13 abril 2010

O lado cego do Oscar

Não seria justo postar um comentário sobre o filme Coração Louco, que consagrou Jeff Bridges como melhor ator no Oscar 2010, sem dar a devida atenção a Um Sonho Possível, filme que deu a Sandra Bullock o título feminino. Na verdade eu não queria ter que usar espaço tão nobre quanto esse e dedicar meu tempo a baboseiras, mas aí vai:

Mais do mesmo! É com isso que o diretor John Lee Hancock conseguiu alçar prêmios importantes no início do ano e, o principal: um oscar. Talvez pelo fato de ser um daqueles filmes que servem apenas para emocionar e cutucar os recôncavos altruístas de cada espectador, o longa beira o artificial (não fosse pelo fato de se tratar de uma história verídica), brincando com o antagonismo entre dois níveis sociais: a riqueza caridosa e a miséria.

Um Sonho Possível, ou Blind Side (para os americanos) conta a história do atual atacante dos Baltimore Ravens, Michael Oher, ou Big Mike, que teve sua infância suprimida pelos desvarios da mãe viciada, sua adolescência perdida pelas constantes trocas de lares adotivos e a miséria absoluta. Sua realidade é transformada assim que se depara com a família Tuohy, encabeçada pela morna Sandra Bullock, que interpreta Leigh Anne, uma perua consumista de visões solidárias (que ganhou, misteriosamente, o Oscar de melhor atriz).

O último, e não menos insensível, padrasto de Big Mike, resolve matriculá-lo numa escola cristã, a fim de que seus dotes esportivos sejam desenvolvidos e bem aproveitados (e rendam lucro). Mesmo muito bom no futebol americano, as notas do histórico de Michael não são suficientes para sua aprovação, mas, em vista de um super talento, o técnico resolve dar uma chance ao garoto, que passa a dividir o mesmo espaço com crianças ricas e brancas (Big Mike é negro, obeso e muito alto).

O ator Quinton Aaron atua na medida certa para dar às expressões de Big Mike o grau adequado de dramaticidade, diante de tanta injustiça, preconceito e discriminação contra a personagem, que só encontra felicidade após a "adoção" de Leigh Anne, que não mede esforços para que o garoto tenha tudo que nunca pôde ter, como um quarto, uma cama, roupas limpas, comida, e o mais importante: o amor de uma família. É através da união da nova família, agora composta também por Big Mike, que o garoto consegue desenvolver sua inteligência, sua fala e seu potencial esportivo, tornando-se atacante de um dos principais times de futebol americano dos Estado Unidos.


Mais um daqueles dramalhões norte americanos, que emplacam bilheteria, mas são rapidamente esquecidos pela crítica e pelo grande público. Acredito plenamente que o Oscar pode se enganar e acho que foi o caso de Sandra Bullock, que, ao meu ver, está bem melhor na cômica Margaret Tate, em A Proposta, do que na insossa e fútil Leigh Anne. Parabenizo Quinton Aaron, pela brilhante inércia, e saliento minha indignação com a vitória de Sandra Bullock. Uma pena não premiar Meryl Streep, que se mostrou adorável em Julie & Julia!

P.S.: Explicação do nome do filme: quando um quarterback destro se prepara para um passe, o atacante esquerdo de seu time deve proteger seu lado cego ("Blind Side"), que seria como o ponto cego de um carro, do ataque do time oponente. Big Mike, pelo seu porte físico, é um craque na defesa do quarterback, impedindo a passagem de qualquer jogador (já que todos são menores que ele). Mais uma vez, uma tradução medíocre para o português.

UM SONHO POSSÍVEL (THE BLIND SIDE)
LANÇAMENTO: 2009 (EUA)
DIREÇÃO: JOHN LEE HANCOCK
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 6,5

2 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Sinceramente, uma insanidade premiar a Bullock visto que era a mais fraca de todas as indicadas...eu acho que a STREEP OU MULLIGAN eram mais merecedoras...

Ótimo teu texto, mostrou o que o filme é de fato..

belo blog!

Brentegani disse...

Então né, apesar de (como você sabe) eu adorar a Sandra Bullock, também discordo de uma premiação da dimensão do Oscar, para este papel... com certeza a atuação de Streep em Julie & Julia estava infinitamente melhor (apesar de eu não ter gostado do filme em si), mas a atuação dela foi perfeita.
Parabéns pelo texto moço!
bjs