28 junho 2010

TOP 1941 - Rebecca, A Mulher Inesquecível

Quando se pensa na filmografia de Hitchcock, produções consagradas como Janela Indiscreta, Os Pássaros ou Psicose ofuscam a maestria de outros longas imperdíveis do diretor (sem desmerecer os supracitadas, obviamente). Um exemplo clássico de filme relegado a "apenas mais um" é "Rebecca: A Mulher Inesquecível", única produção de Hitchcock vencedor do Oscar (por incrível que pareça). Mais incrível ainda é pensar que o maior diretor de todos os tempos nunca foi agraciado pela Academia como Melhor Diretor.

Voltando ao assunto, foi no Oscar 1941 que "Rebecca..." levou a estatueta mor na cerimônia, tendo concorrido com os gigantes A Vinha da Ira (Grapes of Wrath) e O Grande Ditador (The Great Dictator), além de A Longa Viagem de Volta (The Long Voyage Home), A Carta (The Letter), Núpcias de Escândalo (The Philadélphia Story) e Correspondente Estrangeiro (Foreign Correspondent), também dirigido por Alfred Hitchcock.

O roteiro, adaptado do romance homônimo de Daphne Du Maurier, conta a história de Rebecca, esposa morta do milionário Maxim' De Winter (Laurence Olivier), que, por meio de sua "sombra", influencia a vida da nova sra. De Winter (Joan Fontaine em seu primeiro papel no cinema), que se vê pressionada a seguir exatamente tudo o que a falecida fazia. Mais uma inovação no cinema, a protagonista não existe presencialmente no filme, o que revela o trabalho afinado do diretor para que construíssemos a imagem da personagem em nosso imaginário, sem ao menos vê-la por uma única vez. Toda a construção de sua personalidade, temperamento e trejeitos é possível por meio das falas dos personagens secundários, responsáveis por adulá-la e relembrar sua existência, tornando-a inesquecível.

Outro detalhe super importante (que me passou despercebido ao assistir o filme) é o fato de a nova sra. De Winter não possuir nome, o que contribui para que uma denominação não interferisse no principal objetivo de Hitchcock, que era supervalorizar Rebecca e fazer com que sua imagem se materializasse para os espectadores. A pressão é tamanha em cima da recém casada sra. De Winter que o suspense criado pelo diretor vai se intensificando e tornando a trama mais e mais misteriosa, até o momento em que conhecemos realmente quem foi Rebecca.

O filme é dividido em três partes: o encontro entre Maxim' e sua nova esposa em Monte Carlo e os momentos amorosos entre eles; a tentativa de adaptação da sra. De Winter na mansão Manderley pressionada pelas lembranças dos criados (principalmente da governante e vilã Sra. Danvers, interpretada por Judith Anderson); e o desfecho do mistério, após a revelação do que realmente aconteceu na noite da morte de Rebecca. A ligação entre as partes do roteiro é tênue e divinamente costurada pela equipe de Hitchcock.

Engraçado é que, depois de E O Vento Levou, o recurso das cores sumiu novamente. Mesmo preto e branco, as paisagens inglesas, entrecortadas por uma charmosa e perene neblina, ganham destaque no filme. Talvez um dos melhores vencedores do Oscar até aquele ano (o mais distinto, com certeza), a primeira produção americana de Hitchcock e primeiro thriller a vencer como Melhor Filme deve ser assistido antes de morrer por aqueles que se consideram verdadeiros cinéfilos.

REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL (REBECCA)
LANÇAMENTO: 1940 (EUA)
DIREÇÃO: ALFRED HITCHCOCK
GÊNERO: SUSPENSE
NOTA: 9,0

25 junho 2010

1/3 ESTREIA - Flor do Deserto

Há exatamente um ano morria o rei do pop, astro mor dos videoclipes e mestre das coreografias inusitadas e copiadas em todo o mundo. Nos corações dos milhões de fãs espalhados pelos cinco continentes, ficou a tristeza e a dúvida se essa não seria mais uma das armações polêmicas de Michael Jackson. Para homenageá-lo, resolvi dedicar o 1/3 ESTREIA de hoje a um lançamento que remeta à alguma lembrança do astro.

E o escolhido foi Flor do Deserto, longa biográfico baseado no best seller “Desert Flower”, que conta a superação (verídica) de Waris Dirie, interpretada por Liya Kebede. Nascida no interior da Somália, foi circuncidada à força (óbvio né senhor Guilherme?) aos três anos e vendida para se casar aos treze. Foge para a capital, vivendo clandestinamente durante toda a adolescência. Certo dia, enquanto trabalhava como garçonete numa lanchonete, foi descoberta como modelo, virando referência do mundo da moda em todo o planeta. Hoje em dia, é embaixadora da ONU e porta-voz na luta contra a circuncisão.

Assim como Michael, a biografada passou por inúmeros problemas na vida, mas pelo talento conseguiu superá-los, tornando-se exemplo para muita gente. Deixo aqui registrada minha homenagem a um dos artistas mais queridos e completos que o mundo já viu. Descanse em paz, Jackson!!

FLOR DO DESERTO (DESERT FLOWER)
LANÇAMENTO: 2009 (REINO UNIDO/ ALEMANHA/ ÁUSTRIA)
DIREÇÃO: SHERRY HORMAN
GÊNERO: DRAMA
VONTADE: 8,0

Também estreiam hoje no Brasil os seguintes filmes:

BRILHO DE UMA PAIXÃO (Bright Star) Inglaterra/ Austrália/ França, 2009. Direção: Jane Campion. Gênero: Romance. Elenco: Abbie Cornish, Ben Wishaw, Thomas Sangster, Paul Schneider.
VONTADE: 8,0

TOPOGRAFIA DE UM DESNUDO. Brasil, 2009. Direção: Tereza Aguiar. Gênero: Drama. Elenco: Lima Duarte, Ney Latorraca, Gracindo Junior.
VONTADE: 5,0


Semana que vem eu volto com mais (e melhores) estreias!
Bom fim de semana!

