é o que dá charme ao longa, o que configura o efeito quantitativo de uma experiência negativa como uma guerra mundial. É um filme pacifista, que se utiliza de exemplos que poderiam perfeitamente ser reais para dar credibilidade a mensagem de que seria legal juntarmos nossas forças para evitarmos uma Terceira Guerra Mundial.

Concorreram à Melhor Filme no décimo nono Oscar: Henrique V (Chronicle History of King Henry the Fift with His Battell Fought at Agincourt in Fran), A Felicidade Não se Compra (It's a Wonderful Life), Virtude Selvagem (The Yearling) e O Fio da Navalha (The Razor's Edge).

OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS (THE BEST YEARS OF OUR LIVES)
LANÇAMENTO: 1946 (EUA)
DIREÇÃO: WILLIAM WYLER
GÊNERO: DRAMA DE GUERRA
NOTA: 8,8

3 comentários:

Alan Raspante disse...

Pegou um embalo bom para ver filmes, neh ? rs
Gui, desculpa o sumiço...
Pois bem, ainda não assisti Os melhores anos de nossas vidas, Farrapo humano e nem O Bom pastor, mas pelo que li por aqui, são essenciais para serem vistos, vou tentar confer-los!!! xD
Abs.

Tô Ligado disse...

Cara, deu um UP né? Média de 1 filme a cada 4 dias voltando... hehhee

Não assisti esse filme. Naminha locadora, não cosigo encontrar nem filmes da era de transição de VHS para DVD qnt mais um de 46. Uma pena, pois pela sua descrição parece ser muito bom.

Bom fds antecipado!

Brentegani disse...

Tenho visto em vários filmes e séries essa abordagem de como é complexa a re-adaptação dos militares ou qualquer um que participe de uma guerra...
E mais uma vez, o ganhador é um filme que traz esse tema (guerra) hein...
Texto mto bem escrito moço!
bjs