27 novembro 2012

DDF4. Casablanca

DDF4. Um filme que você considera um clássico


Depois de ficar sabendo do aniversário de 70 anos de uma das mais valorizadas produções da história do cinema, resolvi rever Casablanca, filme com o qual eu tive meu primeiro (e até então último) contato há mais de dois anos. Foi no dia 18 de julho de 2010 que escrevi aqui no 1/3 sobre o vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1944 com uma insegurança de quem não havia descoberto ainda a profundidade dramática deste filme. 

Ao reassistir à obra, fiquei pasmado com o preciosismo e a ousadia da direção, que conseguiu levar às telonas um conteúdo até então ignorado pelos roteiros e debochado pelas grandes produtoras maniqueístas. Quem imaginaria no início da década de quarenta que mocinhos tivessem seu lado vilão, ou que o "felizes para sempre" pudesse tomar uma outra forma na ficção. Talvez mais próxima da realidade?

A ideia de que o fingimento consentido que o cinema proporciona pudesse se aproximar mais do cotidiano do espectador e de que os personagens principais pudessem sofrer,inclusive depois do The End, aterrorizava o conservadorismo dos conglomerados que ainda viviam na época do cinema mudo. Hoje Casablanca permanece intacto, inteiro, coeso e lindo. O ressoar de sua importância para as gerações que seguiram após seu lançamento ecoa até hoje nas escolas de formação. 

Abaixo, segue o texto publicado há dois anos no 1/3 sobre Casablanca. Minha visão pode parecer um pouco soturna diante da luz que o filme emite, mas, como canta o personagem de Frank Sinatra na trilha mais importante do filme, com o passar do tempo (As Time Goes By), mudamos nossas concepções, passando a ver mais claramente o que antes era ofuscado pelo "eu" passado. Sendo assim, e diante da ideia de que estamos em constante evolução, peço a liberdade de alterar a nota dada à Casablanca quando o vi da primeira vez! (a nota havia sido 8).

CASABLANCA
LANÇAMENTO: 1943 (EUA)
DIREÇÃO: MICHAEL CURTIZ
GÊNERO: DRAMA/ ROMANCE
NOTA: 9,5

texto publicado no dia 18/07/2010):

Depois de assistir Casablanca, fiquei com medo. Sério! Fiquei com medo de escrever aqui no 1/3 que não gostei muito do filme diante de uma imensidão de opiniões contrárias. Pelos fóruns de cinema da Internet, descobri que todos gostam dele. Cheguei até a duvidar da minha capacidade de analisar cinema. Afinal, pergunto a vocês: qual é a grande qualidade desse suposto longa imbátivel?

Considerado o segundo melhor filme da história (superado apenas por Cidadão Kane), Casablanca é um filme “pequeno”, diante das superproduções hollywoodianas que começavam a despontar, não possui cenas externas, ainda é preto e branco e tem um roteiro que, para mim, não é super inovador como apontam os críticos. Apesar de admitir que a forma como foi dirigido e editado permanece até hoje como referência para o cinema contemporâneo, acredito que Casablanca é superestimado em demasia.

Humphrey Bogart (em sua primeira participação no TOP 1/3) é Rick Blane, dono do Café Rick’s, localizado na cidade de Casablanca, no Marrocos francês. A localidade funciona como rota de fuga para os que querem se livrar do nazismo e tentar uma nova vida na América. O mercado negro local funciona como disponibilizador de passes, documentos que dão acesso à Lisboa, para que então os viajantes possam trilhar sossegados para a salvação americana. Mas para Rick é diferente. Sua ambição é continuar com seu negócio em Casablanca, ganhar dinheiro e esquecer Ilsa Lund (Ingrid Bergman), antigo amor parisiense que simplesmente o deixou, sem nenhuma justificativa.

Para sua surpresa, um dos mais ferrenhos combatentes do nazismo, Victor Lazlo (Paul Henreid), refugiado de quase toda a Europa, surge em Casablanca, a fim de arranjar uma carta de liberdade para fugir para o Novo Mundo com sua esposa, uma linda e adorável loira chamada Ilsa Lund. O primeiro encontro dos dois após a separação em Paris se transforma em uma linda cena, na qual a sutileza e o mistério (já que o espectador não sabe o porquê de tamanho constrangimento entre eles) permeiam as falas.

