31 maio 2010

TOP 1934 - Cavalgada

Qualquer tipo de arte é contextual, inclusive o cinema, o que pode ser comprovado pelo ganhador do Oscar de 1934, o drama de guerra (de novo!!) Cavalgada. Dirigido por Frank Lloyd, o longa descreve 30 anos da história da Inglaterra (de 1899 a 1932), passando por grandes acontecimentos que abalaram o país, como a morte da rainha Vitória, o naufrágio do Titanic e a Primeira Guerra Mundial. Qualquer semelhança com o ganhador do Oscar de 1932 Cimarron é pura coincidência...por esse detalhe dá pra perceber como os roteiros cinematográficos sempre acompanharam uma linha histórica definida. Com algumas exceções, houve épocas marcadamente iguais, nas quais filmes semelhantes ocuparam o topo da cadeia alimentar das estatuetas.

É o caso das produções pós-Crash, que acentuaram de maneira significativa o sentimento paternalista e patriota que fariam com que os EUA se tornassem a potência (sempre otimista) de sempre. Além desta insistência, podemos perceber a fixação pela guerra nos filmes deste começo do Oscar (aliás, vários filmes de guerra levaram a melhor ao longo das décadas). Mais um exemplo pacifista, Cavalgada é categórico ao demonstrar as conseqüências ruins da guerra, exemplificando com tragédias na vida da família Marryot. Todos os acontecimentos históricos da época são demonstrados através de consequências na vida de Jane e Robert Marryot e seus dois filhos.

Diferente do que a crítica diz, acredito que Cavalgada é até mais pacifista que Cimarron (considerado o filme mais anti-guerra de todos os tempos). Digo isto pela sequência final, na qual a periculosidade e as desvantagens da guerra são declaradamente expostas para o público. Para entenderem melhor, deixem-me explicar que o filme começa no reveillón de 1900 e termina no reveillón de 1933, numa tentativa de projeção negativa para o futuro. O espírito de "pode ser diferente se não houver mais guerras" é firme durante todo o filme.

Visualmente falando, é bom, por trazer à tela ações de guerra (bombardeios, tiros, explosões) com uma qualidade superior aos anteriores. Porém, é pior que Grande Hotel, que, mostrando apenas cenas internas, consegue superar expectativas tecnológicas da época. Quanto às atuações, perde por trabalhar com atores de teatro, sem experiência alguma com cinema. Novamente é inferior a Grande Hotel, que congrega qualidades de roteiro, atuação e fotografia.

Nem sempre grandes produções, mesmo que ganhem o Oscar de Melhor Filme, são super bem feitas, principalmente numa época em que, para mobilizar centenas de figurantes em longas cenas externas, a tecnologia não ajudava muito. O que quero dizer é que o simples passar dos anos não é sinal de desenvolvimento técnico nem crítico no cinema. De qualquer forma, Cavalgada é uma dica para quem gosta de filmes de guerra e, principalmente, concorda que a guerra não é nem um pouco boa para o mundo.

OBS: Veja a primeira alusão ao afundamento do Titanic, navio no qual o primogênito de Jane e Robert passam a lua-de-mel, e morrem.

OBS²: A tela de FIM apareceu de novo!! rsrsr

CAVALGADA - CAVALCADE
LANÇAMENTO: EUA (1933)
DIREÇÃO: FRANK LLOYD
GÊNERO: DRAMA DE GUERRA
NOTA: 7,2

28 maio 2010

1/3 ESTREIA - O Escritor Fantasma

Assim como tem semanas em que há muitas estreias boas no cinema, e fica difícil escolher apenas uma para dar destaque aqui no 1/3 ESTREIA, tem outras, como essa (28 de maio a 03 de junho) em que nenhuma estreia parece ser boa o suficiente (para mim) para ocupar este precioso espaço (modéstia à parte). Hoje resolvi escolher o mais novo filme de Roman Polanski, O ESCRITOR FANTASMA. Por incrível que pareça, o polêmico diretor (que, na década de 70, foi acusado de abusar de uma menor de idade), finalizou o mais novo filme, que estreia hoje, preso!! É isso mesmo..ele é foragido da justiça americana (pelo crime da década de 70) e espera a extradição na Suiça, em prisão domiciliar.

Consagrado por filmes como O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002), Polanski volta à tona com a história de um ghost writer, escritor que não assina suas obras, vivido por Ewan McGregor, que é contratado para dar continuidade às memórias do ex-primeiro ministro britânico Adam Lang (Pierce Brosnan), depois do afogamento misterioso do primeiro contratado. Além deste peso, há o fato de o biografado ter sido acusado há poucos dias de permissão de tortura no Afeganistão. É nesse clima de thriller de suspense (refletindo a própria vida do diretor) que a trama é conduzida. Fica a dica!

Pessoal, esses dias têm sido bem atribulados, por isso o atraso no TOP 1/3 e a demora dos posts. Acredito que semana que vem tudo já esteja normalizado...

O ESCRITOR FANTASMA (THE GHOST WRITER)
LANÇAMENTO: 2010 (FRANÇA/ ALEMANHA/ REINO UNIDO)
DIREÇÃO: ROMAN POLANSKI
GÊNERO: DRAMA
VONTADE: 9,0

Além da nova estreia de Polanski, temos hoje:

EM TEU NOME. Brasil, 2009. Direção: Paulo Nascimento. Gênero: Drama. Elenco: Leonardo Machado, Fernanda Moro, Nelson Diniz, César Troncoso, Silvia Buarque.
VONTADE:
3,0

OLHOS AZUIS. Brasil, 2009. Direção: José Joffily. Gênero: Drama. Elenco: David Rasche, Cristina Lago, Irandhir Santos.
VONTADE: 2,0

SEX AND THE CITY 2. EUA, 2010. Direção: Michael Patrick King. Gênero: Comédia. Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Cynthia Nixon, Kristin Davis.

