20 janeiro 2011

TOP 1993 - Os Imperdoáveis

Clint Eastwood é um cineasta filosoficamente profundo na minha opinião. Mesmo trabalhando sem parar há mais de 55 anos, nenhum de seus filmes (enquanto diretor) é superficial, gerando nos espectadores uma reflexão incômoda no final da sessão que faz ter a certeza que o que se viu é cinema de qualidade. Tendo começado a carreira na década de 50, alçou o sucesso mundial em westerns do ídolo e mentor Sergio Leone, imprimindo sua feição austera e semblante sisudo em dezenas de papéis típicos do gênero genuinamente americano: o faroeste.

Começou a, além de atuar, dirigir suas produções (que é o que geralmente faz nos dias atuais – continua trabalhando sem parar com 80 anos de idade), conseguindo a notoriedade tão esperada, no entanto, apenas no começo da década de 90, quando produziu o último western da sua vida (pelo menos até agora): Os Imperdoáveis, conquistando a estatueta de Melhor Filme do ano e ainda o prêmio de Melhor Diretor, despontando de vez para o sucesso.

O que difere o longa dos tradicionais faroestes, entretanto, é a caracterização dos personagens, que mostram ter sentimentos, serem humanos, possuírem fraquezas. É o caso do protagonista, William “Bill” Munny (o próprio Eastwood), que depois de enviuvar cuida dos filhos e da criação de porcos como uma espécie de terapia para fugir das sombras do passado de matador e alcoólatra. Juntamente com Ned Logan (Morgan Freeman), antigo parceiro de bang-bang, parte em busca de dois vaqueiros que cortaram o rosto de uma prostituta, a fim de matá-los, e receber a recompensa de mil dólares que as putas conseguiram juntar para vingar o estrago feito na colega.

Em contraponto, o xerife de Big Whiskey, o vilarejo das prostitutas, Little Bill Daggett (Gene Hackman), faz de tudo para evitar tumultos na vila, proibindo a entrada de armas de fogo e, é claro, impedindo que a notícia da recompensa se espalhe e matadores invadam seu espaço. Ele será uma pedra no sapato para o êxito da missão de Munny, Logan e Schofield Kid (Jaimz Woolvett), garoto quase cego que parte junto com os veteranos, por ser fã do “trabalho” de Munny.

Vingança, ódio, sangue e muito sotaque sulista fazem parte de Os Imperdoáveis, garantindo que o faroeste permaneça vivo para as gerações que não viveram as décadas de ouro do gênero. A disputa de poder pela armas, entretanto, concentra-se entre os brancos, excluindo a figura indígena do cenário. Outra alteração é a ausência de uma personagem feminina indefesa, submissa e apaixonada, pois o que se vê são apenas prostitutas, ou seja, mulheres independentes, racionais, modernas para a sua época (o filme se passa no final do século XIX).

Mesmo admitindo que essa obra-prima de Clint seja um fôlego a mais para o gênero (que já havia sido restituído dois anos antes com Dança com Lobos), acredito que o que foi feito é mais do que simplesmente um western, e sim um drama comportamental, com a sutileza que só Eastwood consegue impor em seus roteiros densos, psicológicos, complexos (o diretor consegue fazer com que o espectador passe minutos à fio refletindo sobre seus personagens, mesmo que ele seja um caipira unilateral).

Na eleição do Melhor Filme do ano de 1992, a premiação, ocorrida em fevereiro do ano seguinte, contou com os seguintes candidatos: Traídos Pelo Desejo (The Crying Game), Questão de Honra (A Few Good Men), Retorno a Howards End (Howards End) e Perfume de Mulher (Scent of a Woman), que rendeu a Al Pacino o prêmio merecido de Melhor Ator do ano.

OS IMPERDOÁVEIS (UNFORGIVEN)
LANÇAMENTO: 1992 (EUA)
DIREÇÃO: CLINT EASTWOOD
GÊNERO: DRAMA/ FAROESTE
NOTA: 9,3

Um comentário:

Tô Ligado disse...

Fala grande Gui... acredita que por muito tempo eu odia faroeste. Daí resolvi ver Os Indomáveis (4:15 to Yuma) e apaixonei pelo gênero. Dependendo do filme, tem muito mais conteúdo que outros, por isso, este campeão de 92, não me causa surpresas.

Abraços
Brunno