22 dezembro 2010

TOP 1983 - Gandhi

Nas mais de três horas em que assisti o filme vencedor do Oscar de 1983 não vi o tempo passar. Esse é um dos critérios para que eu balize a qualidade de uma produção. No caso de Gandhi, cinebiografia do líder político e espiritual do povo indiano, o preciosismo da obra, em praticamente todos os seus aspectos, garantiu com que eu despendesse os 188 minutos em frente à TV sem que me desse conta de que todo aquele tempo havia passado (capacidade exclusiva do cinema de qualidade).

Mais uma vez vê-se a receita padrão dos roteiros biográficos: a trama se baseia na contação da história da vida do protagonista a partir de flashbacks posteriores a uma cena da velhice ou da morte do biografado. Após vermos o assassinato de Gandhi em meio a uma multidão de fiéis (na década de 50), somos transportados para o fim do século XIX, quando da viagem do então advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi pela África do Sul, e a percepção de que seu povo, colonizado pela coroa britânica na época, era reprimido e visto como inferior pelos colonizadores. Começa aí a extensa e vitalícia luta de Gandhi pelos direitos humanos e pela igualdade religiosa, racial e étnica dos indianos.

Mais de 50 anos de sua vida são retratados, sem que a história se torne episódica ou cansativa. O diretor Richard Attenborough consegue ser sutil nas passagens de tempo, trabalhando em total sintonia com as outras áreas da equipe de produção. O contexto histórico é constantemente alterado (devido ao tempo dramático que se passa no roteiro) e temos a real impressão de que tudo mudou, mesmo sabendo que o fenômeno nada mais é do que fruto de um belo trabalho de equipe, composta por experts na maquiagem, figurino, fotografia, direção de elenco etc.

O segundo ato do filme mostra a volta de Gandhi à Índia e a decisão de lutar junto com seu povo pela emancipação da nação. Suas palavras de acalento, esperança e paz durante os inúmeros discursos persuadiram os indianos a lutar sem armas, a não reagir, a impressionar os tiranos ingleses com gestos de paciência e paz diante das agressões. A principal arma de luta contra a opressão defendida por Gandhi era a serenidade e a persistência.

Todo o país foi conquistado pelo carisma de Mahatma (nome pelo qual passou a ser chamado, significando “A Grande Alma”, em sânscrito). Seus ideais de uma revolução pacífica conquistaram não apenas a população da Índia, mas uma legião de seguidores pelo mundo todo, tornando o homem franzino e de pequena estatura numa das figuras mais importantes que já passaram pelo Planeta Terra no último século.

A força interna de Gandhi e sua persistência pela liberdade do país condicionadas a manutenção da premissa da paz levaram a Índia a independência, mas, em contrapartida, causaram uma segregação interna, dividindo o país entre hindus e muçulmanos, que posteriormente criaram o Paquistão. O terceiro e último ato do longa mostra o esforço de Gandhi, já idoso, para acabar com a desigualdade religiosa dentro do território indiano (através de greves de fome) e seu assassinato (que já declaro ser por motivos fúteis).

O grande destaque do filme fica por conta da atuação mais que fenomenal de Ben Kingsley, que inclusive levou a estatueta de Melhor Ator para casa naquele ano. Quem não conhecia a história de Gandhi (como eu) passa a confiar que o verdadeiro Mahatma foi em vida exatamente como a atuação de Kingsley aponta. Ele consegue medir a sabedoria e a ironia necessárias ao personagem de maneira equilibrada e assustadoramente convincente. Além do elenco, dou destaque para a trilha sonora, obviamente típica da Índia, que permeia a vida de Gandhi e consegue ilustrar cada fase perfeitamente, através de acordes e ritmos que dizem muito do momento do personagem. Para finalizar, gostaria de chamar a atenção para a cena do fuzilamento dos indianos, episódio verídico que matou milhares de habitantes, numa ofensiva inglesa inesperada e estúpida. Trecho de arrepiar.

Naquele mesmo ano, ainda concorreram ao posto de Melhor Filme mais 4 produções. São elas: O Veredito (The Veredict), Tootsie, Desaparecido – Um Grande Mistério (Missing) e E.T. – O Extraterrestre (E.T. The Extra-Terrestrial), este último grande aposta do Oscar, mas derrotado (justamente) por Gandhi.


GANDHI
LANÇAMENTO: 1982 (ÍNDIA/ REINO UNIDO)
DIREÇÃO: RICHARD ATTENBOROUGH
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 9,6

2 comentários:

Tô Ligado disse...

Fala Gui blz?!

Bons filmes não essa de tempo né? Existem filmes que tem cerca de uma hora e a gnt não vê a hora de acabar logo.

Ow, li aí que este filme derrotou ET. Deve ser muito bom mesmo, pois até hoje eu acreditava que ET havia levado a estatueta de melhor filme.

No TL tem um Mais Mais, td vez que faco essas postagens lembro de ti... passe lá depois.

Abracos

Rodrigo Mendes disse...

Olá GUI!

Este filme do Sir. Attenborough é realmente um clássico. Um filme definitivo sobre a vida de Ghandhi.

Kingsley está perfeito e o filme tbm é algo que o diretor planejava há anos!

Abs.
Rodrigo