24 junho 2010

TOP 1940 - E o Vento Levou

Acho muito difícil escrever sobre filmes consagrados pelo público e pela crítica. A responsabilidade aumenta e qualquer argumento usado, ou detalhe destacado, já foi instrumento da análise de muita gente. É o caso do vencedor do Oscar de 1940, a superprodução E o Vento Levou, maior bilheteria da história do cinema depois dos dois filhos de Cameron: Titanic e Avatar. Primeiro filme a cores a ganhar como The Best, Gone with the Wind rendeu à sua equipe de produção, liderada pelo diretor Victor Fleming, a maior quantidade de estatuetas até então: foram treze indicações e dez vitórias.

O longa conta a tumultuada vida de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), uma das mais célebres personagens entre todas as que passaram pelas telonas, talvez pela sua vitalidade, sua coragem e seu vigor. Em meio a guerra civil americana (a Guerra da Sesseção), ela tem de enfrentar os percalços da falência de sua família e os horrores da disputa bélica como uma verdeira lady, devido a enrijecida sociedade americana do século XIX. Longe disso, ela se mostra uma guerreira nata, uma defensora árdua de sua terra e uma garota ambiciosa e geniosa. A atriz consegue construir a personalidade forte de Scarlett ao longo das quatro horas de duração do filme (!!!) com eficiência e qualidade indiscutível (o que a rendeu o prêmio de melhor atuação daquele ano).

Para deixar mais complexa a situação, eis que surge Rett Butler (Clark Gable), um mulherengo declarado, com uma personalidade igualmente forte e que, por ser contra a guerra, fica na cidade enquanto todos os outros homens lutam com seus conterrâneos pela posse da terra. Enquanto Scarlett faz de tudo para conseguir o que quer (mata, casa com o pretendente da irmã, aceita convites de casamento apenas pelo dinheiro, trata mal quem não lhe convém) Rett vai se apaixonando pela moça, sem contudo se manifestar (o que é de seu feitio) e espera anos a fio até que Scarlett esqueça seu amor de adolescência, o militar Ashley Wilkes (Leslie Howard).

A história sempre faz referências à terra, lembrando todos os espectadores sobre a importância de se lutar pelo único pertence que fica após a morte (segundo a própria fala do pai de Scarlett), ideia presente até hoje nos discursos americanos. A personagem de Leigh foge totalmente ao padrão de mocinha dos filmes anteriores. Não havia a possibilidade de se admitir que uma protagonista não fosse politicamente correta, o que faz com que E o Vento Levou se eternizasse como precursor de vários modelos.

Além de se desviar totalmente do maniqueísmo presente no cinema até então, o roteiro romântico/dramático de E o Vento Levou foi exemplo de ideias para as tramas das populares telenovelas que se espalham pela dramaturgia atualmente, além de revolucionar a produção cinematográfica, ao trazer o recurso da cor para as salas, o que o torna, sem dúvida alguma, o filme mais bonito, esteticamente falando, até então.

A diferença entre ele e Avatar, produto de outra evolução no modo de se fazer cinema (a tecnologia 3-D), é que o roteiro do clássico da década de 30 é consistente, inovador e imprevisível, o que garantiu duplamente a qualidade do resultado final, tanto na área técnica como na trama.Não quero me estender muito. As qualidade e defeitos são vários, porém prefiro me atentar aos principais para que meu texto não fique muito cansativo, assim como o ritmo do filme, que perde a velocidade a partir do interlúdio, momento em que se começa a sentir as consequências da guerra. Apontado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos, não acredito nesse posto, mesmo admitindo se tratar de uma bela obra clássica, imperdível a todos os cinéfilos, meio àgua-com-açucar demais em alguns trechos, mas documento fiel e importante de um momento histórico marcante para o desenvolvimento dos Estados Unidos.

Por fim, a trilha sonora é o que há. A música tema pode ser identificada sem nenhuma dificuldade quase 80 anos depois, e as cenas são recheadas (inclusive entre as falas) do que havia de melhor na música naquela época. Nem sei como o longa não ganhou como Melhor Trilha Sonora. Vale a pena lembrar que, no mesmo ano, concorria como melhor o filme A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington), considerado por muitos a obra prima de Franz Capra. Acho que o diretor escolheu um péssimo ano para lançá-lo!!


Ainda concorreram: Adeus, Mr. Chips (Goodbye, Mr. Chips), Carícia Fatal (Of Mice and Men), Duas Vidas (Love Affair), Ninotchka (Ninotchka), No Tempo das Diligências (Stagecoach), O Mágico de Oz (The Wizard of Oz), Vitória Amarga (Dark Victory) e outro clássico: O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights).

E O VENTO LEVOU (GONE WITH THE WIND)
LANÇAMENTO: 1939 (EUA)
DIREÇÃO: VICTOR FLEMING
GÊNERO: ROMANCE/ DRAMA
NOTA: 9,0

22 junho 2010

Krueger (bonzinho) volta às telonas

Para quem não acompanhou a saga do jardineiro assassino com navalhas no lugar dos dedos criado nos anos oitenta por Wes Craven, a nova versão de A Hora do Pesadelo, lançada em maio desse ano, se mostra uma produção redonda, bem feita. Porém, os aficionados por um dos maiores clássicos do terror de todos os tempos têm todo o direito de reclamar que o novo Freddy Krueger não possui a mesma crueldade, a mesma criatividade e, principalmente, a mesma inverossimilhança de antes.

