22 junho 2010

Krueger (bonzinho) volta às telonas

Para quem não acompanhou a saga do jardineiro assassino com navalhas no lugar dos dedos criado nos anos oitenta por Wes Craven, a nova versão de A Hora do Pesadelo, lançada em maio desse ano, se mostra uma produção redonda, bem feita. Porém, os aficionados por um dos maiores clássicos do terror de todos os tempos têm todo o direito de reclamar que o novo Freddy Krueger não possui a mesma crueldade, a mesma criatividade e, principalmente, a mesma inverossimilhança de antes.

Queimado vivo pelos pais de algumas crianças que viviam na rua Elm, e que foram assassinadas pelo serial killer, Freddy mata as crianças crescidas da fatídica localidade sem razão, apenas pelo fato de estarem no lugar errado. Este é o grande lema do matador: a caçada injustificável, o matar pelo simples fato de matar, motivo omitido pelo diretor Samuel Bayer na refilmagem do clássico trash.

A história original já não encontra argumentos concretos para explicar como o assassino consegue, depois de morto, entrar nos sonhos dos jovens e machucá-los, fazendo com que seu ataque se torne verdadeiro no mundo real. A versão politicamente correta deste ano procura dar razões, justificar a conduta de Freddy, humanizando a criatura.

A trama do remake conta a trajetória de alguns jovens que, coincidentemente, andam sonhando com um mesmo homem que os ameaça e os chama para ficar com ele. Com o passar do tempo, alguns deles começam a morrer misteriosamente: durante o sono, são atacados, mas não há ninguém por perto. O problema começa por aí: não há um único protagonista, para quem se pode torcer e com quem se pode sofrer junto, uma vez que os personagens usados como foco narrativo morrem para dar lugar para outros, e assim sucessivamente, o que confere uma falta de continuidade e fragilidade do roteiro.

A Hora do Pesadelo de vinte e seis anos atrás se baseia na luta de Nancy, uma das garotas atormentadas por Krueger, contando sua história como foco central, além das de seus amigos, como trama secundária, prática mais vantajosa para se contar uma história no cinema. As comparações não são muito saudáveis mas, neste caso, tornam-se necessárias, já que o novo “A Hora do Pesadelo” já estreou com o rótulo de remake

Por razões desconhecidas, apenas fundadas em boatos, especula-se que não foi possível inserir no roteiro mortes muito violentas por causa da classificação etária, o que impede que comparações com a versão de 1984 deixem de ser feitas: enquanto naquele o susto é constante e o sangue abundante (clima muito ajudado pela excelente trilha sonora à la anos 80), este beira o cômico em diversos trechos.

As atuações continuam sendo primárias, dignas de um bom filme B, o que não quer dizer que a qualidade da produção como um todo seja prejudicada por este motivo. A incompetência do roteiro versão anos 2000 está na forma com que a imagem de Krueger é construída ao longo da trama e os recursos técnicos utilizados pela equipe de produção para distinguir o que é sonho do que é realidade.

Já que a luta pela sobrevivência dos personagens está na capacidade de evitar o sono, é imprescindível que o espectador fique na dúvida entre o que é o mundo real e o mundo dos sonhos, recurso ignorado pelo diretor Samuel Bayer, que distingue através de efeitos cromáticos as duas realidades (nem é preciso dizer que o longa original conseguiu essa distinção). Pelo visto, se a intenção era apresentar Freddy para os novos fãs do terror, o filme não conseguiu alcançar sua missão, já que o assassino é bem diferente do que foi mostrado no longa; mas se o diretor quis assustar, errou a mão mais ainda.

OBS: Reparem em uma das vítimas de Freddy chamada Glen, namorado da protagonista, interpretada por ninguém mais ninguém menos que Johnny Depp em seu primeiro papel no cinema. Ele tinha 21 anos.

A HORA DO PESADELO (A NIGHTMARE ON ELM STREET)
LANÇAMENTO: 1984 (EUA)
DIREÇÃO: WES CRAVEN
GÊNERO: TERROR
NOTA: 8,0

A HORA DO PESADELO (A NIGHTMARE ON ELM STREET)
LANÇAMENTO: 2010 (EUA)
DIREÇÃO: SAMUEL BAYER
GÊNERO: TERROR
NOTA: 5,0

Um comentário:

Tô Ligado disse...

Cara, eu tô louco pra assistir esse filme. Devo assitir esse fds ainda. te conto se é tão bom ou tão péssimo assim.

Abraços