29 julho 2010

TOP 1951 - A Malvada

Hollywood considera como representantes de sua fase de ouro os grandes musicais, as megaproduções e as bilheterias arrasadoras que apareceram logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Um filme muito comentado pelas inovações técnicas experimentadas em sua produção, além do roteiro impecável e cativante, é o ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1951: A Malvada, uma história de ascensão e queda no mundo das celebridades americanas.

Conhecido nos Estados Unidos como All About Eve, o longa acompanha a ascendência profissional de Eve Harrington (Anne Baxter) as custas de sua suposta motivadora: a atriz de sucesso Margo Channing (interpretada magistralmente por Bette Davis). Com a ajuda da esposa do produtor de Margo, a bondosa Karen Richards (Celest Holm), Eve consegue entrar no camarim de seu ídolo, contar-lhe sua triste história de vida e se infiltrar em sua casa como nova assistente e aprendiz.

Aos poucos, Eve vai se tornando arredia, e prova que é capaz de coisas inacreditáveis para tomar o lugar da badalada Margo Channing e se tornar uma grande estrela de Hollywood. O início do filme acontece na premiação da Sociedade Sarah Siddons, conquista desejada por todos os profissionais de teatro da Broadway na época. A vencedora, como é declarado desde o início, é a Srta. Harrington, pela atuação brilhante num espetáculo de Lloyd Richards, antigo produtor de Margo. Primeira inovação da película: o início é o fim. Só depois de sabermos que Eve é a vencedora desse prêmio de teatro é que voltamos um ano no tempo dramático e sabemos que ela era uma maltrapilha que gastava todo o dinheiro que tinha só para ver (todos os dias) o espetáculo de Margo.


A história da garota mal vestida e pedante já começa mal contada daí, mas a beleza e a delicadeza com que Eve trata todo mundo impede que vejam além de seus olhos. A própria Margo admite que não sabe o porquê, mas sabe que sente a necessidade de ajudar a pobre garota. O que ela nem desconfia é que para que sua astuta fã cresça na vida, ela própria vai ter que cair. O longa é repleto de toques de inveja, dissimulação, glamour e solidão, todos provocados por insinuações e situações criadas pela protagonista.


Inovação 2: Assim que Eve se levanta para receber o prêmio (no começo do filme), a imagem se congela e somos transportados para a ruela que circunda o teatro em que Margo faz sua turnê (um ano antes). A mesma imagem só se descongela duas horas e meia depois, quando já conhecemos “tudo sobre Eve” e conseguimos entender o porquê de todos ao redor (Margo, Karen, Lloyd e Bill Sampson, diretor da peça e marido de Margo) estarem com a cara de tacho que estão. Nunca um roteiro tinha sido ousado ao ponto de fragmentar-se desta maneira.

Quanto à interpretação do filme, as lindas e talentosas atrizes a dominam, fazendo com que a história fique mais atraente e misteriosa. O destaque vai para Bette Davis, com sua inquietação com a idade e a forma com que, paulatinamente, passa a desconfiar que Eve não é tão inocente como imaginava. Sabe aquele personagem fofo, meigo, que passa uma serenidade e confiança a todos que encontra, mas da mesma forma engana cruelmente, brincando com a desgraça alheia? Esta é Eve, que não conquistou o posto de Melhor Atriz daquele ano, mas convenceu muita gente de seu talento como enganadora.

A terceira inovação do longa se refere a era da cultura pop, que, apesar de só vir a se tornar febre nos anos 60 e 70, já engatinhava, como podemos perceber nos diálogos entre os protagonistas. A linha encabeçada por Andy Warhol futuramente se reflete em A Malvada por meio de referências a grandes astros do show business americano, teatros glamourosos de Nova York, grandes indústrias de sucesso e até à aparição de Marilyn Monroe em alguns trechos como candidata a atriz em uma das peças de Bill Sampson. A
aura desta produção, portanto, pode ser considerada metalinguística, no tocante em que desmascara a realidade das coxias, os mistérios escondidos pelas cortinas vermelhas. É a primeira vez que este tema é tratado com tal potência, inclusive com a premissa, implícita, da fragilidade que é a vida do entretenimento produz.


Porém, para vencer o Oscar e levar a estatueta para casa, A Malvada teve de concorrer com: As Minas do Rei Salomão
(King Solomon's Mines), Nascida Ontem (Born Yesterday), O Pai da Noiva (Father of the Bride) e o cultuadíssimo Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard), de Billy Wilder.

OBS: Assim como Titanic, A Malvada obteve o maior número de indicações ao Oscar da história: foram 14, com apenas quatro vitórias.

A MALVADA (ALL ABOUT EVE)
LANÇAMENTO: 1950 (EUA)
DIREÇÃO: JOSEPH L. MANKIEWICZ
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,0


6 comentários:

Tô Ligado disse...

Opaaaa, o Tô Ligado! inicia a semana de comemorações ao seu aniversário. Passe por lá, a cada dia teremos um convidado especial.

Abraços

Brunno Luiz!

Tô Ligado disse...

He he he... to de olho na média de filmes por dia... tá ganhando uma boa frente né?

abraços

teh mais

Alan Raspante disse...

Esse filme é muito bom. Bette Davis e Anne Baxter ensinam a fazer cinema. Grande clássico. Ótimo texto! =D

Edson Cacimiro disse...

Bette Davis da uma aula de interpretação! show de bola esse filme!
Tava fazendo a minha conta e de todos os vencedores já vi 31 deles.

Rodrigo Mendes disse...

A Malvada da Anne Baxter, rs!

A Bette Davis coitada, foi rotulada!

Parabéns pelo top. Grande Clássico!

Gostei da sua observação quando fala da cultura pop, presente nesta época.

Abs,
Rodrigo

Elton Telles disse...

Olá, Gui.

Primeira vez que passo pelo 1/3 - adorei a criatividade do título. Gostei muito do que conteúdo. Não é tão frequente quando alguns cineblogs se propõem a comentar filmes clássicos e mais antigos - eu, por exemplo, sempre tento dosar os 2. E "A Malvada" é fabuloso! Pra mim, um dos melhores roteiros já escritos no cinema e Bette Davis destrói em cena, como é de hábito em tantos filmes que estrelou, principalmente os dirigidos pelo William Wyler.

Posso linká-lo ao meu blog?


abraço!