03 setembro 2010

TOP 1962 - Amor, Sublime Amor

Mesmo que a função primordial dos musicais não seja tecer críticas sociais, alguns exemplos mostram que é possível complementar o universo mágico do gênero à preocupação com a ordenação de algum segmento da sociedade. Uma das mais consistentes obras que trabalha nesse sentido é Amor, Sublime Amor, musical que divide opiniões desde seu lançamento, em 1961, até os dias atuais.

Mesmo tendo ganhado como Melhor Filme naquele ano, a dicotomia presente no longa é o ponto de atração e desdenho que segrega opiniões. Livre inspiração no romance shakespeariano Romeu e Julieta, o roteiro é simples, mas polêmico: duas gangues da periferia novaiorquina disputam a liderança das ruas: os Jets (americanos brancos) e os Sparks (imigrantes porto-riquenhos). Este era um conflito realmente existente nos EUA naquela época, o que fez com que se acirrassem os ânimos entre os dois grupos sociais.

Imaginem, portanto, uma disputa violenta de poder numa favela banhada a muita música e dança. Além desta que é a grande inovação, os efeitos técnicos e as coreografias contribuem para essa deliciosa salada cinematográfica. Novas movimentações de câmera, sobreposição de recursos de montagem para que cortes inusitados fossem possíveis, angulações inovadoras que simbolizassem a tensão entre as duas gangues, uso intenso de cores (principalmente o vermelho), afim de que se tornasse perceptível o paradoxo violência x música/dança, entre outros efeitos.

De repente, no meio de um momento de tensão, eis que surge uma coreografia elaborada para que os ânimos se acalmem. Ou, após a descoberta da morte de um dos Jets ou Sharks, a lamentação se transforma numa canção cadenciada, melancólica, que se mistura com as lágrimas dos personagens. A noção de que números musicais servem apenas para representar momentos de descontração e alegria perde a validade nesta obra (décadas mais tarde, Burton vem corroborar essa idéia com Sweeney Todd). Além disso, para se distanciar ainda mais dos antigos musicais, Amor, Sublime Amor traz coreografias modernas, sem sapateado, sem ou com pouco jazz, com muitas pernas e braços pro ar e passos de balé.

Como disse um pouco mais pra cima, o filme é livremente inspirado em Romeu e Julieta. É que Maria (Natalie Wood), a irmã de Bernardo (George Chakiris), líder dos Sparks, se apaixona por Tony (Richard Beymer), ex-Jets e ainda um pouco ativista nos objetivos da gangue (como por exemplo, liderar as ruas do bairro). Os dois grupos fazem alusão aos Capuletos e Montéquios, tentando impedir o amor entre os protagonistas (uma referência à união entre os membros das gangues, muitas vezes mais forte do que a de uma família de verdade).

Uma tragédia musicada já é por si só espetacular. Os problemas começam, entretanto, a partir da excessiva teatralização da interpretação dos atores e uma certa falta de continuidade no roteiro, principalmente nos trechos que retratam o romance proibido entre a porto-riquenha e o americano (diálogos inacabados, sequências narrativas inexplicadas e situações inverossímeis). Apesar desses pequenos deslizes, 10 estatuetas em onze indicações são conquistadas. O vencedor concorreu naquele ano com: Desafio à Corrupção (The Hustler), Julgamento em Nuremberg (Judgment at Nuremberg) e Os Canhões de Navarone (The Guns of Navarone).

AMOR, SUBLIME AMOR (WEST SIDE STORY)
LANÇAMENTO: 1962 (EUA)
DIREÇÃO: JEROME ROBBINS/ ROBERT WISE
GÊNERO: DRAMA/ MUSICAL/ ROMANCE
NOTA: 8,5

2 comentários:

chuck large disse...

Gui, cara valeu pela força!
Estou te seguindo novamente e claro, linkando seu blog!

Sempre passo por este filme e sempre penso "é, hojeee!", mais sempre me deparo com algo mais agrdável aos meus olhos...mais um dia eu assisto! heheheheh

Até mais fera! =D

pseudo-autor disse...

Tem postado sobre coisas boas. Guardo lembranças ótimas do West Side Story (eu tinha até o VHS da antiga montagem da Boradway). Espetacular! E é um filme que poderia perfeitamente ser refilmado, pois não é datado.

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com