VONTADE: Tá zuando com a minha cara? rsrsrsrs

Até semana que vem pessoal!! À todos, um bom fim de semana!!

23 maio 2010

TOP 1933 - Grande Hotel

Acho que no início da história do Oscar, a Academia não estava muito certa das prioridades na avaliação dos filmes indicados. Hoje, sabemos que os “fodões” da sétima arte privilegiam declaradamente aquelas produções mais dramáticas, mais preocupadas com a atução, relegando ao gosto exclusivo do público até mesmo as grandes produções, tecnicamente melhores (está aí a disputa Avatar x Guerra ao Terror para comprovar).

Em 1933, o grande vencedor, GRANDE HOTEL, surpreendeu ao não ser uma grande produção (o que vinha acontecendo nas quatro primeiras edições do prêmio) e levar às telonas alguns dos maiores astros da época juntos, num mesmo filme, como Joan Crawford, Greta Garbo e os irmãos John e Lionel Barrymore. A trama é simples, limitando-se a revelar os problemas existenciais vividos por vários hóspedes do hotel mais requintado de Berlim, o Grand Hotel.

Marco do cinema, Grande Hotel inova ao conciliar diversas histórias numa só, numa produção cortada, na qual os diversos conflitos são muito bem ligados através de cortes estratégicos e inéditos, numa transição que lembra muito uma apresentação de slides (uma linha atravessa a tela, enquanto muda-se de cena). Além desta inovação, não há mais a utilização de telas de legenda, seja para substituir a falta de oralidade (como no cinema mudo) ou para dividir atos da história. Esta habilidade revela a evolução do cinema, uma vez que privilegia-se as falas ao invés das imagens, valorizando o espectador, seu entendimento, suas conclusões.

Apesar do ceticismo do Dr. Otternschlag (Lewis Stone), que abre e fecha o filme com a frase “Grande Hotel, as pessoas vêm e vão, e nada acontece”, o diretor Edmund Goulding o contradiz, mostrando histórias que se entrelaçam, formando uma rede interativa, que traz o eterno cansaço da dançarina frustrada Grusinskaya (Greta Garbo, já famosa), que se envolve com o impostor Baron Felix von Geiger (John Barrymore), ladrão de hotéis que, deslumbrado com a riqueza da cantora, busca uma forma de ludibriá-la, seduzindo-a (forma de estreitar contatos, afim de roubá-la).

O suposto barão consegue seduzir a estenógrafa Flaemmchen (Joan Crawford), que está no hotel trabalhando para o rico empresário Preysing (Wallace Beery) que, por sua vez, tenta reanimar suas empresas, por meio de um contrato com uma rede têxtil. Um de seus empregados, Otto Kringelein, descobre estar nos últimos dias de vida, e resolve “viver”, o que nunca havia feito antes, se hospedando no melhor quarto do melhor hotel da cidade. Todas estas histórias se entrelaçam, num retrato da elite americana pós depressão de 1929.

As interpretações brilhantes de Garbo, Crawford e Barrymore são o destaque do filme, o que, possivelmente, tenha permitido sua vitória, já que, pela primeira e única vez na história do cinema, Grande Hotel não foi indicado a nenhuma outra categoria a não ser a de Melhor Filme (que acabou levando). Especulações dizem que a Metro (produtora do filme) insistiu num pesado esquema de marketing (com o argumento da reunião de vários astros numa única produção), o que pesou na hora da escolha da Academia.

Comparando com os outros vencedores, Grande Hotel realmente é superior, tanto no roteiro, quanto na resolução das imagens e também nas interpretações, maravilhosamente representadas por artistas consagrados da época. OBS: a inflação dos egos foi tamanha que o diretor foi obrigado a não juntar Garbo e Crawford numa mesma cena, pois as duas brigariam, em busca de maior destaque.




Um destaque que deve ser observado são as sequências nas quais as recepcionistas do hotel são filmadas de cima, apresentando o embrião do hoje conhecido telemarketing. Um primor que introduz, divide e encerra a história. Acredito que o diretor quis que o espectador relacionasse as várias vozes, as ligações contínuas de fios e os inúmeros telefones tocando ao mesmo tempo com a frutilidade do que acontece naquele ambiente todos os dias.

Neste ano, foram oito os indicados na categoria de Melhor Filme: além do filme vencedor, Depois do Casamento, Médico e Amante, O Campeão, O Expresso de Shangai, O Tenente Sedutor, Sede de Escândalo e Uma Hora Contigo.

GRANDE HOTEL - GRAND HOTEL
LANÇAMENTO: 1932 (EUA)
DIREÇÃO: EDMUND GOULDING
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 8,2



21 maio 2010

1/3 ESTREIA - Quincas Berro D'água

Jorge Amado deve estar se revirando no túmulo. Hoje é estreia de sua mais nova montagem para o cinema: Quincas Berro D'água. Um dos autores nacionais mais polêmicos e revisitados de todos os tempos, tanto no cinema quanto nos palcos do teatro, Jorge Amado ganha agora uma versão de peso, num longa dirigido por Sérgio Machado (Cidade Baixa) e estrelado por ninguém mais ninguém menos que Paulo José, um dos atores mais renomados da dramaturgia brasileira, que interpreta o defunto Joaquim Soares da Cunha, o Quincas, que resolve compensar a monotonia da vida, curtindo a boêmia soteropolitana postumamente.

O ator, de 72 anos, sofre há 17 do Mal de Parkinson, o que o debilita consideravelmente em vários aspectos. Segundo especulações da mídia, Paulo consegue, mesmo doente, dar expressões convenientes e brilhantes ao defunto, que, depois da morte, passa a ser carregado pelos amigos beberrões pelas ruas do Pelourinho, passando por brigas, assalto e até por uma dança sanduíche (como você pode ver na foto acima).

