31 agosto 2010

TOP 1961 - Se Meu Apartamento Falasse

Se o apartamento de C.C. Baxter (protagonista vivido por Jack Lemmon) falasse, acho que ele preferiria ficar quieto diante da infinidade de situações (constrangedoras) vividas em seu interior. É que Baxter, funcionário de uma seguradora em Nova York, empresta sua morada, por ambição profissional, para que seus chefes se encontrem com as amantes (geralmente funcionárias da empresa). Sua submissão é tamanha que, em qualquer horário da noite ou do dia, ele sai de casa e fica zanzando pela rua até que os "inquilinos" se satisfaçam. Enquanto sua imagem de bom moço vai ganhando proporção dentro da empresa e sua promoção fica cada vez mais evidente, ele conhece a Srta. Fran Kubelic (Shirley MacLaine), ascensorista da empresa, que, por coinscidência, é uma das amantes do Sr. Sheldrake (Fred MacMurray), diretor chefe do departamento de Baxter, ou seja, sua catapulta para o sucesso. Detalhe: ele também é um dos frequentadores do famoso apartamento!!

Por meio de um roteiro simples, o diretor Billy Wilder consegue explorar o senso crítico do espectador, que não só assiste uma comédia romântica sobre um paspalho que faz de tudo para se promover profissionalmente e acaba se apaixonando, mas também um retrato do American Way of Life, pulsante na época.
O moço solitário, sem família, que contrói falsos papéis sociais para se auto valorizar conscientemente (é visto como o garanhão do prédio [por levar até mais de uma garota por noite a seu apartamento] e como o executivo bem sucedido na empresa [uma vez que é um mero puxa-saco interesseiro]) é o modelo de americano deslumbrado com as possibilidades de uma vida capitalista num país democrático e desenvolvido como os Estados Unidos.

A história se desenvolve graciosamente, na medida certa para que acompanhemos a ascensão profissional e a fossa pessoal do protagonista, que brilha numa interpretação comovente (em alguns momentos no filme, parece ser até mais importante que a verdadeira estrela da película: o apartamento). Rótulos a parte, o drama/comédia/romance que desbancou quatro concorrentes (Filhos e Amantes [Sons and Lovers], Entre Deus e o Pecado [Elmer Gantry], Álamo [The Alamo] e Peregrinos da Esperança [The Sundowners]) é uma obra prima da história do cinema, que não pode deixar de ser degustada. Atenção para dois momentos:

1) A introdução, que mostra um panorama da selva de pedras que era Nova York (já na década de 60), enquanto o narrador (o próprio Baxter) contabiliza alguns dados estatísticos (já começa daí a inspiração crítica do filme sobre a excessiva solidão diante da imensidão urbana);

2) Baxter preparando um jantar para ele e Fran, no qual o macarrão é escorrido numa raquete de tênis (cena hilariante). Aliás, como já vinha mostrando em suas outras produções, Wilder consegue tirar graça até de pedra. Seu texto é aguçado, afiado e deliciosamente cômico.


Um dos únicos pontos negativos é o desfecho da história, que se mostra previsível demais, mesmo sendo criativo. Acho que o problema é a minha implicância com finais felizes...tenho que melhorar isso...

Observação: Se Meu Apartamento Falasse é o último filme vencedor do Oscar a ter sido rodado em preto e branco (com exceção de A Lista de Schindler, da década de noventa, que não é colorido por opção). Ah, e a tela de "The End" continua sendo usada (a única obra até agora que não usou esta técnica foi O Maior Espetáculo da Terra [apesar dele já ser colorido]).

SE MEU APARTAMENTO FALASSE (THE APARTMENT)
LANÇAMENTO: 1960 (EUA)
DIREÇÃO: BILLY WILDER
GÊNERO: DRAMA/COMÉDIA/ROMANCE
NOTA: 9,3

3 comentários:

Marcia Moreira disse...

Puxa, Gui, agora fiquei bem curiosa em assistir a este filme. Valeu pela postagem.

Leonardo disse...

Excelente filme, parabens pelo seu post.

http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

Emmanuela disse...

Este é um filme que adoro intensamente, Lemmon e MacLaine estão igualmente inesquecíveis. Polêmica comédia de Wilder, encantadora ao extremo.