Queimado vivo pelos pais de algumas crianças que viviam na rua Elm, e que foram assassinadas pelo serial killer, Freddy mata as crianças crescidas da fatídica localidade sem razão, apenas pelo fato de estarem no lugar errado. Este é o grande lema do matador: a caçada injustificável, o matar pelo simples fato de matar, motivo omitido pelo diretor Samuel Bayer na refilmagem do clássico trash.

A história original já não encontra argumentos concretos para explicar como o assassino consegue, depois de morto, entrar nos sonhos dos jovens e machucá-los, fazendo com que seu ataque se torne verdadeiro no mundo real. A versão politicamente correta deste ano procura dar razões, justificar a conduta de Freddy, humanizando a criatura.

A trama do remake conta a trajetória de alguns jovens que, coincidentemente, andam sonhando com um mesmo homem que os ameaça e os chama para ficar com ele. Com o passar do tempo, alguns deles começam a morrer misteriosamente: durante o sono, são atacados, mas não há ninguém por perto. O problema começa por aí: não há um único protagonista, para quem se pode torcer e com quem se pode sofrer junto, uma vez que os personagens usados como foco narrativo morrem para dar lugar para outros, e assim sucessivamente, o que confere uma falta de continuidade e fragilidade do roteiro.

A Hora do Pesadelo de vinte e seis anos atrás se baseia na luta de Nancy, uma das garotas atormentadas por Krueger, contando sua história como foco central, além das de seus amigos, como trama secundária, prática mais vantajosa para se contar uma história no cinema. As comparações não são muito saudáveis mas, neste caso, tornam-se necessárias, já que o novo “A Hora do Pesadelo” já estreou com o rótulo de remake

Por razões desconhecidas, apenas fundadas em boatos, especula-se que não foi possível inserir no roteiro mortes muito violentas por causa da classificação etária, o que impede que comparações com a versão de 1984 deixem de ser feitas: enquanto naquele o susto é constante e o sangue abundante (clima muito ajudado pela excelente trilha sonora à la anos 80), este beira o cômico em diversos trechos.

As atuações continuam sendo primárias, dignas de um bom filme B, o que não quer dizer que a qualidade da produção como um todo seja prejudicada por este motivo. A incompetência do roteiro versão anos 2000 está na forma com que a imagem de Krueger é construída ao longo da trama e os recursos técnicos utilizados pela equipe de produção para distinguir o que é sonho do que é realidade.

Já que a luta pela sobrevivência dos personagens está na capacidade de evitar o sono, é imprescindível que o espectador fique na dúvida entre o que é o mundo real e o mundo dos sonhos, recurso ignorado pelo diretor Samuel Bayer, que distingue através de efeitos cromáticos as duas realidades (nem é preciso dizer que o longa original conseguiu essa distinção). Pelo visto, se a intenção era apresentar Freddy para os novos fãs do terror, o filme não conseguiu alcançar sua missão, já que o assassino é bem diferente do que foi mostrado no longa; mas se o diretor quis assustar, errou a mão mais ainda.

OBS: Reparem em uma das vítimas de Freddy chamada Glen, namorado da protagonista, interpretada por ninguém mais ninguém menos que Johnny Depp em seu primeiro papel no cinema. Ele tinha 21 anos.

A HORA DO PESADELO (A NIGHTMARE ON ELM STREET)
LANÇAMENTO: 1984 (EUA)
DIREÇÃO: WES CRAVEN
GÊNERO: TERROR
NOTA: 8,0

A HORA DO PESADELO (A NIGHTMARE ON ELM STREET)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: SAMUEL BAYER
GÊNERO: TERROR
NOTA: 5,0

19 junho 2010

TOP 1939 - Do Mundo Nada se Leva

Mais um filme de Frank Capra chega ao topo da qualidade avaliada pela Academia e leva a estatueta de Melhor Filme: Do Mundo Nada se Leva, que mostra as diferenças entre a pobreza e a riqueza, por meio do relacionamento de dois representantes de cada lado, apaixona os amantes do cinema (como eu) pela simplicidade do roteiro e maestria da direção, que consegue aproveitar inúmeras simbologias da história para encantar os espectadores, num drama cômico tipicamente Capriano.

James Stewart é Tony Kirby, filho do banqueiro magnata da Wall Street Anthony P. Kirby (Edward Arnold), que está prestes a fechar negócio com uma construtora, e antes precisa comprar 12 terrenos de uma rua para sua construção, mas está sendo impedido pela família Vanderhof, comandada pelo vovô Martin (Lionel Barrymore), que não quer sair de sua casa, nem por quatro vezes o valor real que ela vale.

Sem saber de quem se trata, Tony se apaixona por Alice Sycamore (Jean Arthur), neta de Martin e secretária dos Kirby, contrariando as aspirações de seus pais, que acreditavam que ele se casaria com uma garota rica e influente na sociedade. O choque entre as duas realidades é o que dá o tom cômico e reflexivo ao filme. A família de Alice não se preocupa com o dinheiro, todos fazem apenas o que der na telha (a mãe, Penny, escreve peças de teatro pelo simples fato de ter recebido uma máquina de escrever por engano; a irmã não para de rodopiar pela casa por acreditar que um dia será uma bailarina; seu professor, o russo Kolenkhov, chega sempre na hora do almoço e mete o bedelho em todas as conversas; o cunhado, Ed, é músico por gosto, sem ganhar nada com isso; o pai, Paul, juntamente com duas "visitas" que já estão com a família há nove anos, fabrica fogos de artifícios no porão porque gosta; e Martin, o avô, coleciona selos, depois de um longo período de vida executiva, que apenas lhe rendeu desgostos e estresse, além de ser o mentor da família, distribuindo bons conselhos a todos). Por outro lado, a família Kirby é esnobe, preconceituosa e extremamente solitária. Enquanto os Vanderhof cultivam amigos aos montes, o excesso de dinheiro impede que a família de Tony atraia pessoas confiáveis.