Além do monstro Paulo José, a produção ganha destaque com as atuações de Marieta Severo, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta, Milton Gonçalves, Othon Bastos, Walderez de Barros, entre outros. O filme é baseado na obra homônima de Jorge Amado, publicada em 1961, o que já é um atrativo para nos levar ao cinema. Tomara que eu goste do filme, porque minha expectativa é muito grande.

QUINCAS BERRO D'ÁGUA
DIREÇÃO: SÉRGIO MACHADO
GÊNERO: DRAMA/ COMÉDIA
DURAÇÃO: 104 MINUTOS
VONTADE: 10,0

Além deste exemplar do cinema nacional, estreiam hoje:

FÚRIA DE TITÃS (Clash of the Titans) EUA, 2010. Direção: Louis Leterrier. Gênero: Ação/ Aventura/ Épico/ Fantasia. Elenco: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes.
VONTADE: 10,0

DEU A LOUCA NOS BICHOS (Furry Vengeance) EUA, 2009. Direção: Roger Kumble. Gênero: Comédia/ Infantil. Elenco: Brendan Fraser, Brooke Shields.
VONTADE: 5,0 (Só por causa da Brooke Shields)

É isso aí! Poucos filmes essa semana né? Então até mais! E obrigado a todos pelos comentários. São eles que me fazem continuar escrevendo.

19 maio 2010

TOP 1932 - Cimarron

Quando disse que seria difícil encontrar os filmes para levar o projeto adiante, admito que não me levei muito a sério, mas confesso que está sendo bem duro encontrá-los (principalmente os mais antigos). CIMARRON, quarto ganhador de Melhor Filme do Oscar, é raríssimo em todos os lugares, sendo quase impossível comprá-lo. O jeito foi baixá-lo da internet, mas havia um detalhe: só havia disponível legenda em espanhol, ou seja, além de conhecer um novo filme, treinei um idioma diferente rsrsrs...

A produção perpassa os quarenta anos de colonização americana na oeste ocupada pelos índios Cherokees (1890 - 1929). Sabe-se que muitos foram torturados e mortos neste período, devido ao incansável impulso produtivo que existe nos EUA. Yancey Cravat (Richard Dix), jornalista progressista e homem poderoso de Oklahoma, depois da abertura das terras em Osage para a colonização, deixa Wichita com sua família e vai tentar novas oportunidades de vida. Monta seu jornal no primitivo vilarejo, mas logo se cansa (ele tem a mania de não ficar mais de cinco anos em um só lugar), deixando esposa e dois filhos, em busca de novas aventuras em Cherokee Streep, possível reserva de petróleo (material muito pouco explorado na época).

Sabra Yancey (Irene Dunne) tem que administrar um jornal, cuidar da casa e dos filhos e se manter exemplar diante da sociedade machista e preconceituosa da época, enquanto os devaneios de seu marido eram saciados pela adrenalina de viver sem rumo. Os anos se passam e o vilarejo vira metrópole, graças ao "eficiência norte americana" (talvez uma das mensagens mais fortes do longa). Seja coincidência ou não, o filme foi produzido logo após o "crash" da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, que abalou as estruturas de todo o país, e exigiu a contínua reafirmação do poder dos americanos, o patriotismo exacerbado recorrente até os dias atuais nos EUA.

CIMARRON, que além do título do filme, é o nome do primogênito de Sabra e Yancey, ao mesmo tempo em que maltrata mais ainda os índios, com preconceitos que, na época, ainda não eram politicamente incorretos, transmite lições de cidadania e respeito ao próximo, como o julgamento de uma prostituta por injúria social, considerada inocente, ou o casamento entre Cimarron e uma índia legítima (tudo isso já na década de 20 do século passado, ou seja, no final da história. Desde 1890, Yancey tenta conscientizar seus conterrâneos, através de seus editoriais, que todos são iguais perante Deus, já que também á pastor)

Por meio de um homem poderoso, que representa a capacidade de desenvolvimento dos Estados Unidos, o diretor Wesley Ruggles conseguiu levar ao seu público o sentimento de superioridade que os EUA têm insistência em reafirmar, seja no cinema, na música, nas artes, na política, na economia ou em qualquer setor social.

Tecnicamente falando, Cimarron ousa ao encher o longa de externas (prática muito cara, tanto na época quando hoje) e levar ao set centenas de figurantes, que representam a população de Osage. As interpretações não merecem destaque algum, pois parece que todos ainda acham que estão atuando num filme mudo. O que era para ser um drama, se torna um faroeste cômico, gênero representativo das (quase) extintas chanchadas mudas. Os diretores parecem que tampouco se importam, pois contribuem com esse atraso interpretativo ao inserirem telas de legendas que demarcam as situações, ao invés de revelarem uma mudança do tempo e espaço dramáticos através de diálogos, prática bem mais eficiente e racional, uma vez que sua utilização pode denotar certa subestimação da inteligância do espectador.

Cimarron é o primeiro faroeste a ganhar o prêmio de melhor filme no Oscar (depois repetido apenas por Dança com Lobos e Os Imperdoáveis, já na década de 90). O filme realmente deve ter surpreendido na época, principalemente pelas sequências de corrida de cavalos pelo deserto, através de um travelling longo vindo do alto. Também pode ter surpreendido pela mensagem claramente patriota que o longa traz, exatamente num momento difícil pelo qual os Estado Unidos passavam. Mais uma prova de que cinema é altamente contextual, e não se deve julgar um filme de oitenta anos atrás com um olhar contemporâneo.

