14 dezembro 2010

TOP 1979 - O Franco Atirador

Desde a década de vinte, quando do início das premiações do Oscar, a Academia sempre teve um apreço pelos filmes de guerra, principalmente por aqueles que repudiam as conseqüências não apenas físicas, mas também emocionais que os conflitos bélicos causam nos combatentes. Sempre que entre os candidatos a Melhor Filme de determinado ano está presente um longa pacifista, este já começa a disputa com alguma vantagem apenas por ser o que é. Em 1979 não foi diferente, uma vez que O Franco Atirador veio para confortar os ânimos de quem sofreu (e olha que foi muita gente) com a Guerra do Vietnã, há pouco finalizada.

A história se baseia na amizade entre Michael Vronsky (Robert De Niro), Nick Chevotarevich (Christopher Walken) e Steven (John Savage), imigrantes russos que vão para o Vietnã representar os Estados Unidos na guerra. Em trabalho de mestre do diretor Michael Cimino, a trama se passa em três atos: antes da guerra (casamento de Steven, caçadas entre amigos, flertes entre Michael e a namorada de Nick, Linda (Meryl Streep), durante a Guerra (prisão dos três personagens, tortura no cativeiro) e depois da guerra (volta pra casa e busca pela adaptação social diante das mudanças). A principal sacada do roteiro é relacionar as caçadas aos cervos (que deu nome ao filme [no original The Deer Hunter]) com a tortura psicológica gerada pela roleta russa nos campos vietnamitas. Michael tinha o costume de matar suas presas nos EUA com apenas um tiro (era uma espécie de convicção). Agora no país desconhecido tinha igualmente apenas um tiro para sobreviver ou morrer.

Por falar nisso, o ponto alto da interpretação dos personagens está nos momentos em que eles têm de enfrentar as armas e puxar o gatilho contra a cabeça, sem ao menos ter certeza se elas dispararão ou não. A pressão é tamanha que transpassa a tela e chega aos espectadores, que se vêem ali, no lugar dos acossados personagens. O tabalho é tão bem feito que Christopher Walken levou para casa a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante e Robert De Niro concorreu a Melhor Ator. Não podia deixar de mencionar o trabalho sempre consistente de Meryl Streep, que interpreta com perfeição a angustiada Linda, dividida entre o amor de Nick, seu atual namorado, e Michael, com quem vive um romance platônico (ela também concorreu ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante naquele ano).

As vidas de todos os protagonistas, e de quem convivia com eles na pequena cidade americana que serve de locação para o primeiro e terceiro atos, é alterada profundamente após conviverem com os horrores da guerra, tanto no que diz respeito às conseqüências físicas quando morais e emocionais. Mesmo que o assunto seja super recorrente, o povo americano precisa desse reforço ficcional para manter sua confiança nacionalista e fazer com que as novas gerações continuem acreditando na força do país e na necessidade de defendê-lo sem, no entanto, recorrer a guerras para isso.

Naquele mesmo ano, ainda concorreram ao posto de Melhor Filme os longas: Uma Mulher Descasada (Unmarried Woman), Amargo Regresso (Coming Home), O Céu Pode Esperar (Heaven Can Wait) e O Expresso da Meia Noite (Midnight Express).

O FRANCO ATIRADOR (THE DEER HUNTER)
LANÇAMENTO: 1978 (EUA)
DIREÇÃO: MICHAEL CIMINO
GÊNERO: DRAMA/ GUERRA
NOTA: 8,0

3 comentários:

Anônimo disse...

não sei se era 'o melhor filme do ano', mas com certeza é um grande filme!

http://filme-do-dia.blogspot.com/

Cristiano Contreiras disse...

Filme bem falado, um clássico, até hoje não conferi! abraço

Gustavo Campello disse...

Um grande filme, a maneira como as coisas começam leves e "legais" e vão ficando pesadas e "fodas" pros personagens é a grande sacada do roteiro.