17 fevereiro 2011

TOP 1999 - Shakespeare Apaixonado

No longínquo ano de 1999 muitos críticos cinematográficos e cinéfilos ficaram putos da vida com a Academia ao verem Shakespeare Apaixonado ser laureado por trezes indicações e sete estatuetas, inclusive a de Melhor Filme, enquanto seus concorrentes, em sua maioria superiores em qualidade, caírem no esquecimento. Fizeram parte da seleta lista dos principais indicados, além do vencedor, os longas Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line), Elizabeth, o italiano A Vida é Bela (La Vita è Bella) e O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan), que pelo menos deu a Spielberg o Oscar de Melhor Diretor.

A ousada produção parodia o insight criativo de Shakespeare durante a produção do romance de Romeu e Julieta, usando da metalinguagem para insinuar que o próprio poeta viveu um amor proibido e, incentivado pela impossibilidade de amar, devido as erudições da sociedade britânica do século XVI, criou o maior e mais duradouro romance trágico do mundo até os dias atuais. Quem conhece um pouco mais a fundo a obra do mestre Shakespeare (o que não é o meu caso) pôde visualizar com mais facilidade a inúmera quantidade de referências reais que o diretor John Madden expõe em sua obra, a maioria com uma angulação fictícia, mas todas enriquecendo ainda mais o preciosismo técnico conquistado.

Um quesito totalmente decepcionante é a interpretação medíocre dos protagonistas: a insossa Gwyneth Paltrow (Lady Viola De Lesseps) e o apenas bonito Joseph Fiennes (William Shakespeare) dão vida a um romance que tanto no palco quando na vida dos personagens é artificial e superficial a ponto de revirar o mestre da literatura inglesa no túmulo (e mesmo assim Paltrow venceu na categoria Melhor Atriz, superando as insuperáveis Fernanda Montenegro e Meryl Streep). Destaque mesmo fica por conta dos deleitáveis Judi Dench (Rainha Elizabeth), Ben Affleck (Ned Alleyn), Colin Firth (Lord Wessex) e Geoffrey Rush (Philip Henslowe), sendo os últimos dois os grandes favoritos a Ator Principal e Coadjuvante, respectivamente, no Oscar 2011, que será entregue no próximo domingo, dia 27.

Fiel aos excertos da obra original de Shakespeare, os diálogos do longa são ricos, mas têm sua grandeza banalizada pelo roteiro fantosioso em demasia. É necessário popularizar e democratizar o acesso de todos ao trabalho de Shakespeare – fato, mas acho que brincar com a credibilidade histórica, tornando o artista fenomenal que foi Sir William em um garoto deslumbrado com o sexo oposto capaz de façanhas um tanto quanto imaturas para conquistar seu amor é simplificar a importância de um gênio. É curioso e até verossímel comparar a inspiração artisticamente magnífica para criar Romeu e Julieta com um romance na vida real (um dos trunfos do roteiro), mas não basta para retratar qualquer obra baseada em Shakespeare. A importância do autor para a literatura mundial pode ter sido um dos motivos pelos quais o filme venceu o Oscar em 1999, mesmo sem ter merecido, mas o tratamento poderia ter sido um pouco mais respeitoso.

A retratação da época representada no filme é fidelíssima à realidade, ainda mais quando conjugada ao figurino (vencedor de um estutueta) e à maquiagem (pensamos que realmente estamos na Inglaterra medieval). Quanto à trilha sonora (que também venceu na categoria), além de inebriados pelo amor extremamente meloso e visceral entre os mocinhos, somos presenteados por composições clássicas da mais perfeita sintonia com a história apresentada. Apesar de achar a adaptação moderna do amor atemporal do casal fatal criado por Shakespeare brega e em certa medida desrespeitosa, o trabalho foi bem feito e mereceu estar entre os melhores do ano (veja bem, estar entre eles, e não ser o melhor).

SHAKESPEARE APAIXONADO (SHAKESPEARE IN LOVE)
LANÇAMENTO: 1998 (EUA/ INGLATERRA)
DIREÇÃO: JOHN MADDEN
GÊNERO: ROMANCE
NOTA: 7,5

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Assisti este filme por esses dias, e bem, estou em completo acordo com você. Apesar de ser um filme bacana com uma proposta interessante, ele realmente não mereceu este tratamento todo. Ainda mais quando a insossa Gwyneth rouba a estueta de Montenegro.

[]s