Mesmo não possuindo uma sincronia sonora excelente, nem interpretações exemplares, nem um gênero que me agrade (ninguém merece western, com seus estereótipos do vaqueiro que só bebe, atira e anda de cavalo sem motivo algum!!), o filme encanta pelo banho de história que proporciona e pelo roteiro super bem escrito (e adaptado).
Prova de que o longa chamou a atenção de público e crítica é o fato de ele ter sido refilmado em 1960, desta vez estrelado por Glenn Ford (o que não rendeu mais prestígio que a primeira edição). Baseado no romance homônimo de Edna ferber, Cimarron é divertido, dramático, revela os anseios de uma sociedade capitalista, líder de nascença, patriota, mas que precisou exterminar milhares de índios para se firmar como a potência que conhecemos hoje. De qualquer maneiro, recomendo.

OBS¹: Para o prêmio de melhor filme, concorreram Cimarron, Lágrimas de Amor, Skippy, Trader Horn e Última Hora.

OBS²: A tela de The End ainda permanece firme e forte

CIMARRON
LANÇAMENTO: 1931 (EUA)
DIREÇÃO: WESLEY RUGGLES
GÊNERO: WESTERN/ DRAMA
NOTA: 8,0

14 maio 2010

1/3 ESTREIA - Robin Hood

Depois de digladiar à vontade em 2000, a mente brilhante de Russel Crowe volta às telonas como Robin Hood, do mesmo Ridley Scott, mais uma vez como um herói. Roubando dos ricos para dar aos pobres, o justiceiro às avessas encara a tirania de um xerife para livrar a Inglaterra de uma possível guerra civil após a morte do rei Ricardo I. Para tanto, Robin e seus amigos mercenários lutam para impedir que o país seja governado por mãos erradas.

No meio de todo esse jogo de abusos de poder, o arqueiro camarada encontra Lady Marion (Kate Blanchett), com quem se apaixona. Obviamente, no começo a viúva é completamente cética quanto a eficácia dos métodos utilizados pelo protagonista e o odeia, mas o ódio, aos poucos, vai dando lugar a um outro sentimento (esse mesmo!)

O longa vale a pena por se tratar de Ridley Scott (de "Alien, o Oitavo Passageiro". Não precisa falar mais nada né? corra pro cinema), e por trazer os competentes Russel Crowe e Kate Blanchett como protagonistas.

ROBIN HODD
LANÇAMENTO: REINO UNIDO/ EUA (2010)
DIREÇÃO: RIDLEY SCOTT
GÊNERO: AVENTURA/ AÇÃO
VONTADE: 10,0

Além de Robin Hood, estreiam hoje:

OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (Män som hatar kvinnor) Suécia/ Alemanha/ Dinamarca, 2009. Direção: Niels Arden Oplev. Gênero: suspsens. Elenco: Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Peter Haber, Lena Endre, Sven-Bertil Taube.
VONTADE: 7,0

O PREÇO DA TRAIÇÃO (Chloe) EUA/ Canadá/ França, 2009. Direção: Atom Egoyan. Gênero: suspense. Elenco: Amanda Seyfried , Julianne Moore , Liam Neeson.
VONTADE: 6,0

MARÉ DE AZAR (Extract) EUA, 2010. Direção: Mike Judge. Gênero: Comédia. Elenco: Ben Affleck, Jason Bateman, JK Simmons.
VONTADE: 2,0

MADEMOISELLE CHAMBON, França, 2009. Direção: Stéphane Brizé. Gênero: Drama. Elenco: Vincent Lindon, Sandrine Kiberlain, Aure Atika.
VONTADE: 0

ANTES QUE O MUNDO ACABE, Brasil, 2010. Direção: Ana Luiza Azevedo. Gênero: Aventura. Elenco: Pedro Tergolina, Eduardo Cardoso, Caroline Guedes, Eduardo Moreira, Janaína Kremer, Bianca Menti
VONTADE: 5,0

O 1/3 ESTREIA volta semana que vem com mais dicas de filmes. Até lá!

13 maio 2010

TOP 1931 - Sem Novidades no Front

Todo filme que se preze tem que exibir, por meio de seu enredo e direção, uma mensagem ao espectador, um sentido com o qual todos, ou grande parte do público, possa se valer para reafirmar ou atualizar as concepções sobre algum assunto. Dessa lista, porém, excluo algumas espécimes peculiares de nossa produção cinematográfica mundial, como as séries Todo Mundo em Pânico e American Pie, entre outras, que se baseiam apenas no entretenimento e na busca por bilheteria fácil, sem nenhuma pretensão estética.

O período entre-guerras mundiais foi marcado por uma bela produção que, entre tantas outras, busca conscientizar os espectadores, por meio da trama, sobre as desvantagens de se guerrear. Considerado o maior filme pacifista de todos os tempos, Sem Novidades no Front conta a história de sete jovens patriotas alemães que se alistam no exército apenas para defenderem seu país, sem nenhuma motivação vocacional. Na expectativa de encontrarem status e uma rotina sossegada, partem rumo a uma das experiências mais cruéis de suas vidas.

É da pior maneira que descobrem o lobo que existe no interior da pele de cordeiro que havia sido construída em seus subconscientes ao longo do período escolar. O professor Kantorek (Arnold Lucy) é o responsável por motivá-los a incorporarem o batalhão bélico através de um discurso marqueteiro, que remetia constantemente às vantagens que a guerra traria, sem fazer referência aos perigos.

À frente dos novos soldados está Kat Katczinsky (Louis Wolheim), coronel compreensível, que tenta amenizar os estragos feitos pelas bombas e tiros, como as inúmeras mortes, amputações etc. Contrapondo, está Himmelstoss (John Wray), coronel e ex-carteiro da pequena cidade alemã, que sofre diariamente com o abuso da aproximação de seus subordinados, que não conseguem o tratar com o devido respeito que o cargo lhe confere. Portanto, é autoritário e não trata seus soldados com o mínimo respeito.

