15 julho 2010

TOP 1942 - Como Era Verde Meu Vale

A única frustração ao assistir o vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1942, Como Era Verde Meu Vale, é não conseguir ver se o vale realmente era verde ou não, já que a produção é preta e branca. Fora isso, o filme favorito do diretor John Ford (segundo boatos) é de uma graciosidade tamanha que ultrapassa os limites temporais e consegue ser atual e emocionante até hoje. A trama acompanha a infeliz trajetória da família galesa Morgan, desde o auge do vilarejo que moram nas montanhas, até sua decadência, simbolizada magistralmente pela invasão do negrume da fumaça da mina de carvão geradora da economia local que invade as vidas dos moradores.

É o primeiro filme do TOP 1/3 que trabalha com narrador-personagem em off, com as falas que permeiam quase todas as cenas. O protagonista em questão é Huw Morgan, senhor de sessenta anos que inicia o filme lamentando a velocidade com que sua vida passou e se preparando para deixar o vale em que morou durante sua existência. Percebe-se um local judiado pelo tempo, as pessoas velhas, tristes, amarguradas e o que sobrou da mina de carvão expelindo uma espessa fumaça que invade o lugar a o coração das pessoas.

É a partir daí que passamos a acompanhar as lembranças de Huw cinqüenta anos antes. Interpretado pelo ator mirim Roddy McDowall, o protagonista descreve como era a vida calma e feliz de sua família e de seus vizinhos e como a concorrência econômica gerada pelo desequilíbrio da lei da oferta e procura passa a preocupar o mundo e afetar até as mais pacatas regiões. Com um toque político, a união sindical começa a despontar e é tratada na obra, uma vez que o pai e os irmãos de Huw se organizam para cobrar melhores condições trabalhistas do Sr. Evan, dono da mina de carvão.


As atuações são ótimas, com destaque para os pais da família, interpretados por Walter Pidgeon e Sara Allgood. O conservadorismo da sociedade rural é demonstrado pelo cotidiano regrado dos moradores e pela rígida educação imposta pelo patriarca Gwilyn Morgan aos seus sete filhos. Ao longo das duas horas de filme, várias histórias que envolvem os pais, os filhos, o pastor da cidade e os trabalhadores da mina são narradas cronologicamente, a fim de mostrar ao espectador a evolução (negativa) do local e das pessoas que nele habitam. A maior simbologia do filme é uma espécie de despigmentação nostálgica que embute valores às cores, sendo o verde do vale a felicidade e a lembrança de uma época próspera e o cinza da fumaça da mina a tristeza de uma família (que representa toda a sociedade) desiludida e sem esperanças de um futuro saudável.

O belo trabalho de fotografia (que exibe falsas montanhas galesas, uma vez que as locações são americanas) rendeu ao longa cinco Oscars (inclusive de Melhor Fotografia em Preto e Branco) e a vitória sobre Cidadão Kane, considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos. O motivo? Talvez o fato de a obra máxima de Orson Welles ter seu valor reconhecido apenas futuramente ou o conservadorismo da Academia ter se sobressaído sobre todas as inovações cinematográficas apresentadas por Cidadão Kane.

Nesse ano, além dos dois longas supracitados, concorrereram à estatueta de Melhor Filme: A Porta de Ouro (Hold Back the Dawn), Flores do Pó (Blossoms in the Dust), Suspeita (Suspicion), Pérfida (The Little Foxes), Sargento York (Sargeant York), Relíquia Macabra (The Maltese Falcon), Que Espere o Céu (Here Comes Mr. Jordan) e Com o Pé no Céu (One Foot in Heaven).

COMO ERA VERDE MEU VALE (HOW GREEN WAS MY VALLEY)
LANÇAMENTO: 1941 (EUA)
DIREÇÃO: JOHN FORD
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 8,0

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Um filme que eu preciso muito ver!

Brentegani disse...

Guiii, parece que esse filme muito me interessou hein! Nossa, to até com vergonha do meu atraso com os filmes... lamentável...
Adorei o texto!
Bjs

Claudinha ੴ disse...

Gui!
Querido! Você está bem na crítica de cinema! Este é um dos clássicos de meu pai. Ele tem e adora.
* Obrigada pelo carinho lá no TP! Tem a gente lá!

Tô Ligado disse...

Fala grande Gui... adoro belas fotografias, paisagens... aliadas a um bom roteiroe bom elenco.

Acho que gostaria desse filme. Vou tentar vê-lo!

Bom fds!

Cristiano Contreiras disse...

Lembro e não esqueço deste importante e emocional filme.

Parabéns pela nostalgia, pelo detalhismo no texto..seu blog está de parabéns!

John Ford exerceu um filme que é um marco, sou mais ele que Cidadão Kane e tenho dito!

ate!