O fime todo é uma grande lição de moral, o que já pode ser evidenciado pelo título, que contempla toda a ideia do roteiro, numa tentativa cômica de falar sério. Remissões históricas são feitas, com críticas à economia, ao governo norte-americano e uma referência ao crash da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Quem gosta de cinema, não pode perder a oportunidade de assistir esse filme, que se feito hoje poderia ser taxado como previsível, manjado, estereotipado, maniqueísta, mas que é uma verdadeira obra de arte de Franz Capra, com sua capacidade de tornar brilhante o cotidiano por meio de um elenco impecável e de um roteiro incomparável.

As atuações são excelentes, com destaque para Lionel Barrymore, que humilha qualquer outro ator do longa com sua espontaneidade e carisma. Mesmo sabendo o final da história, ficamos torcendo pelo romance de Tony e Alice, pela mudança dos valores da família Kirby e pela permanência dos Vanderhof em sua casa. Hoje em dia (e na década de 30 também) seria impossível alguém viver da maneira descompromissada como vive a família de Alice (a não ser que se viva numa ilha, sem ligações com o "mundo real"), levando para o espectador uma realidade útopica, mas desejada por todos.

Como no cinema tudo é possível, e Frank Capra pode tudo, seu filme entra para o rol de meus longas favoritos, mesmo com a inverossimilhança descrita. A apaixonante história faz com que nos esqueçamos da hora, mergulhemos juntos no conflito apresentado e levemos para toda a vida lições preciosas de como ser feliz.

No Oscar 1939, concorreram com o vencedor: A Cidadela (The Citadel), A Grande Ilusão (La Grande Illusion), As Aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood), Com os Braços Abertos (Boys Town), Epopéia do Jazz (Alexander's Ragtime Band), Jezebel (Jezebel), Pigmalião (Pygmalion), Piloto de Provas (Test Pilot) e Quatro Filhas (Four Daughters).

DO MUNDO NADA SE LEVA (YOU CAN'T TAKE IT WITH YOU)
LANÇAMENTO: 1938 (EUA)
DIREÇÃO: FRANK CAPRA
GÊNERO: DRAMA CÔMICO
NOTA: 9,5

18 junho 2010

1/3 ESTREIA - Kick-Ass

Hoje resolvi dedicar este espaço a um filme diferente, que foge às aspirações dos cinéfilos intelectuais de plantão, afinal, também de divertimento vive o homem. O longa em questão, batizado no Brasil como Kick-Ass, Quebrando Tudo (não entendi o porque do Quebrando Tudo) conta a solução encontrada pelo estudante Dave Lizewski (Aaron Johnson) para combater sua timidez descontrolada e seu medo de se aproximar da garota por quem é apaixonado: virar super-herói, ou melhor, criar um alter ego que fosse corajoso e destemido, e que pudesse investir na aproximação com a garota (o que me lembra a história da homem-aranha).

Também inspirado numa HQ homônima (produzida por John Romita Jr. e Mark Millar), a nova identidade do garoto acaba o entusiasmando tanto que ele resolve combater o crime com seus novos poderes (imaginários). O filme conta com a participação do sem-sal-nem-açucar Nicolas Cage no papel de partidário dos “rebeldes sem causa que se rebelam como super-heróis”. Deve ser hilário!

KICK-ASS: QUEBRANDO TUDO (KICK-ASS)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: MATTHEW VAUGHN
GÊNERO: AÇÃO
VONTADE: 9,0

Além de Kick-Ass, estréiam hoje nos cinemas brasileiros:

EM BUSCA DE UMA NOVA CHANCE (The Greatest) EUA, 2009. Direção: Shana Feste. Gênero: Drama. Elenco: Carey Mulligan, Susan Sarandon, Pierce Brosnan.
VONTADE: 7,0

TOY STORY 3 (2D e 3D) EUA, 2010. Direção: Lee Unkrich. Gênero: Animação. Vozes no elenco original: Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles.
VONTADE: 8,0

O PROFETA (Un Prophète) França/Itália, 2009. Direção: Jacques Audiard. Gênero: Drama. Elenco: Tahar Rahim, Niels Arestrup, Adel Bencherif.
VONTADE: 3,0

A JOVEM RAINHA VITÓRIA (Young Victoria) Inglaterra/Alemanha, 2009. Direção: Jean-Marc Vallée. Gênero: Romance/ Drama. Elenco: Emily Blunt, Paul Bettany, Miranda Richardson.
VONTADE: 9,0

PATRICK 1.5 (Patrick 1,5) Suécia, 2008. Direção: Ella Lemhagen. Gênero: Drama. Elenco: Gustaf Skarsgård, Torkel Petersson, Thomas Ljungman, Annika Hallin.
VONTADE: 8,0

É isso aí, semana que vem eu volto com mais novidades!