Uma das cenas mais marcantes é a sequência realizada no início e no fim da obra, na qual um discurso altamente publicitário do professor "obriga" seus estudantes a se alistarem. Paul Bäumer (Lew Ayres), o único sobrevivente da primeira "leva" de carne fresca para o front, desobedece o professor e incentiva os estudantes a fazerem projetos pessoais, concretizarem seus sonhos e não se alistarem (isso já no final do filme, quando volta do campo de batalha).

O personagem de Ayres pode ser considerado o alter ego do diretor Lewis Milestone, que, mesmo sendo americano e produzindo filmes "para americano ver", deixa de lado o ego inflado de seus compatriotas e incorpora a devastação psicológica imbuída nas mentes dos perdedores da Primeira Guerra, soando como um grito de alerta para a paz (lembrando que, oito anos após a produção do longa, eclodiu a Segunda Guerra, ou seja, a mensagem não reverberou da maneira desejada).

Novidade na época, o filme conta com a utilização de flash backs dos alunos, que lembram de suas vidas "civis", temendo o que a guerra pode proporcionar-lhes, e também o brilhante uso de um travelling rápido no encontro entre dois batalhões inimigos na trincheira de guerra. A cena mostra com perfeição os tiros atingindo os soldados, as bombas explodindo etc. Até em filmes atuais não vi uma angulação tão interessante como a usada.

Qualidades à parte, tecnicamente (com exceção da cena da trincheira) o filme é ainda muito fraco, com desencontros entre ações e sons (como bombas e tiros), precariedades na construção dos cenários externos, como as trincheiras e pontos de apoio dos soldados, além de não possuir interpretações excepcionais. Os cortes entre as cenas são bem mais sutis que os filmes anteriores, mas ainda são usados em excesso. A compactação de cenas através de ligações mais amenas ainda não aparece.

Para quem gosta de filmes de guerra, é uma boa experiência cinematográfica, até porque é fato que diretores de filmes atuais, como Platoon e O Resgate do Soldado Ryan, se espelharam em alguns pontos de Sem Novidades no Front para construírem suas narrativas. Observação: A tela de FIM ainda é utilizada.

No segundo Oscar do ano de 1930, realizado dia 5 de novembro, concorreram com Sem Novidades no Front: a comédia A Divorciada, Alvorada do Amor, a cinebiografia Disraeli e o drama O Presídio.

SEM NOVIDADES NO FRONT - ALL QUIET ON THE WESTERN FRONT
LANÇAMENTO: 1930 (EUA)
DIREÇÃO: LEWIS MILESTONE
GÊNERO: DRAMA/GUERRA
NOTA: 7,5

11 maio 2010

A fuga da Terra Prometida




“A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas. Eu vivia num ermo habitado apenas por cinco homens. Meu pai dera um nome ao lugarejo. Simplesmente chamado assim:” Jerusalém “. Aquela era a terra onde Jesus haveria de se descrucificar. E pronto, final”.




O primeiro parágrafo de Antes de Nascer o Mundo, mais novo romance de Mia Couto, bem representa tanto a trama a qual se desenrola as vidas do patriarca Silvestre Vitalício e seu clã exilado nos recônditos moçambicanos, quanto a linguagem única do gajo escritor/biólogo de apelido Mia (pela predileção declarada pelos gatos), considerado fidelíssimo representante da literatura africana contemporânea, através da transparescência, em sua escrita, da relação umbilical que cultiva com a terra.

A primeira pessoa que narra o trecho descrito (e todo o restante da obra) é Mwanito, o filho mais novo de Vitalício e habitante caçula de Jerusalém, a terra prometida criada pela culpa e pela possibilidade de redenção dos pecados humanos, oriundos do mundo morto, ou melhor, assassinado pela corrupção humana. Segundo a política ditatorial que governa a nação Jerusalém, não há vestígio de humanidade na Terra senão aquelas cinco vidas que dividem o mundo surreal idealizado pelo ditador.

Assim como Mwanito, seu irmão mais velho, Ntunzi, o meio irmão da mãe morta, Tio Aproximado e Zacaria Kalash, ex-militar e empregado sempre fiel de Vitalício, compartilham da loucura de “vagalumear, acesos apenas por breves intermitências”, o que corresponde à cruel e imposta rotina de continuar vivendo, “envelhecer evaporado em mim, como um véu esquecido num banco de igreja”.

Mia Couto divide sua obra em livros, nos quais apresenta toda a humanidade de Jerusalém, ou seja, os cinco habitantes; narra o aparecimento de Marta, o resquício do “Lado-de-Lá” que irá desestruturar a letargia instaurada no vilarejo; e conta as revelações de um mundo esquecido pela ação do tempo, ou desconhecido pela relação íntima com o afastamento. Para intensificar a carga poética do romance, o autor insere, em cada início de capítulo, trechos de poemas de colegas pensadores, como Hilda Hilst, Sophia Andresen, Jean Baudrillard, Adélia Prado e Alejandra Pizarnik, além de desempenhar seu potencial de poeta ao longo da prosa.

No primeiro livro do livro, o autor desenvolve a construção dos personagens, para que possamos entender suas ações ao longo da trama. Desde Mwanito, narrador oficial da história, até Jezibela, a jumenta responsável por “afogar os devaneios sexuais do velho pai”, Mia Couto (o da foto abaixo) enreda, com criatividade e eficiência, sua obra. Marcas do estilo do autor podem ser evidenciadas por meio dos neologismos criados, que aproximam Mia de autores como Guimarães Rosa, e pelo universo fantástico e improvável no mundo real (a vida em uma Jerusalém, por exemplo), mas repleto, ao mesmo tempo, de verossimilhança, no que concerne a capacidade de assimilar conceitos de política, sociologia, antropologia e ecologia presentes no texto (sua forma de transformar o fantasioso em real lembra um pouco os textos de Gabriel Garcia Marquez).

