25 março 2010

It's not too complicated!!

, OEu sempre critiquei comédias românticas por elas traduzirem, numa série de fatores, inúmeros motivos para que você saia do cinema, ou desligue o DVD, sem o menor contentamento ou vontade de repetir a dose. Assim como os livros de auto-ajuda (blá!!), as comédias românticas são doses cavalares de água com açúcar, que pretendem aconselhar, mas acabam deprimindo mais ainda, através de exemplos estereotipados.

Em 2009, porém, me deparei com uma exceção: o filme "500 Dias com Ela", do estreante Marc Webb, que trata com realismo e honestidade o amor e seus efeitos nas pessoas. “Uma história de amor que tem como pressuposto não contar uma história de amor”, como o próprio protagonista desabafa no início do filme. Recomendadíssimo!!

Fiquei feliz ao decepcionar meu preconceito...

Com a mesma sensação, fui ao cinema esta semana assistir Simplesmente Complicado, da melosíssima Nancy Meyers, confiante num roteiro que fugisse das convenções sentimentais que assolam o cinema hollywoodiano, e as suas próprias obras anteriores, como O Pai da Noiva 2 (1995) e Alguém tem que Ceder (2003). Mas me enganei. Meu preconceito foi corroborado pela sequência de inutilidades exibida.

Jane (Meryl Streep) é mãe de três filhos e está celebrando 10 anos de sua separação com o advogado Jake (Alec Baldwin), com quem mantém uma relação aparentemente amistosa, quando, na festa de formatura do filho mais novo, bebe além da conta a acaba na cama com o ex-marido!

O problema é que o personagem de Baldwin está casado com outra mulher (bem mais jovem que Jane) e, a partir desta relação casual, começa a se “reapaixonar” pela ex. Porém os dois não contavam com a aparição de Adam (Steve Martin), arquiteto de Jane, que também se apaixona pela protagonista (arquiteto este que, ao reformar a casa de Jane, busca, numa metáfora medíocre, reformar a própria vida da protagonista...coisas de Meyers!)

O filme todo é uma terapia, com longos conselhos, aflições, angústias da meia idade(e as caras e bocas de Streep). Ouso reclassificar o longa como um Romance-Cômico, já que as nuances românticas/dramáticas são mais trabalhadas do que propriamente a comédia, mesmo que num tom claramente superficial, cujos cenários são repletos de representantes clássicos da burguesia americana, ignorando a existência das outras classes sociais.

A sequência de conflitos familiares poderia ter sido mais bem aproveitada, no que diz respeito a profundidade na abordagem destes conflitos, já que, assim como o próprio nome do filme sugere, mas não cumpre, a vida, e suas relações e sentimentos, é por vezes simples, ao mesmo tempo em que bem complicada.

Situações “clichê” são frequentemente retomadas, através de uma irritante enxurrada de estereótipos, como o grupo de amigas que se reúnem depois da transa para falar mal do ex da afetada, a protagonista que já sabe o que fazer, mas recorre ao amigo-terapeuta só para preencher cenas, a insegurança dos personagens que já passaram dos 40, ou 50, diante do risco de perderem seus parceiros para jovens sedutores etc.

Destaco como o ÚNICO motivo interessante para reservar 120 minutos do deu tempo assistindo Simplesmente Complicado é a atuação de Meryl Streep, que continua absorvendo todo e qualquer personagem e conseguindo transmitir a carga dramática que ele possui (mesmo que isso signifique representar uma madame supérflua e presa aos conceitos do “branco-rico”).

Parece que algo de Julie Child (último personagem de Meryl no cinema, no filme Julie & Julia, de 2009) ainda permanece na atriz, que se mostra habilmente treinada na gastronomia (também francesa!) como dona de uma padaria de luxo. É uma pena que um talento como o dela seja desperdiçado num texto tão pobre!!

Steve Martin parece que gravita numa outra dimensão durante o filme. Absorto na tentativa de não fazer o público rir (já que interpreta um divorciado/nerd/tímido), ele não atua, vegeta. Seu potencial emerge quando a comédia ganha um destaque, mas logo afunda no seu lago do esquecimento novamente.

Um filme fraco, do ponto de vista crítico, mas que ganha nas atuações (inclusive de Alec Baldwin e seu jeito canastrão de ser) e no aspecto comercial, já que Nancy Meyers consegue, mais uma vez, atingir seu público alvo, as “senhoras” de meia idade, que se identificam com Jane, e podem sonhar durante a sessão em serem disputadas por dois homens ao mesmo tempo (talvez esse seja o sonho da diretora, que insiste tanto nesse tema).

Qual será a próxima empreitada de Meyers? Quem sabe ela não se junte a Stephanie Meyer (que, ironicamente, tem o mesmo sobrenome) e as duas lancem uma série de TV, ou um filme sobre os conflitos dos vampiros amantes e sensíveis de meia idade...pelo menos conseguem lotar as salas de cinema....

OBS: Acho que eu era o único expectador abaixo dos 40 anos na sala (e um dos poucos homens)...

SIMPLESMENTE COMPLICADO - IT'S COMPLICATED

LANÇAMENTO - EUA (2009)
DIRETOR: NANCY MEYERS
GÊNERO: COMÉDIA ROMÂNTICA
NOTA: 6,0

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