Bom fim de semana a todos

TOP 1938 - Émile Zola

Depois de um ano em que Florenz Ziegfeld mostrou ao mundo seu poder empreendedor por meio de sua cinebiografia, Ziegfeld, O Criador de Estrelas, vencedor de melhor filme no Oscar 1937, é a vez de mais uma história de vida, desta vez de uma personalidade maior, intelectualmente falando, mas que não foi tão valorizada na memória cinematográfica posterior: trata-se de Émile Zola, nome do longa vencedor do Oscar em 1938 e do seu homenageado, famoso escritor francês do século XIX.

Ao assisti-lo, tive a impressão de que as imagens haviam sido gravadas antes dos últimos vencedores dos anos anteriores, o que pode significar que a película não foi conservada com um cuidado tão grande quanto os outros. Além disso, é muito mais fácil encontrar links para download na internet para o filme de Ziegfeld. Comparações a parte, o fato de mesmo a crítica identificar Émile Zola como menor, ou mais mal produzido, não tira minha preferência por este drama bem construído e finalizado.

A história se passa na cidade natal de Zola, Paris, na segunda metade do século XIX, e perpassa a vida do ensaísta, desde o começo de sua carreira comercial, até sua morte, ao fim do principal projeto de sua vida. Começando por um sótão fétido na periferia da cidade-luz até sua mansão no centro, a vida de Émile foi dedicada à busca pela verdade e justiça social, e seu principal instrumento foi a palavra, com a qual sempre lutou contra o governo, o exército, a polícia, e todos os setores de poder da sociedade.

Com o sucesso e a fama, uma certa dose de soberba parece semear em sua mente uma pretensão desnecessária, o que faz com que um certo negativismo tome conta da trama (mesmo assim os pontos negativos de Zola não são omitidos). É graças ao seu melhor amigo, e famoso pintor da época, Paul Cézanne, que sua origem e seus valores voltam a falar mais alto, fazendo Émile recusar uma cadeira na Academia de Letras de Paris para defender Alfred Dreyfus, capitão das forças armadas, usado como pivô de uma fraude militar, e preso injustamente sob a mera alegação de ser judeu.


O filme peca ao não fazer uma conexão adequada entre a história de Zola e Dreyfus, que aparece sem mais nem menos no meio do longa. Para que possamos compreender a relação entre os dois, temos que aguardar a última cartada da esposa de Dreyfus para libertá-lo da prisão: pedir ajuda ao respeitado escritor, que vendia desenfreadamente, mesmo com os polêmicos livros libertários.

E é a partir daí que o filme ganha a vida que dá graça a ele até os últimos minutos da trama. As cenas de tribunal (OBS: adoro tribunal!!) não são as melhores que eu já vi, mas valem por dois pontos: pelas tentativas frustradas de Émile, seu advogado e a esposa de Dreyfus de defenderem o militar, mesmo com a pressão absurda e o corporativismo nojento dos membros das Forças Armadas, e pela oratória de Zola (e do ator Paul Muni, que o interpreta), responsável por uma das cenas mais memoráveis e graciosas do filme, discurso final de réu, antes do veredicto, momento em que Zola, afiado como nunca, distribui adjetivos merecidos às contradições do exército.

Apesar de pouco lembrado e produzido de uma forma "antiga", enquanto a tendência era agilizar o ritmo dos roteiros, o filme vale a pena, por apresentar aos desentendidos (como eu) a vida de um dos maiores escritores da França, contar a história (verídica) de um capitão das Forças Armadas que, com a ajuda de um escritor, motivou mudanças drásticas dentro das instituições militares futuramente e por ensinar uma lição radical, mas coesa: todo artista deve permanecer pobre, com o estômago vazio e a cabeça cheia de ideias.

No Oscar 1938, além de Émile Zola, concorreram como Melhor Filme: Beco Sem Saída (Dead End), Cem Homens e uma Menina (One Hundred Men and a Girl), Cupido é Moleque Teimoso (The Awful Truth), Horizonte Perdido (Lost Horizon), Marujo Intrépido (Captains Courageous) Nasce uma Estrela (A Star Is Born), No Teatro da Vida (Stage Door), No Velho Chicago (In Old Chicago) e Terra dos Deuses (The Good Earth).

ÉMILE ZOLA (THE LIFE OF ÉMILE ZOLA)
LANÇAMENTO: 1937 (EUA)
DIREÇÃO: WILLIAM DIETERLE
GÊNERO: DRAMA BIOGRÁFICO
NOTA: 8,2

13 junho 2010

TOP 1937 - Ziegfeld, O Criador de Estrelas

Sete anos após a estreia de Melodia da Broadway, vencedor do Oscar de 1930, e primeiro musical produzido em Hollywood, é a vez de um feito bem mais ousado: um musical biográfico milionário, com mais de três horas de duração, centenas de figurantes e que retratava a vida da lenda do bussiness novaiorquino, morto dois anos antes da obra, Florenz Ziegfeld. Refiro-me ao ganhador da estatueta de melhor filme no Oscar de 1937: Ziegfeld, O Criador de Estrelas.

A obra perpassa os altos e baixos da carreira do empreendedor beberrão, mulherengo e nada organizado que alterou a estrutura dos shows musicais da Broadway. Foi através de sua despreocupação com o planejamento financeiro e seus investimentos milionários (muitas vezes por meio de dinheiro emprestado) que os EUA se descobriram celeiro de talentos natos e muitas vezes não aproveitados, valendo-se deles para produzir espetáculos grandiosos e luxuosos.