A “morte sem luto” criada pela permanência em Jerusalém é ressuscitada com o aparecimento de Marta, uma portuguesa que anseia encontrar o marido fotógrafo encantado com os prazeres e as desgraças da África, mas que acaba encontrando na imensidão deserta da fortaleza de Vitalício uma razão para viver, um caminho para sua busca existencial. Mesmo longe do amor de sua vida, é a ela própria que acaba se encontrando.

Mas sua permanência nessa fonte de purificação depende da flexibilidade do inflexível Silvestre Vitalício, que age severamente para que a “puta”, assim como considera todas as mulheres do mundo, saia de seu suposto domínio territorial, e o deixe vegetar em paz com sua nação fracassada. O jogo de poder entre a sutil influência de Marta e o abuso de Silvestre faz com que a repressão se instaure de vez (assim como acontece num sistema de governo quando da influência de um fator externo que prejudique o funcionamento regular do sistema).

O povo de Vitalício se vê na oportunidade de voltar ao mundo real e, em contrapartida, sofre com a postura autoritária do governante. Será que é hora de “desbatizar-se” e retomar a vida, como se Jerusalém fosse apenas um sonho (ou pesadelo) que passou pela vida de cada um? Mas será que eles ainda têm uma vida fora daquela terra? Para Mwanito, que saiu da cidade ainda bebê, realmente não existe nada nem ninguém fora dos limites da visão e dos ensinamentos de um pai que dá mais atenção à jumenta amante do que aos filhos. Para ele, toda sua vida até o momento se passou antes do nascer do mundo.

Por meio deste questionamento constante, Mia Couto vai tecendo sua trama ao longo da mentira, da ilusão de um mundo imaginário e da ingenuidade de um garoto que sonha em ter uma identidade, descobrir seu passado, ter um futuro, um nome, ser alguém. O mistério em torno da morte de Dordalma, mãe dos garotos, acompanha a história, e o leitor por vezes pensa que Vitalício se trata de um assassino, ou que ela se matou.

O mistério acaba no fim do livro, mas a sensação de sublimação continua no inconsciente de cada leitor, que se envolve com a história de uma família/nação que enfrenta a solidão e a superpopulação ao mesmo tempo, tendo que encontrar saídas para não enlouquecer com tamanho paradoxo. A leitura de Antes de Nascer o Mundo é uma viagem inesquecível aos confins da África, sensação que pode ser evidenciada pelos termos estritamente regionais usados pelo autor, como a mania de usar o sufixo “ito” no final das palavras no diminutivo, como “caladito” e “humanidadezita”.

Outra marca do estilo do autor presente na narrativa é a inversão sintática nas orações interrogativas, nas quais Mia primeiro responde uma indagação para depois revelar que personagem foi o responsável por tal expressão. Além disso, inteiramente inebriado pelas causas naturais, o autor permanece retratando a natureza em suas obras, com o mesmo entusiasmo e paixão com que conduziu Terra Sonâmbula (1992), Vozes Anoitecidas (1986) e Chuva Pasmada (2004), além de outros contos, romances e poemas dedicados a narrar, com o estilo “coutiano” de ser, os ciclos da natureza com os olhos do biólogo que é, mas com o coração de poeta.

ANTES DE NASCER O MUNDO - JERUSALÉM
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Lançamento: Brasil (2009)
Páginas: 280
Preço: 42,00
Nota: 10,0

07 maio 2010

1/3 ESTREIA - A Hora do Pesadelo

A partir de hoje, toda sexta, aqui no 1/3, é dia do projeto "1/3 ESTREIA". Sugiro, a partir das estreias de cinema de cada semana, a que mais me apetece, a que mais me influencia a investir meu rico dinheirinho em duas horas numa sala escura. Se é o melhor filme, pouco me importa (e também nem tenho como saber antes de assistir) mas, como o blog é meu, eu faço o que eu quiser (aqueles mais mal educados!). Além disso, dou notas de 0 a 10 para minha vontade de assistir a todas as estreias da semana.

Hoje dedico meu espaço ao novo remake de terror das telonas: A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street), que conta (ou melhor, reconta) a história de Freddy Krueger, um assassino serial que descobre nos sonhos de suas vítimas um canal eficiente para a matança. Criado na década de oitenta pelo diretor Wes Craven, Freddy atormenta a vida de quem não consegue se conter e cai no sono. Carma em toda produção de terror, alguns jovens (Ahh!!) passam a dividir o mesmo sonho que, aos poucos, se torna um pesadelo: a influência subconsciente do assassino passa a afetar a vida real dos garotos.

Para os saudosistas e adoradores do terror (geralmente as duas características não coexistem), o clássico adaptado deve ser apreciado. Portanto, agende uma sessão (de preferência noturna) para conferir A Hora do Pesadelo o mais rápido possível, antes que a vontade invada seus sonhos e traga, junto dela, uma presença inesperada, se é que você me entende.

A HORA DO PESADELO (A NIGHTMARE ON ELM STREET)
LANÇAMENTO: EUA (2010)
DIREÇÃO: SAMUEL BAYER
GÊNERO: TERROR
VONTADE: 10,0

Além de A Hora do Pesadelo, estreiam hoje:

QUERIDO JOHN (Dear John) EUA, 2010. Direção: Lasse Hallström. Elenco: Channing Tatum, Amanda Seyfried, Richard Jenkins. Duração: 105 min.

VONTADE: 5,0

O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS (The Imaginarium of Dr. Parnassus) EUA, 2009. Direção: Terry Gilliam. Elenco: Heath Ledger, Lily Cole, Johnny Depp, Jude Law, Colin Farrell. Duração: 122 min.

VONTADE: 8,5

VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO, Brasil, 2009. Direção: Karen Arinous e Marcelo Gomes. Duração: 75 minutos.

VONTADE: 4,0

SEGURANÇA NACIONAL, Brasil, 2009. Direção: Roberto Carminati. Elenco: Thiago Lacerda, Ângela Vieira, Milton Gonçalves, Márcio Rosário. Duração: 87 min.

VONTADE: 5,5

LUZES NA ESCURIDÃO (Lights in the Dusk) Finlândia, 2006. Direção: Aki Kaurismäki. Elenco: Janne Hyytiäinen, Maria Järvenhelmi, Maria Heiskanen. Duração: 80 min.

VONTADE: 0

POLÍCIA, ADJETIVO (Politist, Adjectiv) Romênia, 2009. Direção: Corneliu Porumboiu. Elenco: Dragos Bucur, Vlad Ivanov, Ion Stoica. Duração: 115 min.

VONTADE: 0

MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL (The Spy Next Door) EUA, 2009. Direção: Brian Levant. Elenco: Jackie Chan, Lucas Till, Amber Valletta. Duração: 94 min.
VONTADE:
Dá pra ser negativa?

Semana que vem tem mais!

Bom fim de semana e boas sessões!

06 maio 2010

TOP 1930 - Melodia da Broadway

O ano de 1930 foi excepcional para a Academia. Entre abril e novembro, houve duas cerimônias de premiação do Oscar, uma no dia 03 de abril (da qual falarei hoje, que contemplou os filmes de 1928 até metade de 1929) e outra no dia 05 de novembro (responsável por avaliar os filmes do final de 29). As doze categorias premiadas no primeio Oscar se reduziram a apenas sete, e o número de indicados aumentou de três para cinco filmes.

Entre a aventura O Peso da Lei , o western No Velho Arizona, a cinebiografia Alta Traição e a comédia musical The Hollywood Revue of 1929, quem levou a melhor foi o primeiro musical totalmente falado da história do cinema: A Melodia da Broadway. A história, obviamente, se passa no badalado bairro novaiorquino, que recebe as irmãs Mahoney, dançarinas do interior, que buscam oportunidades na cidade grande. Hank Mahoney (Bessie Love, indicada ao prêmio de melhor atriz naquele ano) é noiva de Eddie Kearns (Charles King), compositor e cantor de musicais, que promete fazer com que a noiva e a cunhada sejam um sucesso na Broadway.

Queenie Mahoney (Anita Page), a irmã mais nova, é demasiadamente protegida por Hank, que age como mãe para a parenta, defendendo-a com unhas e dentes de qualquer situação constrangedora. É por meio da nova composição de Eddie (a canção The Broadway's Melody) que o filme se desenrola. O novo musical do senhor Francis Zanfield (Eddie Kane), magnata da indústria musical de New York, se aproxima, e as irmãs Mahoney farão de tudo para conquistar vagas no espetáculo. Entre idas e vindas, as irmãs descobrem como funciona o mundo dos musicais, ao mesmo tempo em que enfrentam as dores do amor triangular de Eddie, que, após anos sem ver Queenie, descobre nela uma mulher, diferentemente da criança de antes.

Primeiro campeão falado do Oscar, Melodia da Broadway desenvolve, em relação ao primeiro longa contemplado pela Academia, uma linguagem mais cinematográfica (se o compararmos com o que conhecemos de cinema atualmente). Longos travellings de Nova York marcam o início e o fim da obra, a atuação é mais verossímel que os longas mudos (pelo poder que o artifífio da oralidade concede) e os cortes de cena marcam o tempo com mais eficiência que Asas, mesmo que ainda precariamente.

Digo que são precários porque os cortes são secos demais, evidenciando falta de experiência, ou visão cinematográfica, do diretor Harry Beaumont (é simples: ele não tinha como se amparar em outros exemplos, já que o cinema estava no início de seu desenvolvimento. Deve ser por isso que nunca mais dirigiu filme algum!!). Além de secos, geralmente dividem duas cenas desconexas (mas esse já um problema do roteiro mal escrito).

Característica do cinema mudo, a tela de legenda ainda aparece aqui, mas agora para revelar de onde se passará a cena seguinte, como, por exemplo, "Do hotel em que as irmãs Mahoney estão hospedadas". Este artifício, a meu ver, não contribui com a racionalidade do espectador, que ganha tudo mastigado, não havendo necessidade de se concentrar para entender o que acontece naquele momento no filme (mais um primitivismo cinematográfico).

A trilha sonora foi bem escolhida, com toques de jazz e blues dançante, mas apenas acompanha os números musicais, não havendo ambientação nos trechos de interpretação. Fiquei em dúvida se se tratava de um musical propriamente dito ou apenas um drama musical, uma vez que a maioria das músicas é feita no palco, por meio dos ensaios de um espetáculo, que será encenado mais pra frente. É a partir da musicalização de uma declaração de amor de Eddie para Queenie que admito se tratar de um primo distante da Noviça Rebelde (bem distante, por sinal).

Para finalizar, as atuações. Elas continuam incontidas, como no ano anterior, mas com a diferença de serem mais reais. Os atores continuam se valendo do exagero de expressões para dar mais comicidade ao ato de atuar (mesmo que não seja uma comédia). No caso de Melodia da Broadway, a influência das chanchadas (que começavam a perder a timidez no mercado do cinema, mas, mesmo assim, não tinham voz nem vez junto a Academia) é evidente, através de passagens hilárias (à la Praça é Nossa) e de caras e bocas do ator Jed Proty, que interpreta o tio Jed (??!!) das irmãs Mahoney.

OBS¹: O "The End" aparece, assim como em Asas, no final do filme. Quanto tempo será que o cinema demorou para inventar formas mais criativas para terminar uma produção? A resposta eu ainda não sei, mas quando ficar sabendo (ao longo do projeto) falo para vocês.

OBS²: Sobre a indagação dos seguidores sobre o porque de eu ter dado a nota 6,0 para Asas, aí vai a resposta: como não tenho parâmetros históricos concretos para comparar as produções antigas, comparo-as com os filmes da mesma temática que conheço, ou seja, filmes mais recentes (é claro que amparado numa visão etimológica e justa da condição tecnológica de cada época).

MELODIA DA BROADWAY - THE BROADWAY'S MELODY
LANÇAMENTO: 1929 (EUA)
DIREÇÃO: HARRY BEAUMONT
GÊNERO: MUSICAL
NOTA: 6,2

04 maio 2010

Mais Quentin do que nunca

Pra eu que pensava que já tinha visto a obra-prima de Tarantino ao assistir Pulp Fiction - Tempos de Violência (1994), me surpreendi quando, semana passada, terminei os 162 minutos de Bastardos Inglórios, com a sensação de que esse tempo passou como um raio que rasga o céu em segundos. Cada cena, cada passagem dramática foi bem articulada para que o espectador não se cansasse em nenhum momento. Eu, que não tinha visto o longa antes da premiação do Oscar, passo a questionar minha predileção por Avatar e a me interrogar se o mais justo não seria dar a estatueta-mor a Quentin.

Para quem não conhece, o filme conta a história dos Bastardos, grupo judeu de extermínio dos nazistas, que existe apenas para matar. Outro objetivo que se não a eliminação de qualquer alemão avistado não justifica sua existência. O grupo, comandado por Aldo Rayne (Brad Pitt) é treinado para caçar e matar (sem piedade) todo nazista que se colocar em seu caminho, além de retirar seu escalpo (coro cabeludo). O objetivo principal de cada bastardo é conseguir colecionar a marca de 100 escalpos nazistas.

Do outro lado está o coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz), que consegue ser, ao mesmo tempo, amado, temido e odiado por quem o assiste (atuação que concedeu, para ele, a estatueta de ator coadjuvante, com louvor). É ele quem persegue vorazmente os Bartardos durante toda a trama, que se dá em capítulos, como sempre nos filmes de Tarantino. É ele também quem mata a família da judia Shoshanna Dreyfus (Mélanie Laurent), arquiteta de um plano mirabolante para se vingar dos capangas do Fuhrer. Suposta dona de um cinema na Paris ocupada durante a Segunda Guerra, Shoshanna conta com a ajuda coincidente dos Bastardos que, ao saberem que a premiére de um longa alemão (declaradamente alusivo ao nazismo e à perseguição de judeus) se dará num peqeuno cinema parisiense (que, por acaso, é o de Shoshanna) resolvem explodir o local com todos dentro, sem saber que a pseudo proprietéria pretende incendiar o cinema.

Para ajudar os homens de Rayne, a atriz alemã e agente anti-nazista infiltrada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger) conta com seu garbo e elegância (e sensualidade também) para enganar pobres soldadinhos nazistas, que se rendem aos seus encantos, são ludibriados e acabam caindo nas mãos dos Bastardos. Além destas personagens, Quentin brinca com a realidade (sem se ater com fidelidade a ela, o que pode ser comprovado no brilhante final) ao construir um Adolph Hitler e um Joseph Goebbels com sua visão nerd-cinéfila.

A violência é ponto forte nos filmes de Tarantino, que consegue amenizar, ou tornar menos cruel, uma decapitação, ou uma cabeça sendo estourada por um taco de baseball, por exemplo, transformando o "gore" em "cool", o intragável em admirável. Através das incontáveis relações que Quentin faz com outros filmes e diretores, em quatro línguas (inglês, alemão, francês e um pouco de italiano), seu amor pela sétima arte transborda em homenagens que se confundem com seu próprio estilo, resvalando no cinema único e competente do diretor, que muitas vezes foi taxado de esquisito e excêntrico (naõ que eu não concorde).


Os três capítulos do filme se encontram e formam uma única massa dramática, contendo atuações medianas e excepcionais, nunca ruins. O caricatural Aldo Rayne confere a Brad Pitt uma de suas mais consistentes atuações, com sua caipirice sulista americana e seus trejeitos desajeitados. Num nível totalmente superior está o Hans Landa construído por Waltz de uma maneira transcendente. O melhor antagonista, que brinca livremente com a ironia, a crueldade, a bondade e o medo que instaura em quem o assiste. Aliás, ironia é o que não falta no texto do longa, pois a mentira e a enganação estão presentes em todo trecho. Nós sabemos o que é verdade e o que não é, e, mesmo asism, o diretor consegue nos surpreender quando declara a realidade para os próprios personagens.

Além de divertidíssimo e cruelíssimo ao mesmo tempo, Bastardos Inglórios consegue fazer aquilo que todos os outros filmes sobre a Segunda Guerra não conseguiram: dar voz e vez para os judeus. Essa visão heróica de quem por tantos anos foi considerado vítima se sobrepõe ao clichê hollywoodiano de idolatrar os americanos (o que, mesmo que indiretamente, Tarantino também faz, uma vez que o grupo Bastardos é composto por sobrinhos do Sam).

Para finalizar, gostaria de destacar dois momentos artificiais do filme, tecnicamente falando: num dos milhares de trechos em que um bastardo aparece arrancando o escalpo de um nazista, ficou muito evidente que se tratava da retirada de um molde de plástico colocado sobre a cabeça e, quase no fim do filme, no momento em que um dos capangas de Rayne atira freneticamente contra um dos líderes do Terceiro Reich, deu pra perceber claramente que o personagem atirava contra um boneco que se despedaçava, assim que mais balas o acertavam. Do mais, simplesmente maravilhoso!

BARTARDOS INGLÓRIOS - INGLORIOUS BASTARDS
LANÇAMENTO: ALEMANHA/ EUA (2009)
DIREÇÃO: QUENTIN TARANTINO
GÊNERO: GUERRA
NOTA: 9,5