04 maio 2010

Mais Quentin do que nunca

Pra eu que pensava que já tinha visto a obra-prima de Tarantino ao assistir Pulp Fiction - Tempos de Violência (1994), me surpreendi quando, semana passada, terminei os 162 minutos de Bastardos Inglórios, com a sensação de que esse tempo passou como um raio que rasga o céu em segundos. Cada cena, cada passagem dramática foi bem articulada para que o espectador não se cansasse em nenhum momento. Eu, que não tinha visto o longa antes da premiação do Oscar, passo a questionar minha predileção por Avatar e a me interrogar se o mais justo não seria dar a estatueta-mor a Quentin.

Para quem não conhece, o filme conta a história dos Bastardos, grupo judeu de extermínio dos nazistas, que existe apenas para matar. Outro objetivo que se não a eliminação de qualquer alemão avistado não justifica sua existência. O grupo, comandado por Aldo Rayne (Brad Pitt) é treinado para caçar e matar (sem piedade) todo nazista que se colocar em seu caminho, além de retirar seu escalpo (coro cabeludo). O objetivo principal de cada bastardo é conseguir colecionar a marca de 100 escalpos nazistas.

Do outro lado está o coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz), que consegue ser, ao mesmo tempo, amado, temido e odiado por quem o assiste (atuação que concedeu, para ele, a estatueta de ator coadjuvante, com louvor). É ele quem persegue vorazmente os Bartardos durante toda a trama, que se dá em capítulos, como sempre nos filmes de Tarantino. É ele também quem mata a família da judia Shoshanna Dreyfus (Mélanie Laurent), arquiteta de um plano mirabolante para se vingar dos capangas do Fuhrer. Suposta dona de um cinema na Paris ocupada durante a Segunda Guerra, Shoshanna conta com a ajuda coincidente dos Bastardos que, ao saberem que a premiére de um longa alemão (declaradamente alusivo ao nazismo e à perseguição de judeus) se dará num peqeuno cinema parisiense (que, por acaso, é o de Shoshanna) resolvem explodir o local com todos dentro, sem saber que a pseudo proprietéria pretende incendiar o cinema.

Para ajudar os homens de Rayne, a atriz alemã e agente anti-nazista infiltrada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger) conta com seu garbo e elegância (e sensualidade também) para enganar pobres soldadinhos nazistas, que se rendem aos seus encantos, são ludibriados e acabam caindo nas mãos dos Bastardos. Além destas personagens, Quentin brinca com a realidade (sem se ater com fidelidade a ela, o que pode ser comprovado no brilhante final) ao construir um Adolph Hitler e um Joseph Goebbels com sua visão nerd-cinéfila.

A violência é ponto forte nos filmes de Tarantino, que consegue amenizar, ou tornar menos cruel, uma decapitação, ou uma cabeça sendo estourada por um taco de baseball, por exemplo, transformando o "gore" em "cool", o intragável em admirável. Através das incontáveis relações que Quentin faz com outros filmes e diretores, em quatro línguas (inglês, alemão, francês e um pouco de italiano), seu amor pela sétima arte transborda em homenagens que se confundem com seu próprio estilo, resvalando no cinema único e competente do diretor, que muitas vezes foi taxado de esquisito e excêntrico (naõ que eu não concorde).


Os três capítulos do filme se encontram e formam uma única massa dramática, contendo atuações medianas e excepcionais, nunca ruins. O caricatural Aldo Rayne confere a Brad Pitt uma de suas mais consistentes atuações, com sua caipirice sulista americana e seus trejeitos desajeitados. Num nível totalmente superior está o Hans Landa construído por Waltz de uma maneira transcendente. O melhor antagonista, que brinca livremente com a ironia, a crueldade, a bondade e o medo que instaura em quem o assiste. Aliás, ironia é o que não falta no texto do longa, pois a mentira e a enganação estão presentes em todo trecho. Nós sabemos o que é verdade e o que não é, e, mesmo asism, o diretor consegue nos surpreender quando declara a realidade para os próprios personagens.

Além de divertidíssimo e cruelíssimo ao mesmo tempo, Bastardos Inglórios consegue fazer aquilo que todos os outros filmes sobre a Segunda Guerra não conseguiram: dar voz e vez para os judeus. Essa visão heróica de quem por tantos anos foi considerado vítima se sobrepõe ao clichê hollywoodiano de idolatrar os americanos (o que, mesmo que indiretamente, Tarantino também faz, uma vez que o grupo Bastardos é composto por sobrinhos do Sam).

Para finalizar, gostaria de destacar dois momentos artificiais do filme, tecnicamente falando: num dos milhares de trechos em que um bastardo aparece arrancando o escalpo de um nazista, ficou muito evidente que se tratava da retirada de um molde de plástico colocado sobre a cabeça e, quase no fim do filme, no momento em que um dos capangas de Rayne atira freneticamente contra um dos líderes do Terceiro Reich, deu pra perceber claramente que o personagem atirava contra um boneco que se despedaçava, assim que mais balas o acertavam. Do mais, simplesmente maravilhoso!

BARTARDOS INGLÓRIOS - INGLORIOUS BASTARDS
LANÇAMENTO: ALEMANHA/ EUA (2009)
DIREÇÃO: QUENTIN TARANTINO
GÊNERO: GUERRA
NOTA: 9,5

5 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Ainda, infelizmente, não pude conferir, mas da semana que vem não passa.

Sou fã do universo de Tarantino!

Abraço

Brentegani disse...

Nossa, mas se eu soubesse que era tão bom teria assistido antes de te emprestar. rs Então Gui, mas... quanta violência hein...
Texto sempre 10 Guri! Vou assistir e depois a gente discuti. =P
Bjus

Tô Ligado disse...

Cara, sempre quis assisitir esse filme, mas nunca consegui!

Aff

Vamos ver se na minha próxima folga eu tiro meu atrazo.

Bom fds|!
Brunno

Alan Raspante disse...

Ahh BASTARDOS é magnífico ! xD

Aline Guevara disse...

Ahh, sabia que você ia gostar de Bastardos!
É um filme bem original e me surpreendi por ter ido tão mal no Oscar. Mas é muito bom ver que Tarantino não perdeu o jeito e continua fazendo filmes excelentes!