Uma das principais características de Ziegfeld, ou simplesmente Flo, era não possuir o medo de errar, o que fez com que ele levantasse seu império em meio a críticas e preconceitos. O filme o mostra desde sua juventude, quando sustentava sua miséria no circo, até sua morte, período em que estava igualmente quebrado (resolveu investir na Bolsa em 1929...azar!), revelando a capacidade do empresário em enxergar nas mínimas coisas coreografias grandiosas, cenários luxuosos, números teatrais ousados, enfim, ele queria sempre o melhor, mesmo que, para isso, fosse a falência novamente.

O longa peca ao se alongar demais. Há um número musical que durou 25 minutos! (fiz questão de contar) e, além disso, todos os casamentos e separações com suas “garotas” (follies) são mostrados, o que não dá uma continuidade fluente ao roteiro, que parece que, assim como a carreira atribulada de Flo, não tem fim, cansando o espectador.


As atuações são medianas, com destaque para Luise Rainer, que interpreta Anna Held, uma cantora francesa por quem Flo se apaixona ao contratar para ser sua mais nova artista e se casa pela primeira na vida. Apesar de todas as interpretações serem muito teatralizadas, estamos diante de um musical que se passa nos bastidores e palcos dos teatros por meio de artistas como personagens, então, acho que esse detalhe ameniza uma possível superficialidade interpretativa.


Visualmente, é o mais bem acabado entre os vencedores da Academia até o momento. Mesmo sem cores, conseguimos visualizar a grandeza estética idealizada pelo diretor (e constatada nos palcos por Flo, evidentemente). Documento de uma época, serve para manter viva a lembrança do criador de estrelas dos antepassados de nossos musicais de hoje, fazendo história como a primeira cinebiografia a ganhar como melhor filme. Apesar do virtuosismo estético do diretor Robert Z. Leonard, Frank Capra já começava nesta época a abocanhar estatuetas praticamente todos os anos, o que fez com seu longa, O Galante Mr. Deeds, derotasse Ziegfeld neste quesito.

Ziegfeld, o Criador de Estrelas concorreu em 1937 com mais nove longas, sendo eles: A História de Louis Pasteur (The Story of Louis Pasteur), A Queda da Bastilha (A Tale of Two Cities), Adversidade (Anthony Adverse), Casado com Minha Noiva (Libeled Lady), Fogo de Outono (Dodsworth), O Galante Mr. Deeds (Mr. Deeds Goes to Town), Romeu e Julieta (Romeo and Juliet), São Francisco - A Cidade do Pecado (San Francisco) e Três Pequenas do Barulho (Three Smart Girls).

ZIEGFELD, O CRIADOR DE ESTRELAS (THE GREAT ZIEGFELD)
LANÇAMENTO: 1936 (EUA)
DIREÇÃO: ROBERT Z. LEONARD
GÊNERO: MUSICAL/ BIOGRAFIA
NOTA: 8,0

TOP 1936 - O Grande Motim

Com um roteiro mais rico e consistente, o diretor Frank Lloyd (do vencedor do Oscar de 1934 Cavalgada) volta ao topo do sucesso com a vitória de O Grande Motim, arriscada produção que conta a história do navio Bounty, embarcação que, no século XVIII (1792), faz o trajeto Inglaterra-Taiti em busca de suprimentos mais baratos para a corte do rei da Grã-Bretanha. O Bounty é comandado pelo capitão Willian Bligh (Charles Laughton) e pelos aspirantes Fletcher Christian (Clark Gable) e Roger Byam (Franchot Tone), trio de temperamentos completamente diferentes, que devem passar dois anos em alto-mar, dividindo o mesmo espaço físico.

A história do filme é baseada numa real, realmente ocorrida no século XVIII, na qual um motim foi idealizado e realizado por um marinheiro (Christian), feito que mudou a estrutura e o tratamento da marinha com seus subordinados, antes tratados como escravos, além de não serem voluntários (no filme pode-se observar a convocação dos ingleses em nome do Rei, sendo considerados desertores os que se recusassem a deixar suas casas e ir para o mar).

A primeira parte do filme (o trajeto Inglaterra-Taiti) mostra um pouco da crueldade do capitão Bligh, sua soberba, sua relação íntima com o poder e o exercício da manifestação exagerada deste poder, por meio das chicotadas injustificadas, do descaso com as doenças dos marinheiros, com a comodidade diante da possibilidade da morte de um de seus subordinados, enfim, da insistência por reforçar quem é melhor e pior dentro daquela micro-sociedade formada.

Após a permanência durante alguns meses na ilha do Taiti, para a infelicidade do inflexível capitão, sua tripulação volta mais feliz, mais motivada, o que faz com que a repressão se torne mais intensa. Christian, já indigesto com as ações do capitão, finalmente organiza a tomada do navio e o abandono de Bligh e seus comparsas em alto-mar.

Reza a lenda que as atuações de Gable, Laughton e Tone surpreenderam tanto a crítica que, a partir do ano seguinte, as categorias de ator e atriz coadjuvante foram incluídas no rol das estatuetas, a fim de distribuir melhor as congratulações às melhores interpretações. A fotografia do longa é muito bem elaborada, o que pode ser evidenciado na maioria das cenas, que são externas, sejam elas no mar ou na ilha.

Gable, o atual melhor ator (venceu por Aconteceu Naquela Noite, de 1935), chega com uma interpretação mais tímida, mais contida, mas que se destaca em meio aos outros artistas. Diferentemente do que li em algumas críticas, não acho que Laughton desempenhou o melhor dos papéis, mas convenceu e conseguiu alterar suas expressões de acordo com as fases do personagem. A aventura dos mares de O Grande Motim foi reproduzida em 1965, tendo como protagonista Marlon Brando.