Já que Lazlo não consegue comprar seu passaporte para a liberdade no mercado clandestino da cidade e Rick é detentor de um passe para Lisboa, ele e Ilsa passam a insistir para que o ex-amante dela venda o papel para os dois. O impasse de todo o filme é: se Rick der ou vender o passe, ficará sem Ilsa, que irá embora com Lazlo. Se ele se recusar, Lazlo será morto e Ilsa ficará infeliz, já que ele percebe que ela ama o marido (e também o ama, fato comprovado numa declaração de amor da protagonista, quando ela o conta porque o deixou em Paris).

Para piorar, Rick tem que se desfazer do passe, uma vez que ele é o principal suspeito de estar com o documento (que era de um rebelde morto pela polícia). Por falar nisso, os diálogos entre Rick e os guardas (alemães ou franceses) é de uma inteligência irônica surpreendente, e como eu adoro ironia, foram os momentos mais memoráveis do filme para mim. Sem dar lição de moral no final (mania feia dos filmes antigos [e de alguns novos também]), o roteiro de Casablanca supera o egoísmo do homem apaixonado e a covardia do soldado com medo da morte e apresenta uma história comovente (mesmo achando que a atuação de Humphrey não foi lá aquelas coisas) de duas pessoas que se amaram no passado e que tentam encontrar formas de manter esse amor.

A trilha sonora é deslumbrante. “As Time Goes By”, canção composta especialmente para a ocasião, é a cara do longa, tem sua essência, representa a emoção das lembranças de uma história de amor e a melancolia de uma possível separação. É um amor impossível? Eu diria que não, nem mesmo nas circunstâncias externas em que os personagens se encontravam, porém, como bem disse Rick na última cena: “Nós sempre teremos Paris!”.

Outras falas, expressões e cenas do filme superaram a passagem dos anos e foram sendo transmitidas de geração em geração, até chegarem aos cinéfilos contemporâneos. São algumas delas: “Play it again, Sam”, pedido de Rick para que seu pianista tocasse As Time Goes By novamente; “Não costumo fazer planos a longo prazo”, que demonstra a falta de perspectiva de Rick diante de seu futuro; “Eu me lembro de todos os detalhes. Os alemães vestiam cinza e você, azul”, fala saudosista de Ilsa para Rick; “Tantos bares, em tantas cidades em todo o mundo, e ela tinha que entrar logo no meu”, lamento de Rick ao acabar de se encontrar com Ilsa; “Isso foi o barulho de um canhão ou o meu coração que deu um salto?”, num flashback dos momentos vividos em Paris; “Beije-me. Beije-me como se essa fosse a última vez”, na despedida dos amantes; e talvez a expressão mais copiada e usada diariamente pelas pessoas: “Isso é o começo de uma grande amizade”, a última fala do longa, dita por Rick ao policial que o ajudou.

Parece que eu elogiei bastante o filme, mesmo com o desânimo do começo do texto, né? É, eu tenho que admitir que esse tal de Michael Curtiz (o diretor) conseguiu o que muitos tentaram: fez escola, ensinou a seus sucessores o que é cinema de qualidade e como é possível transformar uma boa história em uma produção inesquecível. Acho que o problema é que minha expectativa era muito grande. A culpa é minha. O filme é indispensável a quem curte cinema, ele não é ruim e não deve ser perdido sob nenhum pretexto.

Naquele ano, concorreram com Casablanca (sem nenhuma chance de vitória): Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), A Canção de Bernadette (The Song of Bernadette), Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls), O Diabo Disse Não (Heaven Can Wait) e Nosso Barco, Nossa Alma (In Which We Serve).

4 comentários:

renatocinema disse...

Casablanca é mágico, imortal e obrigatório.

Um marco.

Belo texto. É sempre bom quando revemos e fazemos novas leituras de nossa própria recepção sobre uma obra de arte.


abs

Tô Ligado disse...

Gosto é gosto... e geralmente os ganhadores de Oscar, nem sempre são tão bom quanto são pintados.

Maxwell Soares disse...

Olá, Gui. Que excelente poste, cara. Parabéns pelo blogger. Eis um filme que merece, sim, ser revisto. Seguindo já. Não poderia ser diferente. Dê uma passadinha lá, camarada. Até...

Anônimo disse...

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