09 agosto 2010

TOP 1955 - Sindicato de Ladrões

O vencedor do Oscar 1955 é um filme sobre as obscuridades da máfia sindical na zona portuária americana, é um longa que explora os conflitos existenciais de um ex-boxeador que se vê dividido entre o amor ou a delação de seus “amigos” bandidos ou se trata de uma história de amor casual? Sindicato de Ladrões, um dos melhores trabalhos do diretor Elia Kazan, mistura as três vertentes narrativas (crítica social, crise psicológica e romance) num roteiro impecável por meio de um time interpretativo de peso.

Marlon Brando, ainda na sua época de galã, interpreta Terry Malloy, ex-boxeador e irmão caçula de Charles Malloy (Rod Steiger), braço direito de Johnny “Amigo” (Lee J. Cobb), magnata da indústria portuária, que comanda o fraudulento sindicato dos estivadores. Terry, assim como todos os trabalhadores e moradores da região, tem o direito de ficar quieto diante das irregularidades da associação, ou é castigado duramente pelos mesmos que deveriam estar zelando pela qualidade de vida laboral de cada um dos trabalhadores.

Acusado pelo pessoal da esquerda como estereótipo de um suposto mau caratismo de todos os sindicalistas (caráter político comumente utilizado por Kazan), o filme transcende a seriedade e agrada a todos com a tensão criada pelo diretor durante toda sua extensão. Depois de participar sem querer do assassinato de um delator do sindicato (armado pela gangue de Johnny), Terry percebe que não pode mais fazer parte daquele mundo corrupto e sanguinário, mas já é tarde demais para se afastar.

O protagonista conhece a irmã da vítima, Edie Doyle (Eva Marie Saint – em sua estreia no cinema, o que lhe rendeu o posto de melhor atriz coadjuvante), que está investigando a morte do irmão, e acaba se apaixonando pela garota. Além do encalço da polícia e das crises de consciência, encontra-se em Edie a razão mais forte para que Terry, como uma das únicas testemunhas oculares do que ocorre por trás do cais, desarme a máfia (merecidamente, Marlon Brando ganhou a estatueta de Melhor Ator em 1955)

A trilha sonora é um espetáculo a parte. Desde o primeiro minuto do filme, um universo de mistério, suspense e apreensão toma conta da obra, gerando no espectador medo do que vem pela frente. Mesmo optando apenas por locações externas, no próprio cais e nas docas, a fotografia (em preto e branco) é linda, o que constrasta com a crueldade do roteiro.

O ponto negativo é o exagero dramático do fim do longa. Bem ao estilo hollywoodiano de ser, o desfecho da história é presunçosamente inviável diante das possibilidades. Sem ser estraga-prazer, o fim caberia mais para uma novela da Rede Globo do que para um filme. Porém, esse detalhe não tira o posto de clássico absoluto do cinema e obra imperdível para todos os cinéfilos.

Destaque para a participação de Karl Marden, que interpreta o padre Berry, conciliador e ativista político da região. É por meio de seu incentivo que os trabalhadores prejudicados começam a se organizar e a lutar contra o sindicato. Prestem atenção também na relação pombo x gavião, alusão a submissão entre a turma de Johnny e os trabalhadores..genial!

Naquele ano, além do vencedor, concorreram a Melhor Filme: Mister Roberts, A Nave da Revolta (The Caine Mutiny), Sete Noivas para Sete Irmãos (Seven Brides for Seven Brothers), Amar é Sofrer (The Country Girl) e A Fonte dos Desejos (Three Coins in the Fountain).

SINDICATO DE LADRÕES (ON THE WATERFRONT)
LANÇAMENTO: 1954 (EUA)
DIREÇÃO: ELIA KAZAN
GÊNERO: DRAMA/ POLICIAL
NOTA: 9,6

5 comentários:

Marcia Moreira disse...

Adoro este filme. Não tinha reparado nesta alusão entre pombo e gavião.

Elton Telles disse...

Fabuloso, um dos melhores filmes premiados com a estatueta máxima do Oscar. A partir daí, o padrão de atuação masculina ganhou novas configurações. Brando está iluminado!


abs!

Rodrigo Mendes disse...

Este é um clássico raro e muito bom. Kazan tinha o dom de tirar belas atuações e foi dele a criação Brando, aqui soberbo!

Ainda que eu prefira Um Bonde Chamado desejo/Uma Rua Chamada Pecado, Sindicato... é tão bom quanto.

Abs,
Rodrigo

Tô Ligado disse...

fala Gui... bem este filme eh superhipermega comentado entre meus amigos, e pra variara eu ainda não assisti.. hehee

o Tô Ligado! está comemorando dois anos... é um prazer ter sua parceria!

Brentegani disse...

Gui, pelo texto e pela nota, deve "O filme"... pra variar eu em atraso tbm com os filmes, aff... vou tentar melhorar. rs
Texto massa!
Bjs