Apenas duas produções concorreram com o vencedor no Oscar 1936: O Picolino (Top Hat) e O Delator (The Informer). Ainda não havia cores nos filmes e a tela de The End continua firme e forte nos finais dos longas.

O GRANDE MOTIM (MUNITY ON THE BOUNTY)
LANÇAMENTO: 1935 (EUA)
DIREÇÃO: FRANK LLOYD
GÊNERO: AVENTURA/ AÇÃO
NOTA: 8,5

11 junho 2010

1/3 ESTREIA - Cartas para Julieta

Todo mundo que lê meu blog sabe que não gosto das comédias românticas, mas admiro aquelas que fogem do padrão boy meets girl e valorizam um enredo diferenciado, mais artístico, mais poético, mais reflexivo sobre as relações humanas. Além disso, as que não são previsíveis, é claro. Entretanto, é isso que acontece com o novo longa de Amanda Seyfreid, que vive Sophia em Cartas para Julieta, um misto de emoções que envolve saudade, arrependimento e amor.

Diante das várias estreias desta semana (são oito no total) escolhi Cartas... por falta de opção e por entender que pode ser a proposta mais diferenciada, referindo-me ao roteiro. Gosto da Amanda, que vem desempenhando papeis contundentes no cinema nos últimos tempos, além de, mesmo com críticas negativas sobre este papel, eu gostar do protagonista, Gabriel Garcia Bernal.

A história é a de uma moça (Sophia) que, viajando por Verona, na Itália, descobre, na casa de Julieta (a do Shakespeare) cartas de uma garota que, há quarenta anos, perdeu um amor e, a partir de então, se comunica com a eterna amante de Romeu na esperança de que ela trague seu amor de volta ou arranje um novo romance. Tocada pela história da jovem (agora já senhora), Sophia decide procurá-la e dar um novo sentido a sua vida

CARTAS PARA JULIETA (LETTERS TO JULIET)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: GARY WINICK.

GÊNERO: COMÉDIA/ ROMANCE

VONTADE: 7,0

Além da minha indicação, estreiam hoje

ESQUADRÃO CLASSE A
(The A-Team) EUA, 2010. Direção: Joe Carnahan. Gênero: Ação/ Comédia. Elenco: Bradley Cooper, Jessica Biel, Liam Neeson.
VONTADE: 5,0

PLANO B (The Back-Up Plan) EUA, 2010. Direção: Alan Poul. Gênero: Comédia. Elenco: Jennifer Lopez, Alex O´Loughlin, Eric Christian Olsen.
VONTADE: 4,0

ANTES DA LUA CHEIA (Niwemang) Irã/ Iraque/ Áustria/ França, 2006. Direção: Bahman Ghobadi. Gênero: Drama. Elenco: Golshifteh Farahani, Ismail Ghaffari e Farzin Sabooni. VONTADE: 4,0

ALGUNS MOTIVOS PARA NÃO SE APAIXONAR (Motivos para no enamorarse) Argentina, 2008. Direção: Mariano Mucci. Gênero: Comédia. Elenco: Mariana Briski, Celeste Cid, Jorge Marrale.
VONTADE: 3,0

A ÚLTIMA MÚSICA (The Last Song) EUA, 2010. Direção: Julie Anne Robinson. Gênero: Drama. Elenco: Miley Cyrus, Greg Kinnear.
VONTADE: 1,0

ÍNDIA, AMORES E OUTRAS DELÍCIAS (Nina's Heavenly Delights) Inglaterra, 2006. Direção: Prathiba Parmar. Gênero: Drama. Elenco: Shelley Conn, Laura Fraser e Ronny Jhutti.
VONTADE: 2,0

SOUL KITCHEN. Alemanha/Turquia, 2009. Direção: Fatih Akin. Gênero: Comédia. Elenco: Adam Bousdoukos, Moritz Bleibtreu.
VONTADE: 6,0


Até semana que vem!!


04 junho 2010

1/3 ESTREIA - O Golpista do Ano

Embora divulgado como comédia, os críticos garantem que o novo filme de Jim Carrey beira a tristeza durante seus 102 minutos de duração. Ele conta a história (baseada na vida real de Steven McVicker) de Steven Russell, advogado bem sucedido que tem uma vida aparentemente feliz com sua esposa, mas que, ao sofrer um acidente quase mortal, descobre que tem que parar de mentir para si mesmo e assumir que é homossexual.

Acontece que, além de declarar sua sexualidade, decide viver indiscriminadamente, e encontra em golpes mirabolantes e inacreditáveis (segundo a divulgação) a solução para sua insegurança emocional. É preso e encontra Phillip Morris (Ewan McGregor) na cadeia, por quem se apaixona loucamente. A partir daí, o personagem de Jim Carrey faz de tudo para segurar seu “homem”, que parece não estar tão envolvido assim.

Além dos dois, o brasileiro Rodrigo Santoro amplia sua carreira internacional, fazendo uma participação especial no longa, como um outro namorado de Steven. Dá para perceber que os três protagonistas superam as barreiras do preconceito e que Jim Carrey passa a não ter a necessidade de bancar o escrachado para manter seu prestígio. É a hora de ser mais ator do que comediante.

