19 junho 2010

TOP 1939 - Do Mundo Nada se Leva

Mais um filme de Frank Capra chega ao topo da qualidade avaliada pela Academia e leva a estatueta de Melhor Filme: Do Mundo Nada se Leva, que mostra as diferenças entre a pobreza e a riqueza, por meio do relacionamento de dois representantes de cada lado, apaixona os amantes do cinema (como eu) pela simplicidade do roteiro e maestria da direção, que consegue aproveitar inúmeras simbologias da história para encantar os espectadores, num drama cômico tipicamente Capriano.

James Stewart é Tony Kirby, filho do banqueiro magnata da Wall Street Anthony P. Kirby (Edward Arnold), que está prestes a fechar negócio com uma construtora, e antes precisa comprar 12 terrenos de uma rua para sua construção, mas está sendo impedido pela família Vanderhof, comandada pelo vovô Martin (Lionel Barrymore), que não quer sair de sua casa, nem por quatro vezes o valor real que ela vale.

Sem saber de quem se trata, Tony se apaixona por Alice Sycamore (Jean Arthur), neta de Martin e secretária dos Kirby, contrariando as aspirações de seus pais, que acreditavam que ele se casaria com uma garota rica e influente na sociedade. O choque entre as duas realidades é o que dá o tom cômico e reflexivo ao filme. A família de Alice não se preocupa com o dinheiro, todos fazem apenas o que der na telha (a mãe, Penny, escreve peças de teatro pelo simples fato de ter recebido uma máquina de escrever por engano; a irmã não para de rodopiar pela casa por acreditar que um dia será uma bailarina; seu professor, o russo Kolenkhov, chega sempre na hora do almoço e mete o bedelho em todas as conversas; o cunhado, Ed, é músico por gosto, sem ganhar nada com isso; o pai, Paul, juntamente com duas "visitas" que já estão com a família há nove anos, fabrica fogos de artifícios no porão porque gosta; e Martin, o avô, coleciona selos, depois de um longo período de vida executiva, que apenas lhe rendeu desgostos e estresse, além de ser o mentor da família, distribuindo bons conselhos a todos). Por outro lado, a família Kirby é esnobe, preconceituosa e extremamente solitária. Enquanto os Vanderhof cultivam amigos aos montes, o excesso de dinheiro impede que a família de Tony atraia pessoas confiáveis.

O fime todo é uma grande lição de moral, o que já pode ser evidenciado pelo título, que contempla toda a ideia do roteiro, numa tentativa cômica de falar sério. Remissões históricas são feitas, com críticas à economia, ao governo norte-americano e uma referência ao crash da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Quem gosta de cinema, não pode perder a oportunidade de assistir esse filme, que se feito hoje poderia ser taxado como previsível, manjado, estereotipado, maniqueísta, mas que é uma verdadeira obra de arte de Franz Capra, com sua capacidade de tornar brilhante o cotidiano por meio de um elenco impecável e de um roteiro incomparável.

As atuações são excelentes, com destaque para Lionel Barrymore, que humilha qualquer outro ator do longa com sua espontaneidade e carisma. Mesmo sabendo o final da história, ficamos torcendo pelo romance de Tony e Alice, pela mudança dos valores da família Kirby e pela permanência dos Vanderhof em sua casa. Hoje em dia (e na década de 30 também) seria impossível alguém viver da maneira descompromissada como vive a família de Alice (a não ser que se viva numa ilha, sem ligações com o "mundo real"), levando para o espectador uma realidade útopica, mas desejada por todos.

Como no cinema tudo é possível, e Frank Capra pode tudo, seu filme entra para o rol de meus longas favoritos, mesmo com a inverossimilhança descrita. A apaixonante história faz com que nos esqueçamos da hora, mergulhemos juntos no conflito apresentado e levemos para toda a vida lições preciosas de como ser feliz.

No Oscar 1939, concorreram com o vencedor: A Cidadela (The Citadel), A Grande Ilusão (La Grande Illusion), As Aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood), Com os Braços Abertos (Boys Town), Epopéia do Jazz (Alexander's Ragtime Band), Jezebel (Jezebel), Pigmalião (Pygmalion), Piloto de Provas (Test Pilot) e Quatro Filhas (Four Daughters).

DO MUNDO NADA SE LEVA (YOU CAN'T TAKE IT WITH YOU)
LANÇAMENTO: 1938 (EUA)
DIREÇÃO: FRANK CAPRA
GÊNERO: DRAMA CÔMICO
NOTA: 9,5

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Depois de ver 'A Mulher Faz o Homem' virei fã de Frank Capra, James Stewart(mais ainda) e Jean Arthur. Agora só falta eu ver 'No Mundo nada se leva', gostei muito da sua resenha, como sempre, muito bem escrita!
Abs.