06 maio 2010

TOP 1930 - Melodia da Broadway

O ano de 1930 foi excepcional para a Academia. Entre abril e novembro, houve duas cerimônias de premiação do Oscar, uma no dia 03 de abril (da qual falarei hoje, que contemplou os filmes de 1928 até metade de 1929) e outra no dia 05 de novembro (responsável por avaliar os filmes do final de 29). As doze categorias premiadas no primeio Oscar se reduziram a apenas sete, e o número de indicados aumentou de três para cinco filmes.

Entre a aventura O Peso da Lei , o western No Velho Arizona, a cinebiografia Alta Traição e a comédia musical The Hollywood Revue of 1929, quem levou a melhor foi o primeiro musical totalmente falado da história do cinema: A Melodia da Broadway. A história, obviamente, se passa no badalado bairro novaiorquino, que recebe as irmãs Mahoney, dançarinas do interior, que buscam oportunidades na cidade grande. Hank Mahoney (Bessie Love, indicada ao prêmio de melhor atriz naquele ano) é noiva de Eddie Kearns (Charles King), compositor e cantor de musicais, que promete fazer com que a noiva e a cunhada sejam um sucesso na Broadway.

Queenie Mahoney (Anita Page), a irmã mais nova, é demasiadamente protegida por Hank, que age como mãe para a parenta, defendendo-a com unhas e dentes de qualquer situação constrangedora. É por meio da nova composição de Eddie (a canção The Broadway's Melody) que o filme se desenrola. O novo musical do senhor Francis Zanfield (Eddie Kane), magnata da indústria musical de New York, se aproxima, e as irmãs Mahoney farão de tudo para conquistar vagas no espetáculo. Entre idas e vindas, as irmãs descobrem como funciona o mundo dos musicais, ao mesmo tempo em que enfrentam as dores do amor triangular de Eddie, que, após anos sem ver Queenie, descobre nela uma mulher, diferentemente da criança de antes.

Primeiro campeão falado do Oscar, Melodia da Broadway desenvolve, em relação ao primeiro longa contemplado pela Academia, uma linguagem mais cinematográfica (se o compararmos com o que conhecemos de cinema atualmente). Longos travellings de Nova York marcam o início e o fim da obra, a atuação é mais verossímel que os longas mudos (pelo poder que o artifífio da oralidade concede) e os cortes de cena marcam o tempo com mais eficiência que Asas, mesmo que ainda precariamente.

Digo que são precários porque os cortes são secos demais, evidenciando falta de experiência, ou visão cinematográfica, do diretor Harry Beaumont (é simples: ele não tinha como se amparar em outros exemplos, já que o cinema estava no início de seu desenvolvimento. Deve ser por isso que nunca mais dirigiu filme algum!!). Além de secos, geralmente dividem duas cenas desconexas (mas esse já um problema do roteiro mal escrito).

Característica do cinema mudo, a tela de legenda ainda aparece aqui, mas agora para revelar de onde se passará a cena seguinte, como, por exemplo, "Do hotel em que as irmãs Mahoney estão hospedadas". Este artifício, a meu ver, não contribui com a racionalidade do espectador, que ganha tudo mastigado, não havendo necessidade de se concentrar para entender o que acontece naquele momento no filme (mais um primitivismo cinematográfico).

A trilha sonora foi bem escolhida, com toques de jazz e blues dançante, mas apenas acompanha os números musicais, não havendo ambientação nos trechos de interpretação. Fiquei em dúvida se se tratava de um musical propriamente dito ou apenas um drama musical, uma vez que a maioria das músicas é feita no palco, por meio dos ensaios de um espetáculo, que será encenado mais pra frente. É a partir da musicalização de uma declaração de amor de Eddie para Queenie que admito se tratar de um primo distante da Noviça Rebelde (bem distante, por sinal).

Para finalizar, as atuações. Elas continuam incontidas, como no ano anterior, mas com a diferença de serem mais reais. Os atores continuam se valendo do exagero de expressões para dar mais comicidade ao ato de atuar (mesmo que não seja uma comédia). No caso de Melodia da Broadway, a influência das chanchadas (que começavam a perder a timidez no mercado do cinema, mas, mesmo assim, não tinham voz nem vez junto a Academia) é evidente, através de passagens hilárias (à la Praça é Nossa) e de caras e bocas do ator Jed Proty, que interpreta o tio Jed (??!!) das irmãs Mahoney.

OBS¹: O "The End" aparece, assim como em Asas, no final do filme. Quanto tempo será que o cinema demorou para inventar formas mais criativas para terminar uma produção? A resposta eu ainda não sei, mas quando ficar sabendo (ao longo do projeto) falo para vocês.

OBS²: Sobre a indagação dos seguidores sobre o porque de eu ter dado a nota 6,0 para Asas, aí vai a resposta: como não tenho parâmetros históricos concretos para comparar as produções antigas, comparo-as com os filmes da mesma temática que conheço, ou seja, filmes mais recentes (é claro que amparado numa visão etimológica e justa da condição tecnológica de cada época).

MELODIA DA BROADWAY - THE BROADWAY'S MELODY
LANÇAMENTO: 1929 (EUA)
DIREÇÃO: HARRY BEAUMONT
GÊNERO: MUSICAL
NOTA: 6,2

Um comentário:

Aline Guevara disse...

E o projeto Top 1/3 a todo vapor, hein?! rs
Fiquei com vontade de assistir ao filme, só o título já me chama a atenção, já que eu adoro musicais. Vou marcar ele na listinha, rs