O GOLPISTA DO ANO – I LOVE YOU PHLLIP MORRIS
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: GLENN FICARRA, JOHN REQUA
GÊNERO: COMÉDIA DRAMÁTICA
VONTADE: 9,0

Hoje também estréiam nos cinemas brasileiros:

PRÍNCIPE DA PERSIA: AS AREIAS DO TEMPO ( Prince of Persia: The Sands of Time). EUA, 2010. Direção: Mike Newell. Gênero: Aventura. Elenco: Gemma Arterton, Jake Gyllenhaal, Ben Kingsley, Alfred Molina (Sheik Amar).
VONTADE: 9,0

MARMADUKE. EUA, 2010. Direção: Tom Dey. Gênero: Comédia. Elenco: Marlon Wayans, Owen Wilson (Marmaduke), Judy Greer, Amanda Seyfried (Mazie), Steve Coogan (Raisin). VONTADE: 3,0

Semana que vem o 1/3 ESTREIA volta com mais novidades.

OBS: Gostaria de avisar que não cito documentários estreantes, apenas os longas da semana.

TOP 1935 - Aconteceu Naquela Noite

Já devo ter comentado aqui no 1/3 que não sou muito fã de comédias românticas, principalmente daquelas mal feitas, como a maioria das que são produzidas. Enfim, os roteiros geralmente são pobres, frágeis, cheios de incoerências e dissimilhanças, a direção é totalmente despreocupada com a estética, valorizando apenas o aspecto comercial da produção e as atuações deixam sempre muito a desejar. Depois de assistir o vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1935, Aconteceu Naquela Noite, acho que mudei um pouco meu conceito e vou começar a prestar mais atenção aos espécimes deste nicho do cinema contemporâneo.

Cenário do embrião de todos os artifícios que as comédias românticas atuais trazem às telonas, “Aconteceu...”, um dos clássicos do diretor Frank Capra, conta a história vivida por Ellie Andrews (Claudette Colbert) e Peter Warne (Clark Gable) durante a noite em que se conhecem e se apaixonam. Ela, filha única e mimadíssima de um banqueiro magnata da Wall Street, que foge de casa para casar com um piloto playboy de Nova York e ele, jornalista fracassado, que caça uma boa história para alavancar sua carreira e sua moral junto ao seu chefe, são protagonistas da batidíssima (para nós) relação de ódio que se transforma em amor após uma convivência cheia de percalços e conspirações do destino.

Muito do que se produz hoje nessa área (em média 10 filmes por ano) tem algum aspecto que pode ser retirado como exemplo do filme de Capra. A comédia fica por conta da guerra dos sexos dos protagonistas, que volta e meia se veem em situações nas quais nem um nem outro já tenha vivido anteriormente, tendo que repensar algumas atitudes, e o romance é representado pela gradativa simpatia e paixão que um descobre pelo outro ao longo das trapalhadas que eles aprontam.


Um destaque que deve ser relembrado é a repartição em dois do quarto em que dividem por meio de um lençol pendurado, ou “a muralha de Jericó”, como inventa Peter, a fim de que tanto ele quanto ela possam se despir e trocar de roupa sem ver o outro. O lençol acaba sendo o símbolo da distância e da aproximação dos dois, uma vez que sua derrubada representa a primeira noite de amor do recém apresentado casal. Além de ser símbolo do roteiro, é também artifício técnico, em cenas nas quais apenas as silhuetas são vistas, ou as costas da protagonista colocando seu pijama, enfim, instrumento pelo qual o diretor consegue demonstrar seu poder de transformar cenas simples em belos takes de cinema.

Outro exemplo inesquecível é considerado a cena mais memorável do filme: trata-se da disputa masculina x feminina para pedir caronas. Enquanto o homem, firme diante de sua virilidade e eficácia, confia nos seus polegares infalíveis, a mulher, de posse de uma sensualidade exuberante, confia na beleza de suas pernas para parar os carros. Nem preciso dizer quem ganhou a disputa, numa das simbologias mais copiadas do cinema posteriormente. Além destes detalhes, a música é muito utilizada, através de canções entoadas por figurantes, geralmente em momentos de descontração.


Se fosse elencar e comentar todos os exemplos que serviram como referência para outras produções deixaria o meu texto maior do que já é (e olha que já reclamam que é gigante), mas valeria a pena, pois trata-se de um dos melhores filmes de todos os tempos que, 70 anos depois, ainda fascina pela ousadia com que deixou de lado os temas correntes da época (guerras, guerras e....guerras) para contar a divertida relação entre dois personagens completamente diferentes, que aprendem a se aceitar e mudam para melhorar. O roteiro é completamente previsível, mas, tendo em vista que foi lançado na década de 30, supera (e muito) as expectativas de quem o assiste.

Aconteceu Naquela Noite inovou ao vencer o Oscar nas cinco principais categorias da Academia (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz e Roteiro Adaptado), o que aconteceu só mais uma vez na história das premiações, com Um Estranho no Ninho, de 1975. As atuações de Gable e Colbert são excepcionais, garantindo momentos de descontração, divertimento e uma verdadeira aula de interpretação (quem for assistir, prestar atenção à cena no qual os protagonistas fingem ser marido e mulher para ludibriar os detetives contratados pelo pai da moça)

Com ele concorreram: A Alegre Divorciada (The Gay Divorcee), A Casa dos Rothschild (The House of Rothschild), A Ceia dos Acusados (The Thin Man), A Família Barrett (The Barretts of Wimpole Street), Aí Vem a Marinha (Here Comes the Navy), Cleópatra (Cleopatra), Imitação da Vida (Imitation of Life), Miss Generala (Flirtation Walk), The White Parade (The White Parade), Uma Noite de Amor (One Night of Love) e Viva Villa! (Viva Villa!)

ACONTECEU NAQUELA NOITE (IT HAPPENED ONE NIGHT)
LANÇAMENTO: 1934 (EUA)
DIREÇÃO: FRANK CAPRA
GÊNERO: COMÉDIA ROMÂNTICA
